LISBOA, PORTUGAL, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O surto de varíola dos macacos no Brasil dá sinais de declínio, repetindo a tendência de queda observada em alguns países europeus pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Porém, especialistas, tanto daqui quanto de fora, veem o recuo com cautela e defendem a manutenção de medidas para controlar o surto da doença.
"Assim como com a Covid-19, não é momento de baixar a guarda", afirmou, no último dia 14, o diretor-geral da OMS", Tedros Adhanom.
No Brasil, segundo o último boletim epidemiológico sobre a doença feito pelo COE (Centro de Operações de Emergências) ligado ao Ministério da Saúde, a queda da média móvel de casos é registrada desde a primeira semana epidemiológica de agosto, entre os dias 7 e 13 daquele mês.
Mesmo com a contração, agosto respondeu pelo maior número de notificações da doença: 3.699 casos. A soma é o dobro da registrada em julho.
A queda mais substancial se deu na última semana epidemiológica registrada pelo COE, entre os dias 28 de agosto e 3 de setembro. A média móvel de casos para esse período foi de 35 novos diagnósticos. Na semana anterior, era de 107.
O boletim também reporta que somente dois estados do Brasil continuam sem ter casos de varíola dos macacos: Amapá e Rondônia.
São Paulo continua sendo a unidade da Federação com maior número de diagnósticos: 57% dos testes positivos são no estado.
O cenário de diminuição não deve ser visto necessariamente como um arrefecimento da disseminação do vírus, afirma Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo). Ela ressalta que existem poucos laboratórios de testagem no Brasil --no total, são somente oito.
Isso ocasiona uma demora entre o envio da amostra e o resultado do teste, o que pode resultar em um número de casos não contabilizados, afirma Maciel.
"No Brasil, não temos certeza se essa retração está acontecendo ou se é um problema de diagnósticos", resume.
Outro fator mencionado pela epidemiologista é que os sintomas da doença, como as vesículas pelo corpo, podem aparecer de forma sutil. Para Maciel, isso colabora com um possível número de casos que deixa de ser diagnosticado. "Às vezes, é uma ou duas lesões e a pessoa acaba não procurando o diagnóstico."
Com essas ressalvas, a epidemiologista recomenda que medidas de prevenção continuem sendo tomadas. Algumas delas são evitar contato com suspeitos da doença, isolamento daqueles que apresentarem sintomas, como o aparecimento de lesões, e vacinação.
Na Europa Alguns países europeus já viram redução nos casos da infecção. Um deles é Portugal que está com queda há mais de um mês. O país, que já chegou a ter mais de 60 diagnósticos semanais, registrou dez novas infecções na última semana.
A redução sistemática dos casos em território português foi destacada pelo último relatório do ECDC (Centro Europeu de Controle das Doenças). No documento, que considera os resultados de 43 países, Portugal aparece com a terceira maior redução, atrás apenas da Letônia e da Eslováquia.
Lista **** Autoridades sanitárias do país, no entanto, pedem cautela frente ao cenário epidemiológico. Responsável pelo grupo de trabalho da DGS (Direção-Geral da Saúde) para lidar com o vírus no país, a infectologista Margarida Tavares relembra os cenários de aumentos e quedas vividos na pandemia da Covid-19 e destaca que as infecções virais muitas vezes têm dinâmicas cíclicas de contágio.
"Podemos ter o fim de uma onda mas que, rapidamente, poderia ser seguida por outra. Mesmo a OMS (Organização Mundial da Saúde) tem sido muito cautelosa com essa redução", pondera.
"Mas factualmente sim, é verdade, temos uma diminuição dos casos. Aliás, Portugal foi um dos primeiros países a estabilizar e agora a ter uma tendência decrescente", completa a médica.
Segundo o último boletim oficial, Portugal tinha 908 casos confirmados de varíola dos macacos até a última quarta-feira (14).
Na vizinha Espanha, que também vinha com uma tendência de decréscimo em agosto, o número de novos casos voltou a subir na última semana. As 198 infecções, no entanto, ainda permanecem bem abaixo das 778 registradas na primeira semana de julho.
Uma vez que agosto é o principal mês de férias de verão na Europa, alguns especialistas também acautelam que pode ter havido redução nas testagens.
"A dúvida é se houve uma redução real ou se é um efeito do mês de agosto, quando pode ter havido dificuldades diagnósticas por conta das férias. Ou se é uma combinação de ambas essas coisas", pondera o epidemiologista espanhol Joan Caylá, em entrevista ao jornal El Independiente.
Com 6.947 diagnósticos do vírus desde o início do surto fora da África, a Espanha permanece como o segundo país com mais infecções confirmadas no mundo, atrás apenas dos EUA, que têm mais de 21,5 mil casos.
Portugal, que já chegou a contabilizar mais de 60 casos em uma semana, registrou 27 infecções pelo vírus no último boletim semanal do governo, divulgado na última quinta-feira (15).
Recentemente, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que o declínio de novas infecções em nível mundial pode ser um indicativo de que o surto está sendo contido.
Na União Europeia, os países têm agora se movimentado para aumentar a vacinação.
A decisão da Agência Europeia do Medicamento de permitir a técnica de administração intradérmica da vacina, anunciada em meados de agosto, está ajudando a ampliar a oferta do imunizante no continente. O uso desse método permite administrar doses mais baixas, multiplicando a quantidade de pessoas imunizadas.
Stella Kyriakides, comissária europeia da Saúde, classificou a decisão como "extremamente importante", uma vez que "permite a vacinação de cinco vezes mais pessoas" com o estoque de vacinas disponíveis.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde anunciou, na última quinta (15), que irá começar a vacinação preventiva contra a doença, utilizando justamente esse método.
Os grupos prioritários ainda não foram definidos, mas devem incluir pessoas que já fazem uso de profilaxia pré-exposição ao HIV (conhecida como Prep) e profissionais de saúde.
Até agora, o país vinha adotando a política de vacinar pessoas que haviam tido contatos próximos e prolongados com pacientes com diagnóstico do vírus. Essa política irá se manter.
"No início, todos os países começaram por vacinar os contatos próximos dos casos. No entanto, isso revelou-se difícil e pouco eficaz por muitos motivos", diz a infectologista Margarida Tavares.
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