SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um hospital particular de Porto Alegre realizou na última quarta (10) uma cirurgia neurológica com o auxílio de um robô que simula um braço humano. Segundo a Brainlab, fabricante do equipamento, foi a primeira neurocirurgia robótica executada em toda a América Latina.
O robô auxiliou a fixação de parafusos para estabilizar a coluna de um paciente. O homem de 65 anos apresentava dor na coluna lombar com irradiação para membros inferiores -ou seja, quando atinge outras partes do corpo, como as pernas.
Em casos assim, o normal é priorizar certas ações antes de optar por cirurgias, como mudança de hábitos alimentares, fisioterapia e utilização de medicamentos, explica Arthur Pereira Filho, neurocirurgião do Hospital Moinhos de Vento e doutor em neurociência pela PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).
No caso do paciente, uma ressonância mostrou um estreitamento do canal da coluna lombar dele e um escorregamento de vértebras, chamada de espondilolistese.
"Isso significa que o paciente tinha uma degeneração avançada da coluna, onde os nervos estavam apertados. Ele tinha o que se chama de instabilidade da coluna. Ela estava frouxa, em termos leigos, e havia o escorregamento de uma vértebra sobre a outra", explica Pereira Filho, que participou do procedimento.
Como as medidas mais simples não diminuíram a dor, optou-se pela realização de uma cirurgia chamada artrodese da coluna lombar. "É um procedimento tradicional que já se faz há muitos anos e serve para inúmeras patologias da coluna", diz o médico.
A cirurgia consiste em realizar uma descompressão dos nervos. Além disso, é feita uma estabilização da coluna por meio de parafusos que são colocados nas vértebras, evitando o escorregamento delas.
A inovação, no caso desse paciente, foi a utilização do braço robótico para auxiliar os cirurgiões.
O emprego de robôs em procedimentos cirúrgicos não é uma novidade --em muitos casos, o cirurgião manipula a máquina por meio de um controle fora do campo cirúrgico. Mas no caso do braço robótico, ele funciona como um braço adicional durante o procedimento, explica Vinícius Dessoy Maciel, presidente para a América Latina da Brainlab. Além disso, o cirurgião não deixa o campo da operação.
Ao aplicar os parafusos mais precisamente com o auxílio do robô, dizem os envolvidos, reduz-se o risco de complicações e necessidade de novas cirurgias nos casos em que o implante não é aplicado no local exato ou quando ele fica frouxo.
Para o robô funcionar, é necessária a utilização de uma segunda tecnologia: a neuronavegação. Esse instrumento lê imagens da anatomia do paciente e indica o local exato em que o parafuso deve ser inserido.
"A navegação me ajuda a planejar o processo cirúrgico para depois implementar", afirma Maciel, que diz que o Hospital Moinhos do Vento aplica a tecnologia em cirurgias neurológicas há cerca de 15 anos.
Só a implementação do sistema de navegação pode melhorar o resultados dos pacientes, mas não tanto quando ocorre a utilização em conjunto com o robô. "Se não há o braço robótico, é possível usar apenas o sistema de neuronavegação, mas a firmeza e a colocação do parafuso não é tão precisa", explica Pereira Filho.
Ele diz que, no método tradicional, onde não se utiliza o sistema de navegação nem o robô, cerca de 20% dos parafusos são implantados com um posicionamento não ideal. Com a navegação, esse percentual cai para 4%. Ao utilizar a navegação em conjunto com o braço robótico, menos de 1% dos parafusos apresenta o posicionamento com algum grau de baixa precisão.
No caso do paciente atendido no Moinhos do Vento, o desfecho foi benéfico: não houve complicações pós-cirúrgicas e não foram registrados problemas de desvio do parafuso implantado na coluna, segundo os médicos. O paciente teve alta e, até o momento, não relata mais dores na lombar.
O hospital fez mais duas cirurgias com o braço robótico. Ambos os procedimentos foram considerados bem-sucedidos.
PREÇO É ALTO
Embora tenham vantagens, os equipamentos para realização das neurocirurgias robóticas são caros -situação que também ocorre com outros robôs projetados para fins médicos.
O valor médio do braço robótico da Brainlab é de U$$ 450 mil, ou cerca de R$ 2,3 milhões na conversão atual. O navegador que precisa ser utilizado com o robô também custa cerca de R$ 2 milhões.
"É um investimento pesado se formos pensar no SUS ou em hospitais de menor porte", afirma Pereira Filho.
Para Maciel, da Brainlab, a análise dos custos demanda entender o que as tecnologias representam para o sistema de saúde a longo prazo. "Muitas vezes, não se investiga o impacto de cirurgias."
Ele exemplifica um caso em que a aplicação do parafuso de forma não precisa demanda uma nova cirurgia -algo que representa mais custos e perda na qualidade de vida do paciente. Com o braço robótico, esses casos de operações para revisar o implante caem, resultando em uma possível economia de valores.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!