SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O jornaleiro Gino Esposito, 65, morador do Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro, não tinha pretensões de encarnar a principal figura do Natal. Foi a brincadeira de um amigo sobre a sua barba grande, combinada a um anúncio de curso para o personagem, que deu início à carreira.
Dez anos e muitos eventos depois, ele segue atuando como um das 700 pessoas formadas gratuitamente pela Escola de Papai Noel do Brasil, fundada há 29 anos na capital fluminense. "A gente gosta. Isso se tornou, como se diz na gíria, uma cachaça", diz Gino, que continua participando dos cursos para reciclagem.
Com o passar do tempo, vieram mudanças. Limachém Cherém, nome artístico de Sebastião Benedito Cherém, 66, idealizador da escola, diz que as orientações de diversidade foram reforçadas para resguardar profissionais e crianças contra assédio e facilitar o contato com os diferentes públicos.
"Tem senhores de muita idade que ainda não aceitam, mas na escola a gente orienta sobre casais homoafetivos. Se chega uma família de dois rapazes e uma criança, tem que respeitar. Além disso, normalmente não se coloca mais a criança no colo, só se é muito bebezinho e a mãe coloca", afirma o fundador da escola.
A novidade para 2022 é o ensino da Libras (Língua Brasileira de Sinais), para ampliar as ferramentas de comunicação com o público de surdos e deficientes auditivos. A primeira aula aconteceu nesta terça (4), no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, na zona norte carioca.
O paulista José Luiz Barros, 71, foi ao Rio de Janeiro para fazer a aula inaugural. O profissional também é um dos alunos antigos da escola.
Como a de Gino, sua história também começou como brincadeira, quando Barros, já aposentado, resolveu ir trabalhar na banca de jornal que mantinha com um gorro de Natal. O filho disse que, para ir vestido de Papai Noel, era preciso usar a roupa inteira.
Desde então, o aposentado faz eventos na época de Natal em Suzano, na Grande São Paulo, parte deles como voluntário.
"O que posso falar é da emoção mesmo, de ser Papai Noel na época em que atendi as crianças no Hospital do Amor [que cuida de crianças com câncer em Barretos, no interior paulista]. De todo o meu trabalho, a maior emoção de vida foi lá".
O trabalho voluntário também encantou o aluno iniciante Paulo Roberto Santos, 63, de Bangu, bairro da zona oeste do Rio. Ele já trabalhou como Papai Noel em uma ONG na Rocinha, favela na zona sul carioca, e em uma temporada para uma rede de supermercados da cidade. Após a indicação de uma tia, inscreveu-se no curso.
"Foi linda a primeira aula. São muitos sinais [de Libras] e você ainda não está familiarizado com todos, mas já entende o básico. É uma forma de como falar com uma criança, sinaliza até que não entende muito, se ela pode ensinar, porque muitas já sabem. Isso é uma forma de chegar à criança", diz.
Único Papai Noel negro da turma de 2022 -havia dois na turma anterior, Paulo diz que foi surpreendido pela reação das crianças. "Como eu estava representando a rede de supermercado e usava uma roupa azul, as crianças perguntavam era 'cadê a sua roupa vermelha', e eu dizia que havia colocado para lavar (risos)", conta.
"Eu devo ser um dos mais novos, porque estou com 63. Tem Papai Noel cascudão, de bengala mesmo. É muito maneiro", afirma Paulo.
Apesar disso, o título de aluno mais novo da turma é o servidor público André Luiz do Espírito Santo, de Maricá. Ele já tinha tentado participar do ano passado, mas foi barrado porque tinha só 49 anos-a idade mínima é de 50 anos. Este ano, ele foi um dos 40 selecionados para participar do curso.
André é servidor no Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, e disse que gostaria de fazer participações como Papai Noel entre pacientes infantis.
Sua primeira ação foi com pescadores do bairro Bambuí, em Maricá. Ao visitar o irmão caracterizado, foi visto pelo grupo, que faria uma distribuição de brinquedos no dia seguinte. "Não tem como mensurar a alegria que a criança tem, a simplicidade é fenomenal", diz ele.
Além da Libras, a formação dos Papais Noéis inclui técnicas de preparação da voz, canto e músicas natalinas. O curso tem mais três aulas em outubro e vai formar os profissionais para a temporada de 2022, que começa com grande demanda nos shoppings na primeira quinzena de novembro.
Os mais adiantados vão começar em outubro, no Dia das Crianças. Depois de dois anos da pandemia, será o primeiro Natal com abraços permitidos.
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