SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Ministério Público de São Paulo deu dez dias de prazo para o Metrô e o CEML (Consórcio Expresso Monotrilho Leste) explicarem se a linha 15-prata oferece riscos tanto aos usuários do sistema quanto a pedestres e ciclistas que passam sob a via.
O ofício faz parte de despacho assinado nesta segunda (27) pelo promotor Silvio Antonio Marques, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, que apura a queda de um bloco de concreto na última quinta (22), na ciclovia da avenida Professor Luiz Ignácio Anhaia Mello, altura do número 4.501, na zona leste da capital. Ninguém ficou ferido.
O buraco foi aberto na junta que liga vigas entre as estações Oratório e Parque São Lucas. Ninguém foi atingido, mas pedaços de concreto ficaram espalhados pela via de ciclistas e pelo gramado ao lado após a queda de aproximadamente 15 metros de altura.
O despacho foi anexado ao inquérito civil que apura irregularidades na linha desde 2020, quando o estouro do pneu de um trem fez com que o monotrilho ficasse fechado aos usuários por mais de três meses.
O inquérito civil do Ministério Público apontou que o estouro do pneu foi provocado por problemas de projeto e execução da linha, assim como no projeto, fabricação e montagem dos trens.
No ofício desta segunda, o promotor também pede ao Metrô e ao consórcio responsável pela obra da linha 15-prata documentos e eventual relatório técnico relativo à segurança da estrutura.
Em uma apuração interna, Marques solicita com urgência ao CAEx (Centro de Apoio Operacional à Execução), do Ministério Público, parecer técnico de engenharia para apurar os motivos que levaram à queda de parte da estrutura em uma ciclovia e sobre a existência de riscos.
O despacho cita também investigação sobre supostas infiltrações e defeitos na execução do projeto que provocaram a queda do bloco de concreto.
O Metrô diz que vai prestar todos os esclarecimentos, assim que solicitado. Na nota, a empresa do governo estadual afirma que há segurança na operação e que o ocorrido não afetou a circulação dos trens, nem interferiu no transporte dos passageiros.
Na segunda (26), o Metrô afirmou que não houve queda de bloco de viga ou de estrutura. Segundo a empresa, durante trabalhos de manutenção da linha, na quinta (22), "uma camada de cimento em excesso foi retirada". "Não houve qualquer dano à estrutura", afirmou.
O CEML também diz que prestará esclarecimentos às autoridades no prazo solicitado. E, como havia afirmado na segunda, o consórcio repete em nota que a queda do bloco de concreto se trata de um evento pontual e isolado e que está realizando vistoria completa na junção das vigas, de forma cautelar e preventiva.
A nota afirma ainda que o consórcio constituiu grupo de trabalho técnico para apurar as causas do ocorrido.
Roberto Racanicchi, engenheiro civil e representante do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo), explica que as vigas são pré-moldadas e içadas inteiras sobre as pilastras de sustentação. Lá em cima é preciso fazer juntas de concreto, com as mesmas características do restante da linha. Foi em uma dessas ligações que ocorreu o problema.
"Nessas juntas há tendência de desgaste mais rápido, por causa da circulação dos trens", afirma. "Nos elementos principais não vai acontecer nada durante muito tempo, pois a segurança é muito alta. Mas nestas junções, a manutenção periódica é fundamental para a prestação de serviços eficiente e para se evitar acidentes."
O monotrilho acumula uma série de acidentes nos últimos anos. O estouro de um pneu, em março de 2020, lançou uma placa de metal que caiu na avenida Sapopemba.
Antes, em janeiro de 2019, dois trens se chocaram na estação Jardim Planalto. Um dia depois, um equipamento chamado terceiro trilho se soltou e ficou pendurado a 15 m do solo. Depois, o muro de uma das novas estações desabou sobre a escada que dá acesso à plataforma.
A sequência de ocorrências fez o Ministério Público instaurar o inquérito civil.
Na última sexta-feira (23), os trens da linha 15-prata circularam em velocidade reduzida durante 15 horas, segundo o Metrô, por causa de uma falha no sistema de alimentação elétrica na região da estação Fazenda da Juta.
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