SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A polícia da Austrália afirmou nesta quarta-feira (17) que Naveed Akram, 24, terá de responder por 59 acusações, que incluem assassinato, lesão com tentativa de assassinato e terrorismo pelo atentado cometido no último domingo (14) na praia de Bondi, em Sydney.

Baleado por policiais durante o ataque, Akram saiu do coma no hospital em que foi internado. Ele deve falar por videoconferência a um tribunal local na manhã da próxima segunda (22). Seu pai, Sajid, 50, foi morto a tiros por agentes que chegaram à cena do ataque. A dupla matou 15 pessoas a tiros durante a celebração judaica do Hannukah, em um episódio que chocou a Austrália e expôs o aumento do antissemitismo no país. Outros 23 feridos continuam hospitalizados.

Também nesta quarta (17), o conselheiro de Segurança Nacional das Filipinas, Eduardo Año, afirmou não haver evidências de que os dois atiradores tenham recebido algum tipo de treinamento terrorista enquanto estavam no país asiático. Em um comunicado, Año disse que a duração da estada deles (28 dias) não teria permitido nenhuma preparação significativa.

O conselheiro declarou que o governo filipino investiga a viagem dos dois homens no período de 1º a 28 de novembro e está em contato com as autoridades australianas para determinar o propósito da visita. Ele classificou de desatualizados e enganosos relatos que retratam o sul das Filipinas como um bastião do extremismo islâmico.

Registros de imigração mostram que a dupla desembarcou em Manila e viajou para Davao, em Mindanao, uma região que sofre há anos com a presença de extremistas islâmicos. A polícia australiana declarou que os atiradores parecem ter sido inspirados pelo Estado Islâmico.

A polícia filipina e funcionários do hotel em que ficaram os suspeitos afirmam que ambos tiveram raras saídas do quarto -não teriam passado mais de uma hora seguida fora do hotel-, e não conversaram com outros hóspedes ou receberam visitas. O pai teria usado um passaporte indiano, e o filho, um australiano.

Trabalhadores do hotel ouvidos pela polícia relataram que o comportamento de ambos não foi suspeito em nenhum momento. Eles se lembram de embalagens de fast food no lixo do quarto e de os dois terem chegado ao local apenas com uma mala grande e uma mochila.

Desde o cerco de Marawi em 2017, uma batalha de cinco meses na qual o grupo Maute, inspirado pelo Estado Islâmico, tomou esta cidade do sul filipino e lutou contra as forças governamentais, as tropas federais degradaram significativamente os grupos afiliados ao EI, de acordo com Año.

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, enfrenta críticas de que seu governo de centro-esquerda não fez o suficiente para impedir a propagação do antissemitismo no país durante os dois anos da guerra Israel-Hamas. "Trabalharemos com a comunidade judaica, queremos eliminar e erradicar o antissemitismo de nossa sociedade", disse Albanese a jornalistas.

A gestão dele e os serviços de inteligência também estão sob pressão para explicar por que Sajid Akram teve permissão para adquirir legalmente os fuzis e espingardas usados no ataque.

Chris Minns, primeiro-ministro (equivalente a governador) do estado de Nova Gales do Sul, cuja capital é Sydney, disse que convocará o Parlamento estadual na próxima semana para aprovar reformas na legislação local de armas.

O governo estadual também analisará reformas que dificultem a realização de grandes protestos de rua após eventos terroristas, a fim de evitar mais tensões. "Temos uma tarefa monumental à nossa frente. É uma enorme responsabilidade unir a comunidade. Acho que precisamos de um verão de calma e união, não de divisão", disse.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse em um evento de Hanukkah na Casa Branca que estava pensando nas vítimas do "horrível ataque terrorista antissemita". "Nós nos unimos ao luto por todos aqueles que foram mortos e estamos orando pela rápida recuperação dos feridos."

Os funerais das vítimas do ataque começaram nesta quarta. Um deles foi o do rabino Eli Schlanger, assistente na sinagoga Chabad Bondi e pai de cinco filhos. Ele era conhecido pelo trabalho para a comunidade judaica de Sydney por meio do Chabad, uma organização global que promove a identidade e conexão judaica. Schlanger viajava para prisões e se encontrava com pessoas judias que viviam nas comunidades de habitação pública de Sydney, disse o líder judeu Alex Ryvchin.