Flavinho da Juventude
Sambista usa arte para conscientizar diferentes classes sociais

Djenane Pimentel
21/06/04

Flavinho orgulha-se do samba Martinho de todas as Vilas, que fez para a Juventude Imperial, este ano (2004). Confira o samba no ?cone Som. Uma apresenta??o no CCBM, voc? confere no ?cone V?deo.

Figura interessante este senhor, Fl?vio Luiz de Carneiro, mais conhecido como Flavinho da Juventude... Falador como ele s?, ? primeira vista passa a impress?o de um sambista alegre, sem preocupa?es. Ap?s uma conversa franca, pode-se perceber que existe mais do que samba em suas veias. Existe tamb?m uma consci?ncia muito grande de suas obriga?es no mundo e que, ?s vezes, deixa transparecer uma certa revolta com a real situa??o do pa?s, de tamanha desigualdade social.

H? 40 anos na escola de samba Juventude Imperial, Flavinho conta que at? os 21 anos era completamente analfabeto.
Filho de m?e-lavadeira e padrasto-motorista, ele se orgulha de ter chegado onde chegou. "Aos trancos e barrancos", como ele mesmo diz, hoje, ? professor de Matem?tica, para o 1? grau, e de Qu?mica, no 2? grau. E n?o p?ra por a?: ele afirma que vai continuar estudando, talvez Direito, Hist?ria ou Pedagogia, para poder ser, um dia, diretor de escola. "Engraxei sapatos at? os 23 anos, perto do Cine Theatro Central, e hoje sou professor. Isso mostra que nenhuma profiss?o ? indigna e nem diminui a pessoa. Gostaria de ser espelho para muita gente", orgulha-se.

Amor inspira composi??o
Quando come?ou a estudar, Flavinho se apaixonou por uma colega de sala, muito mais nova do que ele. "Ela tinha 14 anos e eu 21. Como n?o sou ped?filo (risos), decidi que aquilo seria um amor plat?nico", conta.
E assim foi. A musa o inspirou a gostar e escrever poesias, que se encaixavam perfeitamente com o sentimento daquele momento.

Da?, veio a inspira??o para a primeira m?sica, Dia a Dia, que falava de um rapaz que queria morrer por amor, mas que havia descoberto tamb?m o encanto de viver. O que Flavinho realmente descobriu com isso era que tinha dom para compor.

A partir desta m?sica, ele, que j? pertencia ? Juventude Imperial desde os 14 anos, foi chamado para fazer parte da ala de composi??o da escola.
Com o professor universit?rio Roberto Medeiros, Flavinho fez seu primeiro samba - Zumbi dos Palmares - que levou a Juventude ? conquistar o tetra-campeonato, naquele ano de 1973.

Hoje, com 16 sambas e muitos pr?mios conquistados, o sambista declara que todo artista deveria conhecer bem o seu papel: "o de aproveitar o poder que tem nas m?os, de ser escutado e influenciar pessoas, para colocar sua arte a servi?o de conscientizar as classes sociais".

"Pa?s racista"
Militante do Movimento Negro e presidente da entidade O Batuque Afro-Brasileiro de N?lson Silva, existente h? 40 anos, Flavinho se sente mal com a discrimina??o e desigualdade social brasileira. "Somos um pa?s muito racista. Se voc? ligar a TV vai achar que est? na Su??a: s? se v? brancos. Chamo isso de cultura terrorista est?tica, que temos que abolir o mais r?pido poss?vel", indigna-se.
Mas ele tamb?m n?o v? nenhum proveito em mostrar, na televis?o, o quanto os negros j? sofreram, quando escravos. "Este tipo de novela n?o serve para nada. Escravo s? ? escravo quando aceita esta condi??o. E temos v?rios exemplos de bravuras e guerras, de pessoas que n?o aceitavam. Dev?amos mostrar isso".

Flavinho analisa a influ?ncia da TV em todas as ra?as e classes, atrav?s de um epis?dio recente. "Comprei uma boneca negra para dar ? minha sobrinha, de tr?s anos, e quando ela abriu o presente, n?o gostou, porque o que queria era a boneca da Xuxa, Ang?lica ou Eliana. Ela j? est? influenciada pela cultura esbranqui?ada".

Para o sambista, uma coisa ? fato: tal desigualdade se reflete at? no modo de falar. "Eu nunca ouvi dizer que a fome ? branca, mas conhe?o o ditado "a fome ? negra". Isso n?o seria uma forma de racismo?", pergunta.

A igualdade, de que tanto fala, n?o seria t?o dif?cil de ser alcan?ada, se todos realmente se considerassem iguais e agissem dessa forma. Para come?ar: casa e escola - ? o que todos desejam. "Queremos estudar, porque ? l? que est? a fonte de poder e sabedoria. Seria pedir muito?", finaliza.


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