BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Candidatos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) têm usado clubes de tiro para fazer campanha política. Estandes pelo país têm recebido candidatos como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e ex-ministros do governo.

Com as flexibilizações de normas armamentistas no governo Bolsonaro, o número de clubes de tiro cresceu 1.162%, segundo dados do Exército obtidos via LAI (Lei de Acesso à Informação). Até junho, havia no país 1.906 estabelecimentos do tipo, contra 151 no final de 2019.

Também houve um salto no número de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores), que são os principais frequentadores dos clubes. Juntos, os membros dessa categoria já têm em suas mãos mais de 1 milhão de armas.

No último dia 5, Lira foi ao Clube de Tiro e Caça de Arapiraca, em Alagoas. Na ocasião, ele pegou uma arma de cano longo e efetuou disparos. De acordo com uma associação de CACs em Alagoas, o deputado prometeu abrir o seu gabinete para a pauta armamentista.

"Nós estamos aí caminhando o tempo todo, pedindo apoio para que a gente transforme o nosso estado e permaneça o país do jeito que está", disse Lira aos presentes. Vídeos com a fala do parlamentar foram divulgados nas redes sociais da associação.

Procurado pela Folha de S.Paulo, o presidente da Câmara não comentou.

Durante a visita, Lira fez uma chamada de vídeo com o presidente Bolsonaro.

"Lira reeleito federal, reeleito presidente da Câmara. E vamos juntos continuar nessa pauta aí", disse Bolsonaro, em vídeo publicado nas redes sociais. O presidente aproveitou para criticar a decisão do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), que derrubou trechos dos decretos armamentistas editados pelo Planalto.

Lira foi ao clube de tiro com o deputado estadual cabo Bebeto (PL-AL), que é apoiado pelo Proarmas.

O grupo se intitula um movimento pela busca do "direito fundamental" da legítima defesa e luta principalmente em benefício dos CACs. Nesta eleição, deve endossar 80 candidatos a diferentes cargos.

Os candidatos apoiados pelo Proarmas têm realizado visitas aos clubes de tiro para fazer campanha. Um deles é Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário de Aquicultura e Pesca do governo Bolsonaro.

Seif esteve num clube catarinense em julho deste ano.

Ambos não responderam a questionamentos enviados pela Folha de S.Paulo.

Um mote do governo Bolsonaro é a facilitação da compra de armas. Além de estimular o cidadão comum a se armar, o presidente deu acesso à população a calibres mais poderosos.

O governo federal já editou 19 decretos, 17 portarias, duas resoluções, três instruções normativas e dois projetos de lei que flexibilizam as regras de acesso a armas e munições.

Filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro também tem buscado eleitores em clubes de tiro. No Centro de Tiro Jaú, na cidade do interior de São Paulo, ele criticou decisões tomadas pelo ministro Fachin.

"Você vê o Fachin, essas decisões aí para mim são totalmente inconstitucionais, embasadas em pareceres, papéis de ONGs. Pelo amor de Deus, ninguém votou em ONG, ninguém votou no Instituto Igarapé, sabe? Esses caras que estão muito mais como defensores de maconheiros que defensores da legítima defesa", disse Eduardo, numa fala feita dentro do estande de tiro. Ele foi acompanhado na agenda pelo deputado estadual bolsonarista Gil Diniz (PL-SP).

Procurado, Eduardo Bolsonaro não se manifestou.

O centro de tiro em Jaú postou uma foto do filho do presidente em seu site e disse ser a segunda visita de Eduardo ao local. "Ambos são armamentistas [Eduardo e Gil Diniz] e ouviram as sugestões e pedidos dos CACs que se fizeram presentes", declarou o clube na publicação.

A candidata a deputada estadual Leticia Mattos (PL-SC), também apoiada pelo Proarmas, gravou um vídeo da sua campanha num clube de tiro. Ela falou sobre o Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização pelo fim da violência contra a mulher.

"Estamos em pleno Agosto Lilás, mês dedicado ao combate à violência contra a mulher. Podem inventar de tudo, fazer todas as leis, mas o que realmente importa é isso aqui como medida protetiva", disse, ao pegar uma arma e disparar contra o alvo.

A candidata também foi procurada pela Folha de S.Paulo, mas não respondeu.

O delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), candidato a deputado federal, tem divulgado nas redes sociais agendas de campanha em clubes de tiro. Entretanto, diz que alguns estabelecimentos se recusam a recebê-lo.

O candidato teve a demissão aprovada em julho pelo Conselho da Polícia Civil de São Paulo, em razão da divulgação nas redes sociais de um vídeo. Conforme entenderam os delegados da Corregedoria da instituição, o material faz apologia dos crimes de estupro e racismo.

Procurado, Bilynskyj disse que o clube de tiro é um espaço de reuniões de pessoas com pensamentos em comum que sabem a importância do acesso às armas.


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