SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O partido pró-democracia mais antigo de Hong Kong, fundado em 1994, anunciou sua dissolução neste domingo (14), após seu congresso anual. O partido costumava vencer as eleições legislativas em toda a cidade e pressionar a China por reformas democráticas e pela defesa da liberdade.
"Anunciamos oficialmente a dissolução e o encerramento" das atividades do Partido Democrático, declarou seu presidente, Lo Kin-hei, em uma entrevista coletiva. Dos 121 votos apurados, 117 foram a favor da dissolução, enquanto 4 se abstiveram. "Como grupo, acredito que podemos concluir que as atividades do Partido Democrático terminarão hoje", disse Lo, presidente do partido que já foi a força de oposição mais sólida da cidade.
O Partido Democrático foi criado no final do domínio colonial britânico em Hong Kong, quando os principais grupos liberais do território se uniram. "Somos profundamente gratos a todos os cidadãos que apoiaram o Partido Democrático nos últimos 30 anos", declarou seu líder.
Nos últimos anos, o governo de Pequim intensificou o controle sobre Hong Kong, especialmente após os protestos pró-democracia massivos e por vezes violentos de 2019.
Após a imposição de uma lei de segurança nacional, a oposição foi severamente enfraquecida e muitos ativistas pró-democracia estão agora presos ou exilados.
Membros seniores do partido disseram anteriormente à agência de notícias Reuters que foram abordados por autoridades ou intermediários chineses e instruídos a dissolver o partido ou enfrentar graves consequências, incluindo possível prisão.
O acordo "um país, dois sistemas" da China promete a Hong Kong um alto grau de autonomia. Nos últimos anos, porém, as autoridades têm usado novas leis de segurança para prender dezenas de opositores, dissolver grupos da sociedade civil e fechar veículos de comunicação.
Emily Lau, ex-presidente do Partido Democrático, lamentou o resultado da votação. "Por que uma organização que fez tanto por Hong Kong precisa terminar assim? Acho isso muito problemático", disse ela.
"Nunca conseguimos ter democracia. Nunca tivemos a chance de eleger nosso governo... Esperamos que o princípio de 'um país, dois sistemas' não continue a se enfraquecer cada vez mais. Esperamos que não haja cada vez mais pessoas sendo presas", disse Lau.
A votação para dissolver o partido ocorre uma semana depois de Hong Kong realizar uma eleição para o Conselho Legislativo "apenas para patriotas" e um dia antes de o magnata da mídia e crítico da China, Jimmy Lai, receber o veredito em um julgamento histórico sobre segurança nacional.
A decisão da China, em 2021, de reformular o sistema eleitoral de Hong Kong --permitindo que apenas aqueles considerados "patriotas" concorram a cargos públicos-- marginalizou o Partido Democrático, removendo-o da política convencional.
Em junho, outro grupo pró-democracia, a Liga dos Social-Democratas, anunciou sua dissolução em meio a "imensa pressão política".
Membros importantes do Partido Democrático, como Wu Chi-wai, Albert Ho, Helena Wong e Lam Cheuk-ting, foram presos ou mantidos sob custódia com base na lei de segurança nacional imposta pela China em 2020.
Alguns governos, incluindo os dos Estados Unidos e do Reino Unido, criticaram a lei, afirmando que ela tem sido usada para sufocar a dissidência e a liberdade individual. A China diz que nenhuma liberdade é absoluta e que a lei de segurança nacional restaurou a estabilidade em Hong Kong.