RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Quatro anos após o incêndio que destruiu 85% do acervo do Museu Nacional, o público pode nesta sexta-feira (2) se aproximar do Palácio São Cristóvão, na zona norte do Rio de Janeiro, e observar réplicas das estátuas que ficavam em seu topo, além de minerais resgatados, como o meteorito de Bendegó.
As estátuas originais, de mármore carrara, que pesam cerca de 300 quilos, deverão ficar expostas no interior do museu, quando ocorrer sua reabertura ao público, em 2027. A reinauguração da fachada restaurada contou com a presença de autoridades, como o prefeito Eduardo Paes (PSD) e pesquisadores.
"São 31 estátuas que representam deuses gregos de distintas áreas, que fazem referência ao conhecimento. Com muito trabalho, parceria e coragem, devolver à sociedade este que é o primeiro museu e também a primeira instituição científica brasileira", disse Denise Carvalho, reitora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), à qual o museu é vinculado.
A expectativa é que o acervo conte com novas obras e restauração das sobreviventes, que terão próteses em alguns casos. Há exatos quatro anos, as seis horas de incêndio consumiram a maior parte dos 20 milhões de itens do acervo do museu.
"O amarelo ocre da fachada e o verde das portas são as mesmas cores do período imperial, ressaltando o compromisso do Projeto em preservar a identidade e a trajetória arquitetônica do palácio", disse o diretor do museu, Alexander Kellner.
Iniciada em novembro de 2021, a obra de restauração das fachadas e coberturas do palácio está seguindo as recomendações do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e custou cerca de R$ 23 milhões.
O custo estimado para a reconstrução total do museu é de R$ 385 milhões, sendo captado, até agora, R$ 244 milhões.
"Esse jardim na frente do Museu Nacional e o trabalho de reconstrução do prédio estão avançando. Então, poder entregar esse quintal dos cariocas, que tem um simbolismo histórico especial é uma honra muito grande", afirmou o prefeito Paes.
O que foi resgatado Desde o incêndio, cerca de 5.000 lotes de 14 das 25 coleções que se encontravam no palácio foram recuperados. E muito foi perdido também.
As chamas destruíram o caixão de madeira e os restos da sacerdotisa egípcia Sha-Amun-em-Su, mumificada por volta de 750 a.C.
O interior do sarcófago estava lacrado desde então, sendo revelado somente pelas chamas do incêndio. O fogo, no entanto, não atingiu nove amuletos que estavam em seu interior e que nunca tinham sido vistos antes. Entre eles, o chamado escaravelho-coração.
"Os egípcios acreditavam que, ao morrer, ocorreria um julgamento com 42 perguntas. Entre elas, desde se você cometeu algum homicídio ou se falou mal de alguém. O escaravelho-coração era um amuleto, em forma de besouro, que deixaria o seu coração mais leve no momento do julgamento", explicou o arqueólogo Pedro Luiz Von Seehausen.
O pesquisador trabalha na recuperação do acervo egípcio, que em grande parte foi destruído. "Já encontramos cerca de 300 peças. Ele continua sendo o maior da América Latina", disse. Entre os itens encontrados, está a estatueta em bronze do sacerdote Menkheperrê (1.000 a.C), única no mundo a representá-lo como um faraó.
A equipe de resgate também encontrou dois blocos com vértebras articuladas e outros ossos associados do esqueleto de um dinossauro que estava soterrado por toneladas de escombros que desabaram com o incêndio. Por conta disso, ele foi apelidado de Tiranossauro Fênix.
Com aproximadamente 80 milhões de anos, o fóssil havia sido originalmente resgatado em uma das expedições realizadas entre 2003 e 2006, no município de Tesouro, no Mato Grosso. Segundo especialistas, o processo de fossilização ajudou contra os danos do soterramento.
O chamado crânio de Luzia também foi resgatado. Encontrado na década de 1970, em Minas Gerais, seria o fóssil mais antigo das Américas, responsável por revolucionar as teorias científicas sobre ocupação do continente. Os pesquisadores do Museu Nacional encontraram o crânio e parte do fêmur.
Também foram recuperados os afrescos de Pompeia, que já haviam sobrevivido à erupção do vulcão Vesúvio; parte da Coleção Werner, a mais antiga do museu; o Psaronius brasiliensis, primeiro fóssil de vegetal registrado no Brasil; além de pterossauros da Coleção de Paleovertebrados e meteoritos.
Entre as peças perdidas estão as raras múmias de nativos da Amazônia; coleções botânicas de dom Pedro 2º e grande parte do acervo de insetos do Departamento de Entomologia. O inventário ainda está sendo contabilizado e, em 2021, um livro sobre o resgate do acervo foi lançado.
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