SANTO ANDRÉ, SP (FOLHAPRESS) - Os alongamentos com fibra de vidro prometem manter a unha esmaltada por mais tempo garantindo uma aparência natural, além de permitir a modelagem de acordo com o gosto do freguês: quadrada, redonda ou a famosa stiletto, ou seja, com a ponta afiada.

No entanto, infecções causadas pela técnica levaram questionamentos sobre a segurança do método. Afinal, como colar filamentos de fibra ao longo da unha pode criar uma festa para fungos e bactérias?

Reinaldo Tovo, coordenador do departamento de dermatologia do Hospital Sírio Libanês, afirma que o processo para colocar as unhas artificiais é, como um todo, problemático. Por serem posicionados dentro da cutícula, os filamentos machucam a matriz original.

"Problemas inflamatórios, às vezes infecciosos, no final, acabam deixando essa unha fraca e alterada", afirma.

O dermatologista Leonardo Abrucio Neto, da BP - a Beneficência Portuguesa de São Paulo, diz que o procedimento é normalmente feito por aqueles que têm unhas frágeis e não procuram tratamentos fortalecedores adequados, o que piora o quadro.

Para o médico, o alongamento não deve ser feito de forma recorrente.

"Os dermatologistas como eu acreditam que isso é algo que deve ser feito com bastante parcimônia porque é um processo traumático que pode levar a matriz a gerar alterações definitivas e ficar irregular, com sulcos, com a superfície mais áspera, descolada", aponta.

A técnica utiliza filamentos de vidro que são fixados na unha natural com um gel específico. Se fixados corretamente e seguirem a curvatura da unha, a promessa é de um visual natural com resistência e durabilidade.

Ao receber suas clientes, a designer de unhas Gi Camargo recomenda que as alérgicas à fibra de vidro não façam o procedimento. Ela ainda orienta que "se a pessoa perceber algo diferente depois do alongamento, o melhor é consultar um dermatologista para tirar a dúvida se fica ou não com ele".

Entre os cuidados, a manicure aponta a manutenção a cada 15 ou 20 dias como essencial para evitar infiltração de água e outros agentes que possam levar a um quadro de infecção ou proliferação de fungos.

Profissional do ramo há 24 anos, Negra Ba deixou de usar a técnica. "Tenho algumas ressalvas por ser perigosa tanto para mim como profissional quanto para cliente, pois são microfibras de vidro, são microcortantes".

Segundo ela, quando a fibra se quebra, pode afetar tanto o material quanto a unha. "Como pode estar esmaltada, a cliente não vai perceber e vai ficar aqueles dias com todos os fungos possíveis imaginários entrando porque ali tem um canal aberto".

Entre as técnicas de alongamento, uma das mais antigas é a base de gel, que consiste em uma camada do produto aplicada diretamente na unha com manutenção a cada 20 dias, feita no máximo três vezes. Após o período, retira-se o produto por completo.

Já a técnica de alongamento com acrílico é feita a partir de uma massa com monômero líquido e pó acrílico. Com a ajuda de um pincel, a mistura é moldada pela profissional e a secagem é feita com luz natural. Sua manutenção é quinzenal.

A recomendação é que procedimentos de alongamento devem ser feitos por especialistas que dominem as técnicas e utilizem produtos certificados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

CONTRAINDICAÇÕES

Não devem fazer o procedimento gestantes, diabéticos, imunodeprimidos, pessoas que têm unhas muito frágeis, alérgicas aos componentes usados no alongamento, que tenham dermatite em outras regiões, tiveram alergia na infância ou tenham rinite ou asma acentuadas, segundo o dermatologista Leonardo Abrucio Neto.

Coceira e vermelhidão no dedo são os sintomas mais comuns. A pele do rosto e pescoço também podem desenvolver dermatite de contato. Buscar ajuda médica especializada é fundamental para evitar que as manifestações se agravem.

O quadro pode piorar com sintomas como dor e sensibilidade nas unhas, manchas esbranquiçadas ou esverdeadas e formação de bolsas de pus. Em casos graves, mesmo com o tratamento médico tópico ou oral, a unha pode nunca mais se recuperar por conta da matriz danificada.

Como alerta o coordenador do departamento de dermatologia do Hospital Sírio Libanês, "toda vez que você mexe nesse aparelho ungueal, acaba por facilitar a incursão de fungos e bactérias que eram normais estarem sob a camada externa da pele".

Ele ainda afirma que é importante manter a integridade da unha e sugere que se evite fazer a técnica por conta de sua agressividade com a região e exposição a agentes infecciosos.

"Do ponto de vista médico, pintar a unha é adequado. Fazer a cutícula não, mas é um modismo que a brasileira incorporou. No máximo, empurrar muito pouco a cutícula", orienta.

Quem quer unhas saudáveis deve manter sempre a higiene da região. Evitar usar produtos à base de acetona e preferir removedores de esmalte. Além disso, a indicação dos médicos é usar luvas ao ter contato com produtos de limpeza fortes.

Já os profissionais que trabalham com as técnicas mencionadas, devem se proteger com luvas e máscaras durante o procedimento, além de lavar a mão após finalizar os alongamentos para retirar resquícios dos produtos.


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