RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - O resultado dele é descrito como "emocionante", "surpreendente" e "rejuvenescimento inacreditável". Também vem com o alerta de que o rosto "fica muito feio", "um monstro por uma semana" e "é como se fosse uma grande queimadura." Trata-se do peeling de fenol em camadas profundas, um procedimento agressivo que promete trocar a pele do rosto por uma nova.
A técnica, porém, se feita corretamente é segura. Especialistas afirmam que basta seguir os protocolos corretos e que o procedimento seja realizado por um especialista médico ?também recomendam que seja feito apenas em peles claras ou com baixa melanina.
Sua indicação principal é para o tratamento de rugas, mas também é usado para tratar melasmas e marcas de acne. O resultado, porém, não é tão impactante ou previsível como nos casos de envelhecimento.
O paciente precisa de um preparo que leva de 15 a 30 dias, e tem que fazer um pós-operatório cuidadoso, levando até um ano e meio para o rosto cicatrizar por completo e mostrar o resultado final. A vantagem é que muito raramente precisa ser refeito, no máximo retocado, e, ainda assim, depois de muito tempo.
"O peeling de fenol mais profundo tem um rejuvenescimento inacreditável e um resultado bastante duradouro. Tem relatos do efeito ter durado 20 anos, desde que a pessoa cuide dessa pele com ácido retinóico e filtro solar continuamente", afirma a médica dermatologista, Ediléia Bagatin, coordenadora do Departamento de Cosmiatria Dermatológica da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
Ela reforçou que o peeling de fenol profundo só pode ser feito por médicos dermatologistas ou cirurgiões plásticos. Nos dois casos o profissional deve ser especializado na técnica.
"Não é um procedimento cirúrgico, mas é considerado invasivo. Provoca uma grande agressão, como se fosse uma queimadura química profunda, que vai exigir acompanhamento quase diário, pelo menos na primeira semana. Só pode ser realizado por médico treinado e com bastante seleção do paciente", diz a médica.
O procedimento deve ser feito em centro cirúrgico ou ambulatório monitorado por causa da anestesia e dos picos de arritmia que podem ser provocados pelo fenol na corrente sanguínea antes de sua metabolização pelo corpo. A aplicação é feita em etapas para evitar altas concentrações, além de sobrecarga do coração.
"O paciente tem que estar sempre muito bem orientado sobre o que vai acontecer. O pós-operatório que é bastante doloroso, o aspecto que fica muito feio", explica a médica.
Em 15 dias, a pele toda descama e já é possível ver o resultado apesar do tom rosado. Nessa fase a higiene e hidratação são importantes, além de muita proteção solar. O ideal é não sair de casa, pelo menos na primeira semana, segundo Bagatin.
Allan Bernacchi Costa, 47, cirurgião plástico especialista da SBCP (Sociedade Brasileiras de Cirurgia Plástica), diz que o peeling de fenol é usado em tratamentos médicos desde o século XIX, mas começou a ser aplicado para rejuvenescimento nos anos 60 com a fórmula de Baker-Gordon, ganhando fama no Brasil com a técnica menos tóxica do médico José Kacowicz.
"O peeling de fenol é um procedimento seguro, e hoje é muito menos tóxico do que quando foi desenvolvido para tratar feridas", diz.
Costa lembra ainda que as reações extremas de intoxicação acontecem quando não se procura um profissional qualificado. Ele afirma que o tipo de pele do brasileiro, de forma geral, não permite a abordagem profunda, uma vez que o tratamento não é indicado para peles com maior concentração de melanina.
Ricardo Kacowicz, 41 anos, cirurgião plástico facial e filho de José Kacowicz, atua com o peeling de fenol há 15 anos. O cirurgião afirma que o método é muito seguro em comparação com outras intervenções, uma vez que não há registro de mortes pelo uso da técnica. Possíveis intoxicações de fígado, rins e coração são resultado de procedimentos feitos de forma inadequada, segundo ele.
"Toda pessoa saudável ou que tenha comorbidades tratáveis, como uma diabetes controlada, pressão alta controlada, tireóide controlada, pode fazer. Do ponto de vista da pele, as pessoas mais claras, com rugas. Pode até ser morena clara, com rugas, tem casos de pessoa mais morenas, mas só consigo identificar pessoalmente e são exceções", afirma Kacowicz.
A metabolização do fenol no corpo, de acordo com o médico, acontece como a de qualquer outra droga, como dipirona ou paracetamol. No entanto, quando há alta concentração de fenol na circulação sanguínea pode haver repercussão cardíaca benigna.
"É só identificar no monitor, parar a técnica e esperar o corpo metabolizar aquele fenol e depois voltar e finalizar o peeling. Além disso, se a pessoa tem um problema hepático, cardíaco ou renal, vou sempre pedir orientação e liberação do especialista na área", destaca o cirurgião.
Rosangela Bitencourt Ferreira Ramos, 62, foi uma das pacientes de Kacowicz. Ela conheceu o procedimento pelas redes sociais e na mesma semana decidiu fazer. Seu objetivo era renovar sua pele ao diminuir as manchas e a flacidez.
"Recomendo para todos que queiram recuperar a pele judiada pelo tempo, não tem tratamento melhor. Só tem que ter um bom profissional e não vai se arrepender, é muito bom e ficou além do que eu esperava", conta.
O peeling de fenol é procurado principalmente por mulheres, mas o número de homens vem aumentando nos últimos anos (e nos dois casos, a aparência de envelhecimento conta mais que a idade). Um tratamento com fenol pode variar entre R$ 15 mil e R$ 30 mil, dependendo da situação e do resultado pretendido.
A ex-atriz Maria Eli da Silva diz que não se arrepende de ter feito e faria de novo. "Fui atriz de televisão e cinema nos anos 80. Depois me formei em estética e alguns anos atrás conheci o peeling de fenol e me apaixonei. Tenho 60 anos e com certeza não aparento. Claro que a alma precisa ser jovem, mas também é devido ao peeling de fenol", diz Silva, que fez o procedimento há oito anos.
Priscila Galzo Marafon Moda, 45 anos, cirurgiã-dentista e advogada no escritório Marques e Tasoko na área de Direito Médico, lembra que o peeling de fenol se caracteriza como uma técnica de alto risco e precisa ter monitoramento antes, durante e após o procedimento.
O profissional precisa saber a procedência dos produtos, se tem liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e realizar uma boa anamnese da saúde geral do paciente, além de fazer um contrato de prestação de serviço que contenha um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado.
O documento deve trazer itens como riscos do procedimento, retornos, como será feita a intervenção e os cuidados durante todo o período de recuperação.
"Caso o procedimento cause um dano ao paciente, e se este não estiver informado sobre essa possibilidade, e o profissional não souber reverter ou amenizar o dano, ele poderá ser processado nas esferas cível, penal e administrativa", afirma a advogada.
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