Valdinei Magela Bernardes trabalha para vencer O cobrador de ?nibus alegra os passageiros e procura
fazer, do ?nibus, um ambiente familiar


Priscila Magalh?es
Rep?rter
14/06/2008

Os passageiros da linha 620 (Francisco Bernardino via Fontes Ville) recebem uma inje??o de ?nimo, todos os dias, logo pela manh?. O bom humor e a alegria de Valdinei Magela Bernardes fizeram com que ele se tornasse uma pessoa conhecida entre os que transitam por este caminho.

Magela, como ? conhecido, trabalha como trocador de ?nibus h? 18 anos e adora o que faz. "Gosto de estar perto das pessoas", diz. Este foi o motivo pelo qual ele largou a profiss?o de padeiro e decidiu entrar na empresa de ?nibus.

Todos os dias, antes de entrar para o trabalho ?s 06h, Magela compra um jornal, um instrumento de trabalho. Para divertir os passageiros, ele l? o hor?scopo, as simpatias e a previs?o do tempo. "Eles prestam a aten??o e me cobram se eu esque?o de ler algum signo. Hoje, por exemplo, todas as mulheres queriam ouvir sobre a simpatia para emagrecer", conta.

Natal, P?scoa, Dia das M?es e Dia dos Pais est?o entre as datas que os passageiros recebem uma lembrancinha e uma mensagem de Magela. Ele conta que os presentinhos dependem do n?mero de patrocinadores que ele consegue para cada data. Antes, eles eram escassos, mas agora, tem para todos os que passam pela roleta. "Eu tinha que distribuir senha e fazer um sorteio das lembran?as. E ningu?m ia embora antes da hora".

Para Magela, o ?nibus tamb?m ? lugar de festa, com distribui??o de convites e bilhetes de agradecimento pela participa??o. No dia de seu anivers?rio, ele enche o ?nibus de bolas, leva bolo, pirulitos e refrigerante. "No ?ltimo, as pessoas levaram cartazes para me parabenizar", diz. A festa dura quatro horas, correspondente ?s oito viagens da linha. Nesses dias, o n?mero de passageiros dobra.

foto de Magela entre os passageiros Tanta simpatia rendeu a ele seis pr?mios nas elei?es de trocador e motorista da empresa em que ele trabalha. No ?ltimo, ele teve 1.080 votos, o que mostra que os passageiros gostam do seu jeito de ser. "Uma pessoa me disse que queria ser como eu", diz, garantindo que esse ? o seu jeito de ser.

"? melhor levar o dia-a-dia assim". Segundo ele, a empresa escolhe, para concorrer, o funcion?rio que n?o tem advert?ncia ou reclama??o. Como pr?mio, ganha um sal?rio a mais naquele m?s. "Quem n?o quer ganhar?".

Mas ele garante que n?o age dessa maneira por causa da elei??o. "Tem gente que muda quando as elei?es acabam. Eu fa?o isso, porque me preocupo com o bem-estar dos passageiros. Acho que as pessoas est?o muito distantes umas das outras".

H? tr?s anos, quando passou mal enquanto trabalhava, ele percebeu que tinha cativado as pessoas. Ele teve hemorragia digestiva alta e descobriu que tinha amigos de verdade. "Os passageiros se esqueceram que estavam indo trabalhar para me socorrer. Chamaram ambul?ncia, Samu, tudo".

Magela tamb?m alegra crian?as

O outro trabalho de Magela veio no susto e aceitou quase sem pensar. H? oito anos, ele anima festas infantis como Palha?o Piment?o. "Minha irm? pediu para que eu me vestisse de palha?o na festa do meu sobrinho e eu aceitei. Assim come?ou tudo", conta.

Para incrementar o trabalho, faz bichinhos de bola, distribui prendas, algod?o doce, balas e bombons. Ele se orgulha em dizer que aprendeu a fazer os bichinhos de bola sozinho. "Eu vi um palha?o fazendo, cheguei perto e olhei. Ficava pensando como ele conseguia fazer todas as patas do cachorrinho com uma ?nica bola. Aprendi de primeira".

Magela tamb?m investiu em bambol?s, cordas e em um t?nel. S?o os objetos que leva para divertir as crian?as nas festas. "O que elas mais gostam ? da brincadeira de pular corda, do cabo de guerra e de ganhar os brindes". Por?m, ele revela que n?o ? f?cil ser animador. "N?o ? s? vestir a roupa de palha?o. Tem que alegrar as crian?as mesmo". A profiss?o rende a ele uma renda extra de R$ 120 a cada quatro horas de trabalho.

Mais trabalho

Al?m de trocador e palha?o, Magela ainda vende algod?o doce e picol? depois que sai da empresa de ?nibus. No ver?o, chega a vender R$ 50 por dia em picol?. "Pego o carrinho e ando em Benfica, Santa Cruz e S?o Judas. J? cheguei a vender tr?s carrinhos em um dia", conta. O algod?o doce ? mais vendido em festa junina e nas festas de crian?as. Come?ou quando viu uma pessoa vendendo na rua. "O rapaz estava bem vestido e vendendo algod?o doce. Ent?o, procurei saber onde ele pegava e comecei tamb?m".

Tanto trabalho tem um motivo: subir na vida. "Fa?o tudo isso pensando em dar o melhor para minha fam?lia". Ele ? casado h? 16 anos e tem uma filha de 14. Conta com orgulho que quando casou n?o tinha nada. "Morei com meu sogro enquanto minha filha estava no ber?o. Hoje tenho a minha casa, um carrinho e minha menina est? estudando". Na inf?ncia, Magela vendeu jornal, verdura e j? foi gar?om. "J? trabalhei de 05h at? 24h. Sa?a do ?nibus, vendia picol? e depois ia para o trailer onde era gar?om. Tenho tudo na vida assim".