SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ditador de Belarus, Aleksandr Lukachenko, disse nesta quinta-feira (18) que o primeiro regimento com o novo supermíssil da aliada Rússia, o Orechnik, foi ativado na véspera e "está em alerta de combate".

"As primeiras posições já foram equipadas com o sistema de míssil Orechnik", afirmou Lukachenko durante um pronunciamento a nação. Ele havia dito no mês passado que a arma seria trazida para seu país até o fim de 2025, para ceticismo de observadores.

Em Moscou, durante sua prestação de contas anual ao Ministério da Defesa, o chefe do Estado-Maior russo, general Valeri Gerasimov, afirmou que o míssil havia sido entregue para operação e que estaria ativo no começo de 2026, mas não citou Belarus.

O Orechnik, aveleira em russo, é uma arma que foi mostrada ao mundo por Putin em novembro de 2024, quando foi empregada em um ataque à cidade ucraniana de Dnipro. Sempre que pode, como na quarta (17), o presidente faz propaganda e diz que a arma é uma das garantias vitais para a segurança da Rússia.

Desenhado para ataques nucleares, é um míssil balístico de alcance intermediário, o que pode ser qualquer coisa de 550 km a 5.000 km.

Ele carrega seis ogivas com submunições, como foi possível ver em vídeo do ataque do ano passado -que não usou explosivos, apenas a força cinética do impacto vindo de fora da atmosfera a Mach 11 (13,5 mil km/h).

Ele foi usado em uma simulação durante manobras militares conjuntas entre Rússia e Belarus em setembro, causando alarme nos vizinhos da Otan. No exercício, foi praticado o lançamento dele com ogivas nucleares táticas, aquelas para emprego em campo de batalha.

Lukachenko não disse se o regimento que recebeu, presumivelmente operado pelos russos, será equipado com bombas nucleares ou convencionais.

Em 2023, Putin enviou ogivas táticas ao vizinho, sem especificar se para equipar mísseis balísticos de curto alcance Iskander-M ou aviões de ataque Su-25, causando protestos: a Polônia pediu para que os EUA equipassem o país com essas armas.

É o tipo de escalada que remonta à Guerra Fria. Em 1983, os americanos responderam à entrada em operação dos mísseis intermediários soviéticos SS-20, capazes de atingir capitais europeias, com a instalação dos equivalentes Pershing-2 na Alemanha.

O resultado foi uma crise de confiança num dos mais perigosos anos do conflito entre as então superpotências, tão grave que quatro anos depois EUA e União Soviética assinaram um tratado banindo essas armas rápidas e certeiras do teatro europeu.

Em 2019, Donald Trump em primeiro mandato determinou a saída dos EUA do tratado INF, sigla inglesa para Forças Nucleares Intermediárias. Putin o deixou neste ano.

O texto era parte do tripé que sustentou o fim da Guerra Fria, ao lado do programa Céus Abertos, que Trump também abandonou e permitia voos de reconhecimento de países adversários para checar movimentações nucleares, e o Novo Start.

Putin suspendeu a participação russa no último em 2023. Ele expira em fevereiro, e o Kremlin ofereceu aos EUA uma extensão de um ano para retomar negociações -que poderão até incluir outras potências nucleares.

Gerasimov afirmou nesta quinta que Washington ainda não respondeu, e voltou a dizer que a Rússia retomará testes nucleares de Trump fizer o mesmo, algo que o americano ameaçou.

O anúncio belicista de Lukachenko, que apoia a Rússia na Guerra da Ucrânia mas não participa dela diretamente, ocorre num momento de reaproximação com os EUA.

Ele e Trump conversaram neste ano, e até aqui levas de prisioneiros políticos de alto quilate na ditadura belarussa foram libertados como mostra de boa-fé. Em troca, algumas sanções ao país foram levantadas. Lukachenko até ofereceu asilo ao colega ditador venezuelano Nicolás Maduro, sob cerco dos EUA.

"Tudo está se movendo, como eles dizem, para um grande acordo", disse o ditador, sugerindo que a normalização eventual que a paz que está dificilmente sendo negociada para acaba com a guerra no vizinho poderá se estender a Belarus, que é um protetorado político e militar do Kremlin.