RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Um líder yanomami foi morto a tiros e um adolescente de 15 anos ficou gravemente ferido na comunidade Napolepi, em Alto Alegre, Roraima. Os indígenas afirmam que um grupo de garimpeiros ligados a uma facção criminosa que atua na região foram os responsáveis pela ação. O caso ocorreu no último domingo (2).

A Polícia Federal não confirmou, até a tarde desta quinta-feira (6), se foi aberto inquérito para apurar a circunstância nem se há suspeitos já identificados do crime.

Segundo a Hutukara Associação Yanomami (HAY), um grupo de cinco indígenas estava em uma cantina, onde são vendidos itens de alimentação, próxima ao rio Uraricoera, quando foram atacados.

A informação consta em ofício da associação enviado ao Ministério Público Federal, à Funai (Fundação Nacional do Índio) e à Polícia Federal. Procurados, os órgãos não responderam até a publicação da reportagem.

O documento é assinado pelo líder indígena Dário Kopenawa. Ainda de acordo com o ofício, pouco antes do ataque o dono do estabelecimento avisou aos yanomami que garimpeiros membros de facção preparavam uma emboscada.

Ele teria recebido a informação por meio de grupos de mensagens que os garimpeiros usam.

"Antes que [os indígenas] pudessem se esconder, um grupo grande de garimpeiros chegou em dois barcos, pilotados por garimpeiros, e dispararam tiros contra os yanomami", diz o texto.

Ainda segundo os relatos da associação, os indígenas tentaram escapar se jogando no rio. O líder indígena identificado apenas como Cleomar, porém, foi atingido na testa e no tórax, e morreu na hora. Ele foi enterrado na comunidade de Napolepi.

Já o adolescente caiu sobre um dos barcos e foi baleado no rosto. Inicialmente, ele foi levado para o Hospital Geral de Roraima para receber atendimento e depois encaminhado à Casa de Apoio a Saúde Indígena.

A motivação do ataque, segundo a Hutukara, seria o sumiço de uma caixa de cachaça e uma acusação de furto por partes dos indígenas.

Outra suspeita é a de que os garimpeiros que organizaram a emboscada fazem parte de uma facção criminosa. De acordo com a associação, no entanto, o grupo instalado próximo à comunidade de Napolepi negou participação na ação.

Ainda segundo os relatos que constam no ofício, pouco antes do crime, os indígenas teriam recebido ameaças de um garimpeiro.

Em junho do ano passado, uma série de conflitos foram registrados no território.

O mês que antecedeu o primeiro turno das eleições de 2022 também foi marcado por um agravamento na violência contra os povos indígenas. A cada 3 dias, um indígena morreu de forma violenta somente em setembro.

A liderança indígena Sonia Guajajara (PSOL), eleita deputada federal por São Paulo, também se posicionou sobre a morte do líder da comunidade Napolepi.

"É hora de dar um basta nessa situação de descaso e desse incentivo vindo do próprio governo para essas invasões, que só geram impunidade e morte. Vamos juntos exigir justiça pelo povo yanomami e por todos os indígenas que estão perdendo suas vidas nessa disputa territorial", disse ela em um vídeo publicado nas redes sociais.

No ofício enviado às autoridades, a associação solicitou a retirada dos garimpeiros e do garimpo na Terra Indígena Yanomami, além da reconstrução da Base de Proteção Etnoambiental de Korekorema, a presença da Força Nacional na região para impedir novos ataques e a "neutralização de membros de facção que se organizam nos focos garimpeiros instalados no rio Uraricoera."

A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Maior reserva indígena do Brasil, a região tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região em mais de 360 comunidades.


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