CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Em outubro de 1982, há 40 anos, o Brasil viu o fim do Salto das Sete Quedas, no Paraná, formado por 19 cachoeiras, divididas em sete partes. A inundação foi autorizada pelo governo militar para a construção da usina hidrelétrica de Itaipu e deixou submersas as cachoeiras de maior vazão em volume de água do mundo até então.

Seu fim foi marcado por um festival de nome Quarup, chamado por alguns de Woodstock ecológico, mas de proporções menores do que o lendário encontro de música realizado em 1969 nos EUA.

Na cidade de Guaíra, na região oeste do Paraná, a 640 quilômetros de Curitiba, o Quarup reuniu cerca de 5.000 pessoas, entre ambientalistas, intelectuais, artistas, turistas estrangeiros, além de moradores da localidade que perderiam suas terras com o alagamento das Sete Quedas.

José Roberto Galdino, coordenador do curso de história da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), conta que o Quarup: Sete Quedas Viverá -nome completo do evento- funcionou como um acampamento de ecologistas e um festival de arte e ciência.

O nome foi inspirado num ritual indígena de homenagem aos mortos, e a organização, recorda, foi de movimentos ambientalistas nacionais. O encontro durou três dias, entre 23 e 25 de julho de 1982.

"Eu fiquei sabendo do festival por participar, na época, de movimentos sociais e de comitê de defesa da Amazônia", diz Galdino. "Era um acampamento bem rústico, mas com barracas, água, banheiro."

Entre a programação do festival, espetáculos de música, dança, poesia e grupos de discussão. Houve também a leitura de uma carta-protesto escrita pelos participantes.

Galdino recorda ainda que, de uma passeata "proibida pelos militares de Guaíra", foi feita uma marcha silenciosa por alguns saltos das Sete Quedas que ainda não haviam sido alagados.

Foi como um "canto coletivo de adeus", ele define, pois não havia nenhuma expectativa de que o alagamento fosse suspenso.

"Era mais uma declaração de insatisfação e de protesto pelo descaso com a natureza, com a destruição de uma das maravilhas do país e do mundo", afirma o historiador. "Não havia mais o que se fazer, a não ser protestar."

Galdino, com 29 anos na época, morava em Curitiba, de onde saiu de ônibus com os amigos.

Para ele, o Quarup cumpriu o papel de colocar nas discussões nacionais a preservação ambiental, além de "questionar a construção de obras faraônicas na ditadura civil-militar, como a Ponte Rio-Niterói, a Transamazônica e a Usina Nuclear de Angra".

As Sete Quedas começaram a ser submersas em 13 de outubro de 1982. O processo levou 14 dias.

Às 19 cachoeiras integravam o Parque Nacional das Sete Quedas, criado oficialmente em 1961 pelo presidente João Goulart. A unidade de conservação era de 144 mil hectares.

As águas das Sete Quedas tinham vazão de 13,3 mil metros cúbicos por segundo, quase dez vezes mais do que o volume normal das Cataratas do Iguaçu, que tem 1,5 mil metros cúbicos por segundo.

O canal principal das Sete Quedas tinha quatro quilômetros de comprimento e sua profundidade chegava a 170 metros.

O parque foi extinto em 1981, pelo presidente João Figueiredo, após o governo conceder à Eletrosul a concessão de explorar o aproveitamento hídrico do rio Paraná.

Mesmo depois de extinto, ainda antes da inundação, o parque continuou a ser visitado por turistas. A falta de manutenção do local, no entanto, e o aumento no número de pessoas que queriam ver as cachoeiras pela última vez antes do alagamento colaboraram para um grave acidente.

Em janeiro de 1982, a estrutura de uma das precárias pontes de madeira e aço -que levavam de uma queda à outra- não aguentou o peso dos turistas e se soltou. Com ela caíram 38 pessoas -32 delas morreram.


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