SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A poucos dias do segundo turno das eleições, que acontece no domingo (30), os ânimos têm se acirrado durante programas cotidianos, em locais como restaurantes e escolas.
No último sábado (22), o almoço no restaurante Martin Fierro, na Vila Madalena, na zona oeste paulistana, foi interrompido após uma discussão entre um casal de branco, não identificado e que tinha uma camisa da seleção brasileira, e outros clientes. Eles foram expulsos do local aos gritos de "fascista de merda!".
"Restaurante estava cheio e tinha fila. O casal já estava lá e a mesa deles era bem em frente ao caixa. Cada vez que eu ia lá dar uma olhada na lista, ficavam provocando, dizendo alto 'já falei para minha filha que esses petistas só dão mau exemplo'", conta a advogada Helena Sobreira, 51, que estava no local.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra a funcionária do caixa pedindo ao homem -bolsonarista, segundo Helena- que parasse a discussão, enquanto outros clientes gritam com o casal. A mulher xinga a pessoa que está filmando e, em seguida, eles se retiram.
Essa já era a segunda parte da confusão, diz a advogada. Ela afirma que o bolsonarista tentou antes dar um soco no rapaz com quem discutia. Os garçons teriam impedido a agressão, mas as provocações continuaram até o momento em que começa o vídeo.
"Só que não pegou, ele conseguiu desviar. Aí começou o 'deixa disso', e todo mundo e começou a falar e bater palma. É quando começa a parte do vídeo", diz ela.
"Não tinha só petista lá, tinha famílias neutras. Um até com a camisa verde, mas ele não defendeu o outro lá que estava provocando", diz a advogada.
Ela afirma que o mesmo casal já havia se envolvido em discussões no restaurante, que foi procurado pela Folha para comentar o caso. Por telefone, uma funcionária disse que o estabelecimento não vai se pronunciar. A reportagem não conseguiu confirmar a identidade do casal.
No colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros, zona oeste da capital, houve bate-boca entre pais de alunos no fim da manhã de segunda-feira (24).
Um grupo de pais e ex-alunos da escola se organizou no que chamaram de Frente Ampla pela Democracia no Santa. Eles dispuseram mesas de plástico em uma praça em frente à escola e se colocaram à disposição para conversar com quem estivesse indeciso sobre o voto.
A iniciativa, no entanto, não foi bem recebida por pais bolsonaristas. Alguns deles se posicionaram contrários à frente em grupos de WhatsApp, argumentando que a escola (ainda que o grupo estivesse do lado de fora da unidade) não é espaço para esse tipo de debate.
Uol Mais https://mais.uol.com.br/view/17109549 *** No fim da manhã de segunda, durante a saída dos alunos, o grupo foi abordado por um pai que ameaçou chamar a polícia por entender que estavam tentando "doutrinar" seu filho de 13 anos.
Em um vídeo gravado por um estudante, ele diz não querer saber de argumentos e que o grupo não iria doutrinar crianças ali. As imagens passaram a circular nas redes sociais e a atitude do homem foi elogiada pelo comentarista Rodrigo Constantino.
"Um pai corajoso e herói foi lá tirar satisfação, afirmar que Lula é ladrão e que não quer tais militantes mentindo na porta da escola para seu filho", escreveu Constantino.
A advogada Ana Cecília Vidigal, 47, mãe de três alunos do Santa Cruz e ex-aluna do colégio, é uma das que integra a frente pela democracia e diz ter ficado surpresa com a violência e desinformação dos pais que tentaram impedir a ação do grupo.
"Nós tivemos todo um cuidado para não ultrapassar o limite do nosso direito de manifestação. Nós estávamos do lado de fora da escola, não abordamos ninguém, nem sequer levamos material de campanha de algum candidato", conta.
Nas fotos, os integrantes da frente aparecem vestindo camisetas brancas (alguns estavam com adesivos, em apoio ao ex-presidente Lula, colados nas roupas) e seguravam uma faixa com as frases: "café e roda de conversa com pais, mães e ex-alunos do Santa. Frente ampla no Santa. Com Lula e Haddad, pela democracia, pela paz e pela vida".
"Tentar nos impedir de conversar com quem se dispuser a falar sobre política pode configurar um crime eleitoral. Não podem nos impedir de nos manifestarmos publicamente, de exercer nossa cidadania. É muita desinformação desses pais", completa.
No último dia 17, a reitoria da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana) também divulgou uma carta aberta à comunidade para reafirmar sua posição de "defesa da democracia e liberdade de expressão" depois de um grupo ter entrado no campus exigindo a retirada de uma faixa com o dizer "Fora, Bolsonaro".
Segundo a carta, dois homens entraram, sem autorização, no gabinete da reitoria, gravando vídeos com celulares e exigindo uma explicação sobre a faixa.
"O reitor Evandro do Nascimento demonstrou atitude coerente e firme, exigindo que os dois homens desligassem o celular e parassem com o constrangimento no ambiente de trabalho da instituição. Após o desligamento do celular, o reitor enfatizou que a Uefs está seguindo as orientações cabíveis para a obediência à lei eleitoral e que vê a exibição da faixa como exercício do direito à livre manifestação sindical e de liberdade expressão", diz a carta.
Depois de terem deixado o gabinete, os homens retiraram a faixa que estava na entrada do campus, segundo imagens captadas pelas câmeras de segurança. "Quando violam o espaço da universidade, instituição consagrada na Constituição Federal como campo do livre pensar e da livre manifestação, e tentam calar a grafia de uma faixa, isso é um sinal evidente do perigo que representam para a universidade e para a democracia", diz a carta.
Também no sábado (22), a influenciadora Maiza C. disse, em vídeo publicado em uma rede social, ter levado um soco em uma churrascaria de Porto Seguro (BA) por votar no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele deu um murro na minha cara por votar em outro presidente que não é o dele. Em que mundo a gente tá vivendo?", afirmou ela.
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