BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Os dados divulgados pelo sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), nesta sexta-feira (12) mostram que a Amazônia Legal registrou 8,6 mil km² de bioma derrubado entre agosto de 2021 a julho de 2022, o terceiro maior da série histórica, atrás apenas dos dois anos anteriores.

O resultado foi condenado por ambientalistas e políticos ligados ao tema. "Hoje o que você vê é um governo não só incompetente para proteger a Amazônia, mas eficiente para destruí-la", diz Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente.

Se repetir o que se viu no último ciclo --quando o Deter apontou 8,8 mil km² de desmate e o Prodes, sistema de referência que ainda não divulgou seus dados, 13 mil km²-- o governo de Jair Bolsonaro (PL) caminha para concluir seu o quarto ciclo seguido com o desmatamento anual da Amazônia igual ou maior que 10 km².

Teixeira aponta que, segundo os dados atuais, o desmatamento no Brasil deve voltar ao patamar de mais de uma década atrás --a última vez que a Amazônia registrou quatro anos seguidos de perda de bioma maior que 10 mil km² foi entre 2005 e 2008.

A função primária do Deter não é medir desmates com precisão, mas, auxiliar operações de combate a crimes ambientais. Apesar disso, pelo acompanhamento por satélite quase em tempo real, é possível usá-lo para perceber tendências de supressão vegetal.

Por ser mais preciso, o Prodes, também do Inpe, é o sistema de referência para se medir o desmatamento florestal. No entanto, ele ainda não divulgou os seus dados para o atual ciclo.

"Sempre há expectativa de que, de alguma forma, alguns esforços pudessem corroborar com a redução do desmatamento, mas na verdade, o Deter confirma aquilo que não tem como negar. Infelizmente me surpreenderei se o Prodes mostrar um desmatamento abaixo de 10 mil km², numa perspectiva otimista, vamos ficar no mesmo patamar", afirmou a ex-ministra.

Nos últimos três anos, o Prodes registrou mais de 10 mil km² de desmatamento. Procurado, o Ministério do Meio Ambiente afirmou que "os dados do Deter relativos a julho para a região da Amazônia indicam o menor índice para o mês desde 2018" e que "o acumulado dos últimos 12 meses aponta redução de 2,16%".

"São os números da destruição. Tradução da triste realidade. Representam exatamente o que presenciamos nos últimos três anos e meio. Total esfacelamento dos investimentos no combate ao desmatamento. Não há política pública, não há vontade política", afirmou o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), líder da bancada ambiental no Congresso.

"Bolsonaro é o primeiro presidente desde 1988, quando se iniciou o monitoramento do desmatamento no bioma por satélite, que respondeu por três anos consecutivos de alta. Poderá ganhar o 'troféu' da quarta alta consecutiva. Esse desastre ambiental é fruto de sua diretriz ecocida, de destruição de todas as políticas federais de proteção do meio ambiente e de implosão dos direitos socioambientais", afirmou a ex-presidente do Ibama e hoje diretora do Observatório do Clima, Suely Araújo.

Os novos números deixam ainda mais consolidados os patamares altíssimos de desmatamento alcançados sob Bolsonaro --com exceção do mês de dezembro, os recordes de desmatamento do Deter de todos os outros meses no atual governo.

Levando em conta dados do Deter, já foram derrubados mais de 31 mil km² de Amazônia desde o início da atual gestão, em 2019. Isso equivale a, aproximadamente, mais de 720 km² de floresta indo ao chão mensalmente, o que representa mais de 450 parques Ibirapuera destruídos todo mês.

Especialistas também apontam que o desmatamento da Amazônia caminha para ficar incontrolável.

"Vai ficando difícil de reverter porque o desmatamento vai ganhando escala, vai se espraiando pelo território", afirmou João Paulo Capobianco, membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e do conselho diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade.

"O cenário é muito ruim. Nós estamos caminhando aceleradamente para chegar próximo ao 'ponto de não retorno'".

Para Teixeira, a única forma de conseguir tentar reverter este quadro é por meio de uma ação emergencial, com atualização das políticas públicas e integração com as forças de segurança para combate também do crime organizado --que se consolidou como braço do crime ambiental na região.

"Temos que entender a dinâmica do crime na Amazônia, do crime organizado. Temos que olhar não só pelos órgãos ambientais, mas pelos de segurança pública também. Precisamos definir um novo modelo para nunca mais termos um retrocesso como o que vemos hoje, aperfeiçoando a legislação, reformando as instâncias de fiscalização, e criando um plano emergencial", afirmou.


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