SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, pediu desculpas à comunidade judaica do país nesta segunda-feira (22), um dia após ser vaiado em um ato em homenagem às 15 vítimas do ataque da praia de Bondi, em Sydney, que marcou uma semana do episódio.
"Sinto o peso da responsabilidade por uma atrocidade que aconteceu enquanto exerço este cargo [de primeiro-ministro] e sinto muito pelo que a comunidade judaica e a nossa nação como um todo vivenciaram", disse o premiê a jornalistas.
Ele afirmou que compreendia que parte da raiva na comunidade judaica após o ataque era direcionada a ele e pediu unidade nacional.
"O governo trabalhará todos os dias para proteger os judeus australianos, para proteger o direito fundamental que eles têm, como australianos, de se orgulhar de quem são, praticar sua fé, educar seus filhos e participar da sociedade australiana da forma mais plena possível."
O ataque, um dos mais letais do país em quase três décadas, ocorreu durante uma celebração judaica, o Hanukkah. Albanese está sob pressão de críticos que afirmam que seu governo não fez o suficiente para conter o aumento do antissemitismo no país.
Ele também foi criticado pela forma como reagiu ao episódio. Logo após o ataque, Albanese anunciou um pacote para endurecer a lei de controle de armas na Austrália. Apenas dias depois o governo decidiu apresentar um pacote de leis para combater o discurso de ódio e o antissemitismo no país.
Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira pelo jornal Sydney Morning Herald apontou queda de 15 pontos em seu índice de aprovação, o pior resultado desde a vitória eleitoral do premiê em maio.
O ataque foi cometido por Sajid Akram, 50, e seu filho Naveed, 24. Sajid foi morto a tiros pela polícia no local, e Naveed terá de responder por 59 acusações, que incluem assassinato, lesão com tentativa de assassinato e terrorismo. Ele foi transferido para a prisão nesta segunda após ficar internado em um hospital.
Segundo a polícia, o ataque foi motivado por ideologia extremista ligada ao grupo terrorista Estado Islâmico (EI) e planejado de forma "meticulosa" ao longo de vários meses.
Documentos judiciais divulgados nesta segunda-feira revelam que pai e filho realizaram treinamentos com armas de fogo em áreas rurais isoladas de Nova Gales do Sul, o estado mais populoso da Austrália, que inclui Sydney. As autoridades também afirmam que os suspeitos fizeram visitas de reconhecimento à praia de Bondi alguns dias antes do ataque.
A polícia encontrou um vídeo gravado em outubro em um dos celulares dos atiradores, no qual eles aparecem sentados diante da imagem de uma bandeira do Estado Islâmico e fazendo declarações em inglês sobre seus motivos para o ataque, enquanto condenavam atos de sionistas.
Pouco depois das 2h da manhã no dia do ataque, os homens foram filmados por câmeras de segurança carregando itens longos e volumosos, embrulhados em cobertores, ao sair de uma casa alugada para curta estadia no subúrbio de Campsie. Eles depois dirigiram até Bondi por volta das 17h.
As autoridades acreditam que os objetos transportados incluíam duas espingardas de cano simples, um fuzil Beretta, três bombas caseiras feitas com canos, uma bomba improvisada com uma bola de tênis e um grande artefato explosivo improvisado.
De acordo com a investigação, antes de iniciarem os disparos contra a multidão, os suspeitos lançaram as bombas no parque de Bondi, mas os dispositivos explosivos não detonaram.
A polícia realizou buscas na casa de Campsie e encontrou equipamentos para fabricação de explosivos, peças de armas produzidas em impressoras 3D e cópias do Alcorão.
O Parlamento de Nova Gales do Sul foi convocado nesta segunda para votar o projeto de lei apresentado pelo governo para endurecer o acesso a armas de fogo.
A proposta limita a quatro o número de armas que uma pessoa pode possuir -ou até dez em casos específicos, como agricultores- e proíbe a exibição de símbolos terroristas.
Embora a Austrália já tenha algumas das leis de controle de armas mais rigorosas do mundo, adotadas após o massacre de Port Arthur, em 1996, que deixou 35 mortos, as autoridades afirmam que o ataque de Bondi expôs lacunas no sistema. Em Nova Gales do Sul, há mais de 1,1 milhão de armas registradas, e dados da polícia mostram que mais de 70 pessoas possuem mais de 100 armas cada.
O primeiro-ministro estadual, Chris Minns, afirmou que espera resistência às propostas, mas defendeu as mudanças. "Não podemos fingir que o mundo é o mesmo de antes do incidente terrorista", disse. "Precisamos tomar medidas para que nunca aconteça novamente."
Enquanto isso, a praia de Bondi tenta retomar a normalidade. Visitantes continuam a prestar homenagens em um memorial improvisado, embora autoridades tenham iniciado a retirada de flores, velas e cartas deixadas no local.
Os objetos deposição serão preservados para serem posteriormente exibidos no Museu Judaico de Sydney e na Sociedade Histórica Judaica Australiana. Treze pessoas seguem internadas, quatro delas em estado crítico, porém estável, segundo autoridades de saúde.