SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O aumento do número de casos de gripe no estado de São Paulo refletiu nos corredores de prontos-socorros, acendendo um alerta para a possibilidade de novo surto no país.
Nos hospitais infantis Sabará, Darcy Vargas e Cândido Fontoura, na capital paulista, a alta na procura por atendimento foi de 20%. O crescimento se repetiu nas unidades pediátricas do Hospital Albert Einstein e da rede NotreDame Intermédica, que também fica na cidade.
Segundo Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, iniciativa conduzida pela Fiocruz para monitoramento de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) no país, cerca de 20% dos exames laboratoriais realizados nas últimas quatro semanas em casos de SRAG no estado de São Paulo tiveram resultado positivo para influenza, um aumento, segundo ele, incomum nesta época do ano.
Neste momento, os casos estão mais concentrados em crianças e na capital, mas podem se espalhar para outras faixas etárias e regiões.
"Qualquer vírus respiratório que começa a circular com maior intensidade em São Paulo pode se espalhar para outras capitais porque o fluxo de pessoas é muito grande. Serve de sentinela para o restante do país. Se São Paulo já está começando, é bom mantermos o alerta para não perdermos oportunidade de ação", diz Gomes.
No país, entre os casos de SRAG notificados entre 21 de agosto e 17 de setembro, 9,7% apontaram influenza A, 0,8%, influenza B; 8,6%, vírus sincicial respiratório e 55,8%, Sars-CoV-2.
No boletim InfoGripe anterior, que abrange o período de 14 de agosto a 10 de setembro, esses números eram respectivamente 5,9%, 0,4%, 6,7% e 63%.
Pesquisadores aguardavam que o vírus se manifestasse com mais força no final do primeiro semestre, porém não foi o que aconteceu. À época, os casos associados à gripe começaram a subir, mas logo os de Covid voltaram a crescer e dominaram o cenário.
Pouco depois, com o término das férias escolares, muitas crianças ficaram doentes, mas a influenza não foi identificada como vírus dominante, o que começou a mudar nas últimas semanas. "Começamos a observar, principalmente na capital paulista, um novo crescimento, com resultados laboratoriais positivos para influenza A, principalmente H3N2", afirma Gomes.
Segundo o pesquisador, ainda não há um motivo claro para a quebra da sazonalidade da influenza. O uso de máscara e o distanciamento social impostos pela pandemia de Covid-19 diminuíram drasticamente a circulação de vírus respiratórios, mas, desde que esses cuidados foram reduzidos os vírus, parecem circular de forma diferente.
"Se pensarmos no final de novembro, começo de dezembro do ano passado, havia uma variável comportamental muito forte: foi quando começamos a circular e a nos expor mais. O vírus H3N2 que estava ali esperando veio e tivemos um surto de gripe fora de época. Neste ano, já não temos uma mudança de comportamento", acrescenta ele.
Uma hipótese é que os vírus competiriam entre si e que a maior circulação de Sars-CoV-2 em determinados momentos poderia gerar uma espécie de barreira para outros vírus respiratórios, porém ainda são necessários estudos que demonstrem esse efeito. "O fato é que, sim, a sazonalidade da gripe foi quebrada. Se ela vai voltar, é algo que o tempo vai dizer", diz Gomes.
O aumento de casos fora de época preocupa porque o início da primavera é um período tradicionalmente associado ao aumento de problemas respiratórios em crianças. "Geralmente, temos dois períodos mais críticos no ano: de março a junho e depois em outubro. Porém, estamos observando uma alta demanda desde agosto do ano passado", conta Thales Araújo, gerente médico do pronto-socorro do Sabará.
Araújo relata que, principalmente nos últimos cinco dias, houve um aumento de crianças que chegam com congestão nasal e febre alta e que testam positivo para o influenza.
A alta também foi observada nos prontos-socorros dos hospitais Darcy Vargas e Cândido Fontoura, referências estaduais para atendimento pediátrico. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, os principais diagnósticos são de casos gripais, envolvendo basicamente febre, tosse, coriza, dor de garganta e chiado no peito.
De acordo com a pasta, com a redução e oscilação das temperaturas desta época do ano, é comum o aumento de hospitalizações de crianças por SRAG.
No caso do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, referência no atendimento de crianças e adolescentes na capital paulista, 40% da procura por atendimento está associada a sintomas respiratórios, que podem estar relacionados a alergias e vírus. Não houve, contudo, aumento no fluxo de pacientes nas últimas semanas.
PREVENÇÃO
Gomes e Araújo ressaltam a importância da vacinação, ainda mais em momentos como este. No fim de junho, a cobertura vacinal contra gripe na capital estava em 55%, bem abaixo da meta de 90%.
"Em novembro de 2021, a vacina não era compatível com a cepa do H3N2 que acabou circulando. A vacina contra gripe deste ano contempla a cepa do H3N2 que está em circulação, mas vimos que a adesão foi muito baixa. A vacinação reduz o risco de casos graves por influenza", afirma Gomes.
Para ele, é preciso usar não apenas o coronavírus como parâmetro de cuidados no nível populacional, mas também vírus como o sincicial, que pode levar a complicações e internações de crianças. Ele defende manter o aprendizado proporcionado pela pandemia e o uso de máscaras em momentos como este, de aumento do influenza e risco de um novo surto no país.
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