SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Preso na noite de quinta-feira (13), Thiago Brennand, 42, foi solto em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, após pagar fiança e informar endereço fixo. O empresário havia viajado para o país em 4 de setembro, horas antes de ser denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por lesão corporal e corrupção de menores.
O registro da primeira agressão e a denúncia levaram o MP-SP a investigar relatos de outras 11 mulheres, que acusam Brennand de agressões e crimes sexuais, além de rituais para tatuar seus corpos.
O empresário foi denunciado uma segunda vez na sexta (14) pelo Ministério Público de São Paulo por suspeita de estupro e tortura. A acusação foi aceita pela Justiça paulista e ele se tornou réu. Procurada, a defesa de Thiago Brennand informou que não tem "nada a declarar" sobre o caso.
Brennand é um dos herdeiros de uma família tradicional do Recife, que, segundo um primo, fez fortuna com a compra e a venda de terras, gado e imóveis. Veja o passo a passo do caso.
AGRESSÃO NA ACADEMIA
O caso ganhou repercussão semanas depois de câmeras de segurança filmarem o empresário agredindo a modelo Alliny Helena Gomes, 37, em uma academia de luxo no shopping Iguatemi, na zona oeste de São Paulo, em 3 de agosto.
Logo que passou a frequentar o local, Alliny foi alertada por outras mulheres sobre as investidas de Brennand. Após algumas conversas, a modelo recusou um convite dele e começou a receber mensagens ofensivas, antes da agressão no local.
PRIMEIRA DENÚNCIA
Após o episódio de agressão na academia, o herdeiro foi denunciado em 4 de setembro pelo MP-SP por lesão corporal e corrupção de menores -ele teria incentivado o filho adolescente, que presenciou a cena, a ofender a modelo, segundo os promotores.
SAÍDA DO BRASIL
O herdeiro deixou o Brasil em 4 de setembro, horas antes da denúncia do Ministério Público. O órgão determinou que ele retornasse ao Brasil até 23 de setembro e entregasse o passaporte. Como não cumpriu a medida, Brennand teve a prisão preventiva decretada e tornou-se foragido.
A viagem inicialmente foi para para Dubai, nos Emirados Árabes.
NOVAS DENÚNCIAS
Após a primeira denúncia do MP-SP, outras 11 mulheres acusaram Thiago Brennand de agressão e crimes sexuais. As vítimas relataram situações como cárcere privado, sexo sem camisinha, agressões físicas e verbais, "stalking" (perseguição), além da marcação nas vítimas das iniciais TFV, de Thiago Fernandes Vieira -ele trocou de nome para incluir o Brennand. .
ADVOGADAS DEIXAM O CASO
No fim de semana de 17 de setembro, o escritório Cavalcanti Sion Advogados deixou o caso de Thiago Brennand. No dia 21 de setembro, o escritório afirmou, em nota, que "sua saída do caso não guarda qualquer relação com o mérito da causa, nem tampouco com novas denúncias veiculadas pela imprensa."
A assessoria do escritório disse que, a partir daquele momento, a defesa estaria a cargo dos escritórios Alves de Oliveira e Salles Vanni, de São Paulo, e Carlos Barros e Gustavo Rocha Advocacia Criminal, de Recife.
FORA DO TESTAMENTO
Brennand é um dos herdeiros de uma família tradicional do Recife, que fez dinheiro com a compra e venda de terras, gado e imóveis. Porém, segundo um primo, nunca trabalhou. Em 22 de setembro, a Folha de S.Paulo revelou que, em documentos de cartório de 2019, o pai de Brennand, José Aécio Fernandes Vieira, 82, manifestou a intenção de deserdar o filho.
Sua mãe, Joana Fernandes Vieira, registrou o desejo em documento semelhante, por causa de "absoluta inexistência de qualquer afinidade" entre eles e as agressões "de forma reiterada, explícita e pública, pessoalmente e através de emails" que provocou "insuportável nível de sofrimento".
PRISÃO PREVENTIVA
A Justiça de São Paulo havia determinado que Thiago Brennand retornasse ao Brasil e entregasse seu passaporte até 23 de setembro. Como o herdeiro não cumpriu o prazo, teve a prisão preventiva decretada, em 27 de setembro, pela juíza Erika Soares de Azevedo Mascarenhas, da 6ª Vara Criminal de São Paulo. Além disso, a pedido da assistência de acusação, o seu nome passou a constar na lista vermelha da Interpol, indicando que ele estava sendo procurado pela polícia no Brasil.
PROCESSO ADMINISTRATIVO
O Governo de São Paulo abriu um processo administrativo contra Brennand. A Coordenação de Políticas para Mulheres da Secretaria de Justiça concluiu que ele teria infringido uma lei estadual que veda atos de discriminação contra a mulher. Publicado no Diário Oficial em 5 de outubro, o processo corre em sigilo e, se for considerado culpado, Thiago Brennand poderá ter de pagar ao estado uma multa de R$ 16 mil.
CONSPIRAÇÃO E ATAQUES
Fora do país, Thiago Brennand publicou vídeos em que se diz vítima de uma conspiração e negou estar fugindo. Os vídeos foram postados no YouTube no dia 9 de outubro, e apagados horas depois --outros canais copiaram as imagens e republicaram os vídeos.
Em um deles, Brennand atacou a ex-promotora de Justiça Gabriela Mansur, fundadora do coletivo Justiceiras, que recebeu denúncias contra o empresário e auxiliou no caso.
PRISÃO E FIANÇA
Thiago Brennand foi preso em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, na quinta-feira (13) de outubro. Ele era considerado foragido das autoridades brasileiras após ter a prisão preventiva decretada. Após pagar fiança, ele foi liberado e, segundo seu advogado, não pode deixar o país sem informar a Justiça. Assim, Brennand vai responder a eventual processo de extradição em liberdade.
JUSTIÇA ACEITA DENÚNCIA
Thiago Brennand foi denunciado pela segunda vez pelo Ministério Público de São Paulo na sexta (14). A acusação por supostos crimes sexuais foi aceita pela Justiça e ele se tornou réu -ele já respondia pela acusação de lesão corporal e corrupção de menores.
A Promotoria de Porto Feliz (a 118 km de São Paulo), que pediu a decretação de nova prisão preventiva, afirma que ele cometeu em uma mesma vítima cinco crimes: estupro, cárcere privado, tortura, lesão corporal de natureza gravíssima e coação no curso do processo.
Além de Brennand, o tatuador que cravou as iniciais "TFV", de Thiago Fernandes Vieira, na vítima também passa a responder ao processo na condição de réu por suspeita de crimes de tortura e lesão corporal gravíssima.
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