SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na manhã de sábado (17), uma baleia-jubarte foi encontrada morta na Praia do Félix, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo.

Segundo o instituto de preservação marinha Argonauta, acionado para manuseio do animal, o mamífero era um macho de aproximadamente 13 metros. Uma jubarte adulta (Megaptera novaeangliae) pode atingir 15 metros.

Agora pesquisadores devem analisar amostras de pele, gordura e músculos da baleia para averiguar a causa da morte. O cadáver foi enterrado com auxílio da Prefeitura de Ubatuba.

Em 2021, o encalhe de baleias-jubarte no litoral brasileiro atingiu um número atípico. Segundo levantamento do Projeto Baleia Jubarte, até 22 de dezembro, foram 216 episódios, recorde na série histórica iniciada em 2002.

A distante segunda colocação ficou com 2017, com 122 encalhes.

O crescimento do número de encalhes ainda não tem uma explicação precisa. Mas, segundo Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte, em entrevista à Folha no ano passado, a principal hipótese é a diminuição de krill.

O krill (minúsculos crustáceos) é um dos principais alimentos das jubartes, que também comem pequenos peixes. As baleias sugam a água do mar e "filtram" suas presas.

Além do recorde em 2021, houve outro fator atípico nos registros. Quase 95% dos animais encalhados eram juvenis ?animais de um até cinco anos, quando atingem a maturidade sexual. A expectativa de vida de uma jubarte é, segundo cientistas, de 60 anos.

"Nunca tivemos uma porcentagem tão grande de uma categoria", afirma o especialista.

O encalhe de juvenis magros é mais uma pista, segundo Marcondes, de que a falta de krill talvez tenha sido a responsável pela situação em 2021. Isso porque, em caso de escassez de alimentos, mais experiência (ou seja, mais anos de vida no mar) pode ajudar na captura de comida.

Com isso, os mais jovens encontrariam mais dificuldade nesse cenário e chegariam ao litoral brasileiro sem terem se alimentado adequadamente.

Os animais adultos também têm maior capacidade para armazenar gordura, outra vantagem em relação aos juvenis.

As jubartes que nadam pela costa brasileira, em geral, se alimentam nas águas antárticas da Geórgia do Sul e vêm ao Brasil para se reproduzir. Por sinal, o Parque Nacional Marinho de Abrolhos é conhecido como um importante berçário dessas baleias no oceano Atlântico Sul, proporcionando turismo de observação de cetáceos na área.

Outro sinal da falta de krill são as baleias que se aproximam da costa em busca de peixes. São Paulo e Santa Catarina, estados com grandes cardumes, são os líderes em encalhes. Houve registros, disse Marcondes, de animais entrando em currais de pesca no mar atrás de alimento e ficando presos nas redes.

Outro recorde em 2021 foi o número ?subestimado? de animais presos em redes de pesca: 58 (desses, nem todos morreram). Com pescadores e baleias indo atrás do mesmo recurso, acidentes do tipo acabam se tornando mais prováveis.

Por fim, outra sinalização da falta de krill veio de longe do Brasil. Pesquisadores da Namíbia, na África, entraram em contato com o pesquisador do Projeto Baleia Jubarte e afirmaram que também estavam com registros acima do normal de encalhes e de indivíduos jovens.


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