BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Grandes empresários, donos de clubes de tiro, proprietários de lojas de armas e CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) ajudam a bancar campanhas de candidatos comprometidos com a pauta armamentista.

Fazem parte da lista empresários ligados a grupos como Riachuelo, Havan, Três Corações e Localiza, além de nomes do agronegócio.

As doações citadas são de candidatos que recebem apoio do Proarmas. A entidade se autointitula um movimento pela busca do "direito fundamental" da legítima defesa e apoia postulantes a diferentes cargos na eleição de outubro.

Em comum, todos são favoráveis à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), um incentivador do armamento da população. Como a Folha mostrou, o Proarmas ofereceu apoio a candidatos que querem disputar uma vaga no Congresso em troca de cargos dentro dos gabinetes.

A Folha consultou as doações feitas a 91 candidatos --alguns ainda não fizeram a prestação parcial de contas. Juntos eles já receberam mais de R$ 50 milhões, sendo R$ 100,1 mil por meio de financiamento coletivo. As informações são disponibilizadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O dono da Havan, Luciano Hang, doou R$ 300 mil para Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário da Pesca do governo Bolsonaro. A assessoria da Havan divulgou na terça-feira (20) que o empresário fechou sua agenda até a data da eleição para percorrer as cidades catarinenses ao lado do candidato ao Senado. Eles estão sendo recebidos por empresários, prefeitos e lideranças locais.

Os irmãos Lisiane, Flávio e Elvio Rocha, donos da rede de lojas Riachuelo, doaram R$ 199,8 mil para Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional de Bolsonaro.

Pedro Lima, presidente do Grupo 3 Corações, também doou R$ 75 mil para Marinho. O candidato tenta uma vaga ao Senado.

Os empresários foram procurados, mas não se manifestaram.

Salim Mattar, fundador da Localiza e ex-secretário de desestatização do governo Bolsonaro, fez doação para os candidatos Paulo Martins (PSC-PR) e Alexandre Freitas (Podemos- RJ). O primeiro tenta uma vaga para o Senado e o outro para a Câmara dos Deputados.

Segundo nota enviada pela assessoria de comunicação de Mattar, os nomes apoiados foram escolhidos pelo engajamento às ideias liberais e não para candidatos de movimentos específicos.

Políticos também fizeram doações para candidatos armamentistas, entre eles o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), contrário à pauta. O parlamentar doou R$ 50 mil para Magno Malta (PL-ES), que tenta uma vaga para senador pelo Espírito Santo.

"A doação não tem relação com armas, continuo contrário a essa política equivocada. Há pautas com Magno Malta que me identifico, como a defesa da vida desde a concepção, contra a liberação da maconha e jogos de azar. Se você tem 80% dos mesmos ideais com alguém, você já pode se considerar um aliado", disse o senador.

Donos de clubes de tiro, lojas de armas e CACs também doaram para candidatos apoiados pelo Proamas. Esse grupo enviou quantias principalmente através do financiamento coletivo.

Foram 913 doadores que usaram essa ferramenta para seis candidatos: César Mello (PSC-PR), Marcos Pollon (PL-RS), Alexandre Freitas (Podemos-RJ), Dárcio Bracarense (PL-ES), Paulo Bilynskyj (PL-SP) e Flávio Pacca (PTB-RJ).

César Mello lidera o número de doações recebidas por meio da "vaquinha virtual", recebendo R$ 51,6 mil. "As pessoas doam porque acreditam na legitimidade democrática da pauta", disse o candidato.

Edison Fernandes Cazella, que doou R$ 150 para o candidato, aparece no site da Receita Federal como presidente do Clube Associados do Tiro Esportivo. Procurado pela reportagem, ele não quis se manifestar.

O sócio-diretor do Espaço Tático W.S, Wilson Saldanha, doou R$ 500 para o candidato Flávio Pacca (PTB-RJ). O empresário disse que a doação foi feita em razão de uma amizade de 30 anos com Pacca e também por causa da pauta armamentista. "Ele me pediu: 'amigo, pode ajudar?'. Ajudei", disse.

Como a Folha mostrou, candidatos defensores da pauta armamentista e alinhados ao presidente Bolsonaro têm usado clubes de tiro para fazer campanha política.

Com as flexibilizações de normas armamentistas pela atual administração, o número de clubes cresceu 1.162%, segundo dados do Exército obtidos via LAI (Lei de Acesso à Informação). Até junho, havia no país 1.906 estabelecimentos do tipo, contra 151 no final de 2019.

Também houve um salto no número de CACs, que são os principais frequentadores dos clubes. Juntos, os membros dessa categoria já têm em suas mãos mais de 1 milhão de armas.

Os CACs foram grandes beneficiados com a política armamentista da gestão Bolsonaro. Candidatos ligados à pauta pedem votos também para o mandatário.

Outros candidatos à Presidência já prometeram rever as flexibilizações de normas feitas no atual governo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto, reforçou seu posicionamento contrário ao armamento da sociedade. Disse ser necessário ter bom senso.

"Ninguém vai proibir que o dono de uma fazenda tenha uma, duas armas. Agora, se ele tiver 20, não é mais uma arma para defesa. Trinta, pior ainda. É apenas o bom senso", afirmou em entrevista ao Canal Rural, exibida na noite desta quarta-feira (21).

No governo Bolsonaro, por exemplo, não há mais divisão por nível de atirador desportivo. Qualquer um pode comprar até 60 armas, podendo chegar a adquirir 180 mil munições anualmente.

Antes, o atirador era dividido em três níveis. O maior nível, aquele que participa de campeonatos nacionais, poderia comprar até 16 armas e 40 mil munições ao ano.

Nos dois casos, o atirador poderia adquirir armas de uso restrito. Entretanto, com base na em uma decisão monocrática do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, o Exército suspendeu a autorização desse tipo de arma para os CACs. Por nove votos a dois, a corte confirmou posteriormente a decisão de Fachin.


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