SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Governo do Estado de São Paulo conseguiu um empréstimo de US$ 164 milhões (R$ 847,4 milhões) junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para investimentos em inclusão digital e telemedicina. O objetivo é diminuir a fila de espera para atendimento no SUS com a ampliação do serviço.

O estado definiu quatro componentes para o investimento: ampliação da plataforma de serviços, inclusão digital, transparência e a saúde digital, este último apontado como o mais delicado.

"Que a gente possa garantir a telemedicina de especialidades, o tão esperado e necessário histórico clínico digital. Fazer com que o sistema digital possa interagir com o sistema de saúde", diz Marcos Penido, secretário de Governo do Estado de São Paulo.

"Ele [sistema digital] nunca irá suprir uma consulta pessoal, mas poderá, através do histórico, facilitar o médico, facilitar as orientações no dia a dia, no acompanhamento, seja de consulta ou num pós-operatório. Ter tudo isso integrado."

O conceito de telemedicina é a prática médica por meio de tecnologias de comunicação e informação.

O projeto que regulamenta a telessaúde no país foi aprovado na Câmara dos Deputados em abril deste ano e está em discussão no Senado. Na cidade de São Paulo, um projeto regulamentando o serviço foi aprovado em outubro de 2021.

Já existe uma resolução do Conselho Federal de Medicina que instrui e regulamenta o uso da telemedicina por parte dos médicos, com as regras que devem observadas no atendimento remoto de seus pacientes.

Chao Lung When, professor da Faculdade de Medicina da USP e responsável pela revisão técnica do projeto aprovado na capital paulista, defende duas terminologias: telemedicina de logística, que aumentaria a eficiência do sistema de saúde usando os meios digitais, e telessaúde integrada, quando é feita uma linha de cuidado com o paciente, que seriam ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação.

"O Brasil perde muito dinheiro por desperdício. Seria prioridade investir em telemedicina e telessaúde. Com isso, nós conseguiríamos reduzir muito o desperdício e aumentar a eficiência da resolução dos problemas", diz o professor.

Em algumas regiões da capital paulista, o tempo de espera para uma consulta médica na rede de atenção especializada pode passar dos 100 dias, de acordo com o boletim anual da Ceinfo (Coordenação de Epidemiologia e Informação) da Secretaria Municipal de Saúde.

Para When, a telemedicina ajudaria a diminuir essa fila. "Principalmente se fizermos a teletriagem referenciada, porque nós poderíamos identificar as situações mais graves ou prioritárias para atendimento. Quase 70% das situações poderíamos resolver na modalidade não presencial."

Antonio Carlos Endrigo, diretor de Tecnologia da Informação da APM (Associação Paulista de Medicina), também entende que o serviço poderá favorecer os casos mais urgentes. Porém, diz que ainda é necessária uma melhor capacitação.

"Para uma ampliação do uso da telemedicina, um dos pontos que mais nos preocupa é a capacitação dos médicos no relacionamento com seus pacientes de forma remota. Então, nós da APM recomendamos que os médicos façam um treinamento para esse tipo de atendimento."

O aporte à telemedicina deverá começar quando todos os trâmites do empréstimo do BID forem realizados. Segundo o estado, o processo está sendo finalizado, como a interiorização dos recursos e a contrapartida --que será de R$ 61 milhões, de acordo com Marcos Penido.

OUTRAS FRENTES DIGITAIS

O crédito do BID também será usado para a ampliação dos serviços digitais no estado. A ideia é que todo o sistema possa ser integrado. Isso inclui a modernização da plataforma Poupatempo Digital e ações para aprimorar a conectividade para a população vulnerável.

Segundo o estado, hoje são 238 serviços disponíveis na plataforma Poupatempo Digital. O objetivo é fechar o ano com 250.

"Por exemplo: temos a Isabella [nome fictício] que mora em Apiaí, no Vale do Ribeira. Isabella é uma pessoa não alfabetizada, que não tomou a vacina contra a Covid e tem direito à Bolsa do Povo. Em vez de ela procurar o serviço, nós que vamos identificá-la. Poder fazer com que todos os sistemas conversem", explica o secretário de Governo.

O exemplo citado por Penido está alinhado ao investimento em alfabetização digital para mulheres, um dos outros tópicos que estão incluídos no programa, assim como a universalização da tecnologia para pessoas com deficiência para a digitalização de serviços públicos estaduais.

Para Lúcia Dellagnelo, diretora-presidente do CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), a pandemia mostrou que ainda existem muitas pessoas desconectadas, que não têm acesso à internet.

"Mesmo as que têm, vivem em uma situação de vulnerabilidade que não sabem usar a internet para o seu desenvolvimento."

"A conectividade hoje é um serviço de infraestrutura básica. Nas escolas, a gente diz que é igual luz elétrica. Existe uma parcela de população que não aproveita os benefícios que a tecnologia pode gerar porque não tem essa capacidade de usar a tecnologia desse modo inteligente e produtivo", diz.


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