RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O músico Luiz Carlos Justino, 25, do Rio de Janeiro, foi levado na última segunda-feira (22) para a delegacia por um crime que não cometeu. Em 2020, o jovem negro havia sido preso injustamente por cinco dias apontado como participante de um assalto ocorrido três anos antes.

O jovem, que toca violoncelo na Orquestra da Grota, teria sido falsamente reconhecido pela vítima por meio de fotografias.

Justino foi parado em uma blitz e conduzido à 79ª DP (Jurujuba), porque seu nome ainda constava no Banco Nacional de Mandados de Prisão. O processo de ser levado à delegacia e ser liberado durou pouco menos de uma hora.

Justino foi preso há quase dois anos, sob suspeita de participar de um assalto à mão armada em 2017 em Niterói (RJ). Porém, amigos dele confirmam que ele fazia uma apresentação musical no momento do crime.

O músico foi inocentado pela Justiça à época, mas o advogado criminalista Rafael Borges, que o representa, afirma que seu nome foi mantido por engano no banco de mandados de prisão.

Na noite da última segunda (22), Justino voltava de uma partida de futebol com outros três amigos quando o veículo em que estavam foi parado. Os policiais encontraram um mandado de prisão pendente e o levaram à mesma delegacia onde ele havia sido falsamente reconhecido em 2020.

"Abordaram o veículo, pediram para descer e colocamos a mão em cima do carro. Estávamos eu e amigos, todos da Orquestra da Grota. Viram que o mandado estava pendente, e depois que aparece algo pendente, a gente passa a ser tratado como vagabundo", conta Justino.

"Ele foi levado para que fosse feita a averiguação, mas foi proibido de usar o celular e ficou incomunicável. Os policiais pediram para ele abaixar a cabeça e ele assim permaneceu", afirma Borges, advogado do músico. "O Justino [nem] sequer consegue identificar os policiais que fizeram a condução. Ao chegar à delegacia, algum delegado deve ter colocado o nome dele no Google, viu que aquela condução era equivocada e o liberou."

"A polícia não deixou passar um monte de garoto preto dentro do carro. Os agentes fizeram a revista de forma pouco cortês, até um tanto quanto agressiva", avalia o advogado. "Na base da abordagem da polícia tem um elemento racista e uma prática ilegal. O Justino não tem pendência com a Justiça."

Após o caso, Borges entrou com um pedido na 2ª Vara Criminal de Niterói para que o nome de Justino fosse retirado do banco de mandados de prisão.

A Justiça acatou o pedido nesta terça (23). Ainda assim, para garantir que um episódio similar não volte a ocorrer, o advogado redigiu uma declaração de próprio punho e fez uma cópia da sentença absolutória, que julga a acusação improcedente. Os documentos são para que o músico possa apresentar a policiais caso seja abordado novamente.

"Esse trauma vou levar para o resto da vida. É uma cicatriz que nunca vou superar. Eu estou com medo, revoltado e indignado", afirma Justino.

Procurado, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro disse que "está sendo feito um levantamento do histórico de lançamentos no Banco Nacional de Mandados de Prisão sobre o processo para verificação das ordens judiciais". Segundo a corte, o nome de Justino não consta mais do sistema.

O TJ acrescentou que o músico foi absolvido da acusação em junho do ano passado. À época, a defesa pediu a retirada da fotografia dele do álbum de suspeitos da 79ª DP.

A Polícia Civil afirmou que Justino foi conduzido à delegacia por agentes do programa Segurança Presente e, após consulta, foi liberado.


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