SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O escritório de um governador local na província de Fars, no sul do Irã, foi atacado nesta quarta-feira (31) por um grupo de pessoas em meio aos protestos diante da crise econômica e hiperinflação pela qual passa o país persa. O ataque na cidade de Fasa, a cerca de 800 quilômetros da capital Teerã, destruiu janelas e portas e não deixou feridos, de acordo com a imprensa local.

Horas antes, o regime iraniano havia prometido uma resposta firme contra os protestos organizados por lojistas e estudantes caso as manifestações, que começaram no domingo (28), levem a "desestabilização" do país.

Segundo o procurador-geral, Mohammad Movahedi-Azad, "qualquer tentativa de transformar as manifestações econômicas em instrumento de insegurança, destruição de bens públicos ou execução de planos elaborados no exterior será respondida com medidas legais proporcionais e firmes".

Os protestos contra a hiperinflação e a crise econômica pela qual atravessa o Irã começaram depois que comerciantes fecharam lojas no maior mercado de telefones móveis de Teerã. Na terça (30), estudantes do ensino superior se juntaram às manifestações, com atos em sete universidades da capital iraniana.

Ao mesmo tempo, Movahedi-Azad disse que "do ponto de vista judicial, as manifestações pacíficas para defender os meios de subsistência são compreensíveis", repetindo uma fala no mesmo sentido feita pelo presidente Masoud Pezeshkian.

"Pedi ao ministro do Interior que ouvisse as demandas legítimas dos manifestantes, dialogando com seus representantes para que o governo possa fazer tudo ao seu alcance para resolver os problemas e agir com responsabilidade", disse Pezeshkian após se reunir com líderes sindicais na terça.

Por sua vez, o serviço de inteligência exterior de Israel, o Mossad, convidou os manifestantes iranianos a intensificar sua mobilização. "Estamos com vocês", afirmou a agência de espionagem em publicação na rede social X.

Em Teerã, os protestos dos comerciantes estão, por enquanto, limitados e concentrados no centro. A grande maioria dos negócios em outras zonas da cidade continuaram operando, como atestado pela agência de notícias AFP.

Na quarta, as ruas de Teerã estavam tranquilas, longe do tráfego caótico habitual, após a decisão das autoridades de fechar escolas, bancos e estabelecimentos públicos devido ao frio intenso, com mínimas de -6 ºC, e para economizar energia. A capital também vive uma grave crise hídrica causada por secas cuja intensidade vem aumentando graças às mudanças climáticas.

A economia iraniana há anos sofre turbulências causadas pelas fortes sanções aplicadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia. O rial iraniano caiu em relação ao dólar e outras moedas mundiais ?quando os protestos eclodiram no domingo, o dólar americano era negociado a cerca de 1,42 milhão de riais, em comparação com 820 mil riais um ano atrás?, forçando a alta dos preços de importação e prejudicando os varejistas.

Na terça, o governo Donald Trump anunciou novas sanções contra o Irã em razão do comércio de drones e susbtâncias químicas bélicas entre o país persa e a Venezuela. "O contínuo fornecimento de armas convencionais do Irã a Caracas é uma ameaça aos interesses dos Estados Unidos na nossa região", disse Thomas Piggot, porta-voz do Departamento de Estado, em outro comunicado.

"As organizações e os indivíduos [sancionados] demonstram que o Irã está promovendo ativamente seus veículos aéreos não tripulados e continua adquirindo artigos relacionados com mísseis, violando as restrições da ONU", acrescentou Piggot.

Por enquanto, os protestos no Irã têm escala menor do que as grandes manifestações que abalaram o Irã no final de 2022 após a morte sob custódia policial de Mahsa Amini, uma jovem iraniana.

Seu falecimento após ser presa por supostamente usar incorretamente o véu islâmico, em violação do estrito código de vestimenta vigente no Irã, provocou uma onda de indignação na qual morreram várias centenas de pessoas, entre elas dezenas de membros das forças de segurança.