SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A mais recente rodada de negociações para encerrar a Guerra da Ucrânia acabou em novo impasse, com o presidente Volodimir Zelenski pressionado pelo anfitrião Donald Trump na Flórida -mas negando um acordo acerca das perdas territoriais para Vladimir Putin.
Os dois líderes se encontraram para um almoço de trabalho em Mar-a-Lago, o resort que serve de residência a Trump na Flórida. "É bem melhor que a Casa Branca", brincou Trump na entrevista que ambos concederam, marcada por um tom agridoce para o ucraniano.
Se ele não foi admoestado como no notório encontro de fevereiro passado, teve de ouvir considerações que serão tomadas como ofensas em casa. "O presidente Putin quer a paz. (...) A Rússia quer que a Ucrânia seja bem-sucedida, e Putin foi muito generoso", disse o americano, ao citar oferta de energia russa para os invadidos em 2022.
Zelenski riu amarelo. Ainda é incerto o quanto avançaram, mas o fato é que Trump havia passado uma hora e 15 minutos ao telefone com Putin antes de receber o ucraniano.
"Estamos nas etapas finais das conversas", afirmou Trump ao lado de Zelenski antes do encontro. "Mas eu não tenho prazos finais", completou, fugindo da armadilha de ultimatos dados aos dois beligerantes em outras ocasiões. Ambos conversaram com líderes europeus após a reunião, e o ucraniano afirmou que Trump deve sediar um encontro com eles em Washington em janeiro.
Comentando a conversa, o assessor presidencial russo Iuri Uchakov, um dos principais negociadores do tema Ucrânia, disse que Trump concorda com Putin acerca da necessidade de um acordo completo, sem uma trégua temporária para discussões posteriores acerca de questões territoriais.
Além disso, sugeriu a extensão das negociações com a formação de dois grupos de trabalho, um sobre justamente a perda de terras por Kiev, e outro para trabalhar questões econômicas.
Ambos confirmaram o debate após a reunião. "Pode dar errado", disse Trump, buscando novamente desvincular-se do convidado, que demonstrou expressão corporal de desconforto ao longo da entrevista. "Avançamos bastante, 100% em segurança", disse, sobre as garantias de que Putin não irá mais invadir se houver paz.
Trump disse que "cobrimos talvez 95%" dos 20 pontos apresentados por Zelenski em reação ao programa de 28 itens que havia sido entregue inicialmente pelos EUA, a partir de um trabalho conjunto com Moscou.
O texto inicial era francamente favorável ao Kremlin, enquanto o atual atende a boa parte das demandas de Kiev para o fim da guerra. Há vários pontos que a Rússia já disse não aceitar, como o congelamento das linhas de batalha como estão para daí negociar concessões territoriais.
Putin quer todos os territórios que anexou ilegalmente em 2022, fazendo questão publicamente da totalidade do Donbass, composto pela já 100% russa Lugansk e por Donetsk, a joia da coroa da região, que está cerca de 80% ocupada, segundo sites de monitoramento da guerra.
Os EUA propuseram, nas semanas de negociação com os ucranianos e russos, de forma separada, que a parte de Donetsk sob controle de Kiev seja desmilitarizada. Moscou disse que aceitaria o plano desde que o policiamento e controle da região fossem feitos por forças suas -o que Zelenski continua rejeitando.
De todo modo, o presidente ucraniano disse que se não houver acordo sem perdas, ele terá de fazer uma consulta popular sobre o que for decidido com Trump.
Mesmo isso é incerto, pois ao fim depende de combinar com os russos. E todas as indicações de Putin até aqui são de que ele só vai parar a guerra se puder vender o acordo como uma vitória em seus termos.
Mais cedo, buscando reforçar sua posição, a Rússia havia anunciado uma série de triunfos militares no leste do país que invadiu em 2022. Foram seis localidades tomadas, inclusive a simbólica Mirnohrad, que tentava resistir havia três meses. Kiev buscou relativizar as perdas.