SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Um policial militar que frequenta uma igreja da CCB (Congregação Cristão no Brasil) em Goiânia baleou um homem durante o culto por conta de uma divergência política entre ambos. A briga teria acontecido na quarta-feira (31) após a CCB ter passado uma circular sobre eleições, em que pede aos fiéis para não votar em candidatos que têm plano de governo a favor da "desconstrução das famílias".
O assessor empresarial Davi Augusto de Souza, de 40 anos, foi baleado na perna e levado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), foi submetido a uma cirurgia e passa bem. O irmão de Davi, Daniel Augusto de Souza, postou um vídeo nas redes sociais onde denuncia o que aconteceu.
"Olha lá. Meu irmão foi baleado e eles continuaram com o culto, continuaram com as reuniões, 'normalzinho', como se nada tivesse acontecido. Tem ambulância, polícia aqui na porta, bombeiros chegando", afirmou.
João Bispo é membro da igreja e presenciou toda a cena. Ele afirmou que um cooperador da CCB usou de sua influência, em pleno culto, para defender o presidente Jair Bolsonaro e criticar o partido adversário. David teria então se levantado e rebatido, dizendo que a igreja deveria falar de Jesus.
"Daí chegou o PM e ele foi baleado na perna. O absurdo pior foi que toda a irmandade presente no culto ficou alheia ao ocorrido mesmo vendo a situação e o culto prosseguiu enquanto um de seus fiéis estava ensanguentado", disse.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás informou que o PM estava "em horário de folga" e que, assim que a Polícia Militar tomou conhecimento do caso, foi determinado a instauração de um procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do fato.
"Informamos ainda, que o policial militar apresentou de forma espontânea na delegacia de Polícia Civil para os procedimentos cabíveis", diz a nota, assinada pelo tenente-coronel Dallbian Guimarães Rodrigues.
Segundo a SSP-GO, a Polícia Civil abriu inquérito para apurar a ocorrência e já começou a arrolar testemunhas.
A reportagem tentou, diversas vezes, localizar algum responsável na unidade da CCB no Brás, em São Paulo, que é a unidade central no Brasil, através do telefone, mas os funcionários não sabiam dizer quem poderia falar em nome da igreja.
Ao jornal O Popular, o irmão da vítima disse que as discussões tiveram início um mês após ele e o irmão defenderem posicionamentos contrários à fala do líder da igreja, que segundo ele, passou a pedir membros para não votarem em partidos "vermelhos".
Em circular encaminhada às igrejas da CCB, as lideranças da igreja deixam claro a influência política sobre os fiéis: "Não devemos votar em candidatos ou partidos políticos cujo programa de governo seja contrário aos valores e princípios cristãos ou proponham a desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é, casamento entre homem e mulher", diz a carta, lida durante os cultos.
Na compreensão dos irmãos Davi e Daniel, a circular vai contra o regimento da igreja, que diz: "A CCB não pode ter qualquer vínculo com partidos e ideologias políticas e seus membros, com ministérios ou sem, não podem valer-se do nome da igreja para expor sua opinião política".
Segundo o próprio estatuto da igreja, em seu capítulo I, Art. 1º, a CCB é uma comunidade religiosa apolítica, sem fins lucrativos, constituída de número ilimitado de membros, sem distinção de sexo, nacionalidade, raça, ou cor, tendo por finalidade propagar o Evangelho.
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