SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O gabinete do primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou nesta terça-feira (16) que qualquer ação judicial contra a rede de televisão britânica BBC é uma questão a ser tratada pela própria emissora. O governo reiterou ainda o apoio à independência do serviço público de radiodifusão.
As declarações ocorreram após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, formalizar um processo contra a BBC, nesta segunda (15), por difamação devido a trechos editados de um discurso que davam a entender que o americano incitou seus apoiadores a invadir o Capitólio em 6 de janeiro de 2021. O republicano pediu US$ 10 bilhões (R$ 54,1 bilhões) em indenização.
A ação amplia para o plano internacional a ofensiva de Trump contra veículos cuja cobertura ele considera falsa ou injusta. E segundo o governo de Starmer, o governo britânico não interferirá no caso.
"Qualquer ação legal é assunto da própria BBC. Eles deixaram claro que acreditam não haver fundamento para um caso de difamação ou calúnia, mas isso é algo que eles e suas equipes jurídicas devem tratar", diz nota divulgada pelo gabinete do premiê.
Ao mesmo tempo, o governo reforçou a posição em defesa da emissora pública. Ressaltou, no entanto, a importância de a BBC preservar a credibilidade.
"Sempre defenderemos o princípio de uma BBC forte e independente como uma emissora nacional confiável, que reporta sem medo ou favorecimento. Mas, como também temos afirmado de forma consistente, é vital que ela aja para manter a confiança, corrigindo erros rapidamente quando ocorrerem."
O processo movido por Trump afirma que a BBC o difamou e violou uma lei da Flórida que proíbe práticas comerciais enganosas e desleais. Ele busca uma indenização de US$ 5 bilhões por cada uma das duas acusações.
A BBC pediu desculpas a Trump por ter dado a impressão, em um documentário exibido no ano passado, que o presidente americano havia incitado uma "ação violenta" antes de seus apoiadores invadirem o Capitólio ?na ocasião, o Congresso estava reunido para certificar a vitória de Joe Biden, que havia derrotado Trump nas eleições de novembro de 2020.
O caso colocou o grupo no centro de uma polêmica e motivou as renúncias de seu diretor-geral e da chefe de sua emissora de notícias, a BBC News.
O presidente americano já processou outros veículos durante seu segundo mandato. Em setembro, Trump acusou o jornal The New York Times e quatro de seus repórteres de difamá-lo antes da eleição de 2024, afirmando que seus textos buscaram minar sua candidatura e sua reputação. Ao dizer que os textos foram publicados com "dolo específico", o presidente pediu indenização de pelo menos US$ 15 bilhões (R$ 81,2 bilhões).
Meses antes, em julho, Trump abriu processo contra o The Wall Street Journal, por uma reportagem que tachou de "falsa, difamatória, infundada e depreciativa" sobre uma suposta carta de aniversário do presidente ao financista acusado de abusos sexuais Jeffrey Epstein. Neste caso, o republicano pede ao menos US$ 20 bilhões (R$ 108,3 bilhões).