Dentro das comemorações do Bicentenário da Independência, o Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial, no Rio de Janeiro, abre suas portas hoje (8) para um encontro do público com o primeiro imperador do Brasil.

Dirigido por Daniel Herz, que assina também o texto junto com os atores João Campany e Roberta Brisson, o monólogo Pedro I pretende questionar valores e atitudes de um dos grandes nomes da história do Brasil, o Imperador Dom Pedro I.

Os ingressos para a peça são gratuitos, mediante retirada de senhas, com classificação a partir de 12 anos de idade, para menores acompanhados dos pais ou responsáveis. As sessões acontecem às quintas e sextas-feiras, às 17h30, e aos sábados e domingos, às 16h.

O texto mistura elementos históricos e fictícios para perguntar ao público se o legado do Primeiro Império é positivo ou não. “Pedro I volta 200 anos depois e tem o delírio de querer reconquistar o poder e voltar a ser imperador do Brasil, em 2022. No mesmo corpo do imperador, o público percebe que tem um ator chamado João, que vai começar a ter um embate com Pedro sobre questões que a gente acha interessante discutir”, disse Daniel Herz à Agência Brasil.

O ator João Campany, idealizador do projeto, vive os dois personagens, que se alternam a partir de um minucioso trabalho de voz e corpo: o primeiro imperador do país e um ator dos tempos atuais, que leva Pedro I a repensar valores, como a relação do machismo, do racismo e a relação dele com as mulheres.

O objetivo do ator João é que Pedro I refaça a declaração da Independência, “porque ele tem uma mãe que morreu e era uma mulher trans que o adotou. Então, ele quer que o imperador refaça a declaração da Independência para que incorpore as lutas dos direitos identitários”, explicou Herz. O embate de ideias leva o público a repensar os atos que moldaram a sociedade brasileira a partir do 7 de setembro de 1822.

Um só corpo

Ao indagar quem está chefiando a Corte atualmente, Pedro I é informado que não há mais Corte e que é de Brasília que o governo atual comanda, mas Pedro entende se tratar de uma mulher chamada Brasília. “Vira uma coisa interessante, porque você tem duas pessoas que pensam a vida completamente diferente e isso tudo no corpo de um ator só, porque é um monólogo. Você tem a presença constante desses dois personagens no corpo só de um ator”, reforçou o diretor. O público é questionado e pode ser convidado a participar da peça em vários momentos.

João Campany destacou que liberdade é diferente de independência. “Dom Pedro proclamou a independência de um país em relação a outro, que o colonizava. Mas será que, com isso, ele realmente garantiu a liberdade das várias etnias que povoam o Brasil?”, indagou.

A também coautora da peça, Roberta Brisson, afirmou que, fazendo uma reflexão sobre esse período histórico, os três autores procuraram entender de onde vêm “muitas questões que se apresentam até hoje pra nós, como o racismo e a misoginia, por exemplo. A ideia de relembrar para não repetir os erros do passado se une à necessidade de lutar, diariamente, por uma sociedade mais igualitária”, salientou Roberta.

Daniel Herz acrescentou que, a partir da provocação feita com base em pensamentos tão diferentes, a ideia é levar à cena reflexões para a construção de um Brasil melhor.

O espetáculo tem apoio institucional do governo do estado do Rio de Janeiro. A peça ficará em cartaz, inicialmente, até 1º de outubro próximo.

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