SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou nesta segunda-feira (30) desconhecer a existência de pancadões na cracolândia, como é chamada a concentração de usuários de droga na região central da capital paulista.
"Eu desconheço que tenha pancadão do crack. Deve ter alguma situação sobre barulho de algum comércio lá, que a gente vai estar fiscalizando", afirmou Nunes, ao ser questionado sobre reclamação de moradores.
O prefeito estava ao lado do governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à reeleição, durante vistoria técnica ao Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. O tucano não se pronunciou, apesar de o prefeito paulistano dizer que o trabalho social e de polícia na cracolândia é uma ação conjunta entre estado e município.
No último dia 18, a reportagem da Folha acompanhou uma noite e o início da madrugada na região, após série de reclamações de moradores, que perguntavam em grupo de WhatsAPP a localização atual do fluxo --como é chamada a concentração de dependentes químicos--, além de relatos de barulho, brigas e venda e consumo de drogas na porta de seus imóveis.
Uma boa parte dos usuários estava concentrada na rua Helvétia, entre a avenida São João e a alameda Barão de Campinas. É nesse ponto que as autoridades tentam manter o fluxo desde maio, quando ele foi expulso da praça Princesa Isabel.
O grupo ocupava o lado direito da via, com cones o separando do trânsito de veículos. O barulho vindo das caixas de som e das conversas era alto.
Durante a madrugada, equipes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) tentam dispersar os grupos de usuários, que acabam migrando para outras ruas da região. É o caso, por exemplo, da alameda Barão de Piracicaba, uma das travessas da avenida Duque de Caxias, e das proximidades da praça Princesa Isabel.
Vídeos gravados pelos vizinhos mostraram diversos episódios de barulho na alameda Barão de Piracicaba, que é rodeada por prédios.
"Moro nos andares mais baixos e o barulho é insuportável, dia e noite. Dia e noite são gritos, caixa de som, discussões, briga o tempo inteiro. Um inferno", disse a analista de sistema Maira Gomes, 32.
Ao ser questionado sobre as queixas nesta segunda-feira, Nunes falou sobre as ações da prefeitura e do governo estadual para combater a venda de drogas na região da cracolândia e de amparo e acolhimento aos usuários.
O prefeito afirmou que em 2016 eram 4.000 usuários de crack naquela região e que hoje, pela contagem feita diariamente pela administração municipal, são, em média, 820.
Sem dar números Nunes falou duas vezes que o contingente de policiais civis e militares, e de guardas-civis metropolitanos é o maior da história.
Ele disse ainda que há um processo contínuo de internações de pessoas que precisam, de prisão de traficantes e de reurbanização. O prefeito citou como exemplo a praça Princesa Isabel, que, segundo ele, era chamada de "praça do cachimbo".
Em maio, a Polícia Civil e a prefeitura realizaram uma megaoperação contra o tráfico de drogas na praça, que havia se tornado o novo endereço da cracolândia com a migração do fluxo de usuários em março.
Desde então, o fluxo passou a migrar, concentrando-se principalmente na rua Helvétia.
Ao citar investimentos em segurança, Nunes disse que não conseguia imaginar pessoas "naquele estado de dependência fazer pancadão". "Acho que a gente precisa reformular um pouco a nossa visão com relação a esse aspecto de violência no centro."
À reportagem, o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Delegacia Seccional Centro, responsável pela Operação Caronte, que visa prender traficantes na cracolândia, disse que, com a dispersão do fluxo da praça Princesa Isabel, a formação de pequenos núcleos já era esperada, mas que nem de longe eles lembram o visto antes no local e no entorno da praça Júlio Prestes.
Afirmou ainda que a situação é monitorada 24 horas por dia e que prevê melhoras graduais em breve.
Em nota, após a reportagem confirmar as reclamações na cracolândia, a Polícia Militar afirmou que a perturbação do sossego e o porte de drogas são infrações penais de menor potencial ofensivo, e os autores são liberados imediatamente assim que assinam o termo de ocorrência.
A PM disse ainda que, desde janeiro foram efetuadas cerca de 400 prisões em flagrante e mais de 150 recapturas de criminosos foragidos na região.
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