SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Uma jovem de 22 anos foi agredida após ser acusada de furto em um supermercado em Alfenas (MG). A Polícia Civil informou à reportagem que investigará o caso para apurar o que realmente ocorreu no Supermercado Nobre.
É possível ver que a mulher é negra e tem tranças em vídeo publicado nas redes sociais. Sob denúncias de outras duas clientes não identificadas, a jovem é conduzida por funcionários do supermercado para uma sala isolada do local.
Uma terceira pessoa então pede para que a mulher retire da bolsa o objeto que teria sido furtado. Enquanto ela retira os objetos e põe no chão,
as outras duas mulheres a insultam verbalmente, chamando a jovem de "vagabunda", "vadia" e "sem vergonha".
Além dos xingamentos e ameaças, as mulheres pegam o celular da jovem e uma nota de R$100. No vídeo, é possível ver uma delas martelando um objeto. Após a abordagem, as mulheres mandam a jovem sair e nunca mais voltar ao estabelecimento.
À reportagem, o presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB de Minas Gerais, Marcelo Ladeia Colen Guterres, afirmou que a questão racial também entra em jogo neste caso. "Apenas pessoas negras são tratadas dessa forma. São filmadas, submetidas à violência física e verbal ou, até mesmo como aconteceu em outros casos, torturadas e mortas", disse.
"Quando pedimos igualdade racial, estamos pedindo tratamento igual (aos brancos), que pessoas negras sejam tratadas como pessoas brancas. Não lutamos por privilégios, brigamos por respeito e igualdade, para que as leis sejam seguidas, acrescentou.
Ele comentou que o crime cometido pelos funcionários que fizeram justiça "com as próprias mãos" é pior do que um suposto furto. Segundo o advogado as ações deles configuram cárcere privado, dano ao patrimônio, injúria e lesão corporal.
"A partir do momento que os responsáveis pelo estabelecimento se dispõem a fazer justiça com as próprias mãos, também estão violando a lei e praticando crimes mais graves que se pretendiam coibir".
Guterres afirmou que as leis devem ser seguidas sempre. "O combate de um crime não justifica a prática de outros crimes. Vivemos em uma sociedade regida por leis que valem, ou deveriam valer, para todos, independente da cor da pele, da condição social e se a pessoa está praticando um delito. O correto a se fazer em uma suspeita de furto é acionar a Polícia Militar para que as providências legais sejam tomadas".
Em nota publicada no Facebook, o Instituto de Cidadania e Direitos Humanos da cidade repudiou o ato dos funcionários do supermercado e disseram que trata-se de uma "Manifestação do racismo estrutural da sociedade". "Esse ato de extrema violência contra uma mulher negra é motivo de repúdio e revolta".
O instituto também cobrou que a Justiça aja de maneira correta nesse caso. "Exigimos justiça já, respostas à investigação com condenação rigorosa do estabelecimento e dos autores do fato. Não podemos confundir Justiça com Justiçamento!".
No Instagram, o Supermercado Nobre se posicionou sobre o caso, alegando que "não faz parte da nossa conduta agir dessa forma e estamos cientes de que um fato, uma conduta errada não justifica outro fato ou outra conduta errada".
Segundo a publicação, o caso ocorreu "no calor das emoções" e o estabelecimento reconhece que "a atitude tomada não foi a mais acertada". Ainda segundo a nota de esclarecimento, houve uma "conversa amigável com a família da pessoa envolvida, o valor de R$ 100 e o valor de um telefone celular novo foram restituídos em favor da família".
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