SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O Pastor Henrique Vieira, eleito como deputado federal pelo PSOL, criticou ao programa UOL Entrevista, nesta quinta-feira (6), o uso político de um vídeo antigo do presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma loja maçônica. Há dois dias, o conteúdo viralizou nas redes sociais, estimulado por ativistas da esquerda que viram nisso uma oportunidade de descredibilizar a campanha do mandatário entre evangélicos.

"Não é a estratégia que eu tenho para combater o bolsonarismo. Eu desconsidero como relevante a informação de que Bolsonaro e esposa foram a uma loja maçônica. Não é essa lógica que devemos adotar", afirmou o pastor. "Demonizar Bolsonaro porque ele foi a uma loja maçônica é equivocado".

Ele disse que prefere "vencer" Bolsonaro "na ética e no bom debate" .

"Dentro do campo evangélico, tem uma polarização. Tem gente que fala que é tranquilo, que uma coisa não desrespeita a outra. E já ouvi o contrário, que a lógica da maçonaria é avessa ao evangelho. É uma polêmica dentro das igrejas evangélicas", avaliou.

O pastor ainda afirmou que o preconceito contra maçons não pode ser comparado ao preconceito contra religiões de matrizes africanas. "A violência histórica contra nossos irmãos de axé tem fruto no racismo estrutural, que tem peso maior."

Apesar de ser pastor, Henrique Vieira não pretende integrar a bancada evangélica no Congresso Nacional e afirma que defenderá pautas progressistas em Brasília. Ele explicou que usou o termo "pastor" na eleição porque isso o define há muito tempo -é pastor batista desde 2012.

"Não farei parte da bancada evangélica. Não estarei em Brasília para defender interesses da igreja, não quero que o Estado seja extensão da igreja, não quero que a Constituição seja expressão de doutrina religiosa. Defendo Estado Laico, democracia e diversidade."

A FAVOR DA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO

O deputado ainda disse que seria a favor da legalização do aborto caso o assunto fosse discutido no Congresso: "Votaria a favor de legalizar, regulamentar e trazer para a esfera da saúde pública e da assistência social."

"Ouvi a história de uma menina que chegou para uma mãe, pastora da igreja neopentecostal. Ela perguntou se mulheres da igreja fizeram aborto. Ela disse 'óbvio, eu lido com gente, com sofrimentos e angústias, e já lidei com muitos casos'. E a filha disse: 'você levou elas para a cadeia?'. A mãe respondeu que óbvio que não. 'Fiquei socorrendo e cuidando dessas mulheres'. Ela disse: 'então você concorda comigo com a pauta da descriminalização do aborto'. Porque não é condenar e prender. É ouvir, socorrer, acolher e acompanhar. Muitas mulheres da igreja fazem aborto e precisam de ambiente de escuta. Então, a promessa não tem que ser cadeia, tem que ser acolhimento", disse o pastor.

Mas ele fez uma ressalva: "Tem uma observação: o tempo gestacional limite, que tem a ver com a saúde da mulher e da criança. Tem um tempo indicado por especialistas. Então, considerando esse tempo gestacional, defendo ampliação da legislação do aborto."

O pastor também foi questionado se perdoaria Bolsonaro, ao que usou uma frase do Padre Júlio Lancelotti para responder: "Amar o tirano significa tirar dele a tirania para transformá-lo em irmão".

"Então, amar não significa gostar. Olha que interessante! Amar não é um sentimento. É uma consciência e uma decisão ética. O que sinto por Bolsonaro são sentimentos de raiva. Mas espero em Deus sempre ser capaz, mesmo sentindo raiva, de decidir no amor e não devolver o mal com o mal. Não devolver a violência com violência. Não devolver o cancelamento com cancelamento", afirmou.

O pastor também disse que sentiria a vida em risco no caso de uma vitória de Bolsonaro no 2º turno da eleição presidencial. "Se Bolsonaro se elege, minha vida fica em risco. Mas se Lula ganha, Bolsonaro não precisa ter medo. Eu não quero revide, vingança e tortura. Não quero prometer a morte. Quero prometer a ele o direito de viver".


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