SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A importância do diagnóstico precoce do câncer de pulmão, uma doença silenciosa, foi um dos principais temas de seminário promovido pelo jornal Folha de S.Paulo2 na última terça-feira (27).
Participaram da discussão Ubiratan de Paula Santos, coordenador do ambulatório de doenças respiratórias ocupacionais e ambientais do InCor; Maurício Perroud, responsável pelo serviço de oncopneumologia do Hospital de Clínicas da Unicamp; Heraldo Rocha, médico pediatra e paciente oncológico; e Aknar Calabrich, oncologista da clínica AMO/Dasa.
A conversa foi mediada pela jornalista Carol Marcelino, e o evento foi patrocinado pela Dasa Oncologia.
"O diagnóstico é uma jornada difícil. Requer uma série de exames, como biópsias, testes de imagem e testes moleculares com análise de material genético. Precisa de cirurgião, radiologista. Às vezes o acesso é difícil, mas um diagnóstico rápido aumenta as chances de cura", diz Aknar.
Perroud explica que uma detecção precoce da doença aumenta o número de pacientes que poderiam ser operados, a forma mais eficaz de combate ao câncer.
"Hoje, cerca de três quartos dos pacientes procuram o médico quando o câncer já está em estado avançado. Dos 25% restantes, muitos são idosos, com outras doenças, sem condições clínicas para passar por cirurgia", afirma.
O tabagismo é, de longe, a principal causa do câncer de pulmão, mas sua contribuição para o número total de doentes já foi maior, afirma Ubiratan.
Assim, não fumantes, principalmente aqueles expostos à poluição do ar ou cujo trabalho envolva convívio com agentes cancerígenos, precisam ficar atentos.
"Se a pessoa mora num lugar poluído ou tem exposição ocupacional, merece um rastreamento mais intenso", afirma o médico.
Doenças respiratórias como enfisema pulmonar e fibrose pulmonar também podem aumentar o risco de câncer de pulmão.
"É claro que muitas vezes as pessoas recebem essas notícias [a descoberta dessas doenças] porque também são tabagistas, mas outras coisas, como exposição a fumaça e poeira, também podem levar a elas", afirma Ubiratan.
Ele diz que a asma, por sua vez, não está associada ao aumento de risco.
Heraldo, que tem 80 anos, conta que descobriu a doença em exames de rotina. "Eu fui um grande tabagista. Tenho vergonha em dizer isso como médico e político [ele foi deputado estadual pela Bahia entre 1991 e 2011], mas é verdade. A vida é muito estressante. Mas agora não consigo nem sentir o cheiro do cigarro."
Ele conta ter sofrido durante o período de quimioterapia, quando tinha dificuldades para comer e dormir, mas diz que a imunoterapia, adotada depois, foi mais tranquila.
De acordo com Aknar, a alternativa no tratamento contra o câncer é nova.
"Foi nos últimos anos que novos medicamentos conseguiram fazer com que o sistema imunológico fosse ativado contra tumores", diz.
Ela conta que esse tipo de tratamento tem bons resultados até em pacientes já com a doença avançada, com metástase, que respondem muito bem ao tratamento.
É importante dizer, porém, que a imunoterapia não funciona para todos e que cada tratamento é individualizado.
Os convidados também discutiram políticas que poderiam ser implementadas para o combate à doença.
"O câncer de pulmão é subnotificado. Temos oficialmente 30 mil casos por ano, mas os EUA, que têm sistema melhor de notificação, têm 230 mil. Além disso, o diagnóstico precoce deve vir acompanhado de uma estrutura para que o paciente consiga ser tratado", diz Perroud.
De acordo com Heraldo, o combate às neoplasias deve ser uma política pública.
"É preciso que a sociedade discuta. É preciso que haja informação", afirma.
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