SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil indiciou quatro manifestantes bolsonaristas que invadiram um ônibus com estudantes em Jundiaí (a 58 km de São Paulo). Eles são suspeitos de arremesso de projétil, lesão corporal, associação criminosa, dano qualificado, violência política e constrangimento ilegal.

Na tarde de quinta-feira (3), ao menos quatro bolsonaristas que participavam de uma manifestação antidemocrática em frente ao 12º GAC (Grupo de Artilharia e Campanha), do Exército, entraram no ônibus após supostamente serem provocados pelos estudantes, que teriam xingado o presidente Jair Bolsonaro (PL) e feito "L" com as mãos, em referência ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Dois estudantes ficaram feridos, segundo a polícia. Um deles teve corte no supercílio e outro, na mão, por causa de estilhaços de um vidro quebrado possivelmente por uma pedrada. A ação foi gravada por alunos.

Segundo a DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Jundiaí, quatro pessoas envolvidas na ação foram identificadas, sendo que três delas foram levadas para a delegacia nesta sexta-feira (4) e prestaram depoimentos.

A polícia não informou o nome dos suspeitos nem se eles têm defesa constituída.

"Após as medidas de polícia judiciária, os homens foram indiciados", diz a Secretaria da Segurança Pública. De acordo com a pasta, o quarto suspeito será ouvido posteriormente.

Segundo o promotor João Alfredo Ribeiro Gomes de Deus, que está acompanhando o inquérito, a polícia apura crimes tipificados no Código Penal.

Testemunhas que estavam na manifestação também estão sendo ouvidas pela Polícia Civil.

Bolsonaristas revoltados com o resultado da eleição se concentram no local desde o início da semana. Na quarta-feira (2), milhares de pessoas passaram o feriado de Finados reunidas em frente ao local. Com um carro de som, a todo instante era pedido "intervenção federal".

A reportagem teve acesso a oito vídeos gravados por estudantes com celulares. As imagens mostram que ao menos quatro homens entraram no veículo, que estava lotado de adolescentes. Todos são alunos da Etec (Escola Técnica) Vasco Antonio Venchiarutti, que fica próxima ao quartel do Exército, na Vila Rami, onde ocorre a manifestação bolsonarista.

As imagens mostram manifestantes deixando os protestos antidemocráticos e partindo para cima do ônibus, quando o veículo para no trânsito.

Tanto manifestantes como alunos pedem para o motorista abrir a porta do veículo, conforme os vídeos, que passaram a circular em redes sociais.

Assim que a porta é aberta, os homens entram aos berros no ônibus. Como havia estudantes sentados no chão do coletivo, impedindo a circulação, eles passam por cima dos bancos para irem atrás de um garoto que estava no fundo.

Os homens, um deles com uma bandeira do Brasil amarrada no pescoço, começam a xingar os estudantes de "otários" e "maconheiros" e dizem que "estão lutando" pelos estudantes.

Um dos bolsonaristas grita para um adolescente descer do ônibus ?não é possível ver nas imagens se ele saiu. Quando já ia embora, ao ser provocado com frases como "mete o pé", o mesmo homem volta para o coletivo e chega a segurar um garoto, enquanto outros estudantes tentam afastá-lo.

De acordo com o adolescente ouvido pela reportagem, os manifestantes só desceram do ônibus quando uma mulher entrou no veículo e argumentou para os bolsonaristas de que se tratavam de adolescentes.

O estudante de 18 anos que teve o supercílio cortado afirmou à polícia, segundo boletim de ocorrência, que no momento em que o ônibus passava em frente ao quartel ele passou a gritar, com outros colegas da escola, "ei, Bolsonaro, vai tomar no c...", fazendo o gesto "L", de Lula, quando uma pedra foi lançada no vidro lateral, ferindo o jovem acabou com os estilhaços.

Outro jovem ferido, também de 18 anos, afirmou a polícia que os alunos receberam vários insultos e xingamentos e que um dos manifestantes tentou retirá-lo de dentro ônibus, mas os colegas de escola impediram.

O motorista do ônibus disse à polícia, também de acordo com o o boletim de ocorrência, que ouviu o estouro em um dos vidros. Depois de ter parado o veículo, afirmou, primeiro, que não abriu a porta, mas que depois cedeu ao ser obrigado, quando as pessoas entraram no coletivo.

Ainda segundo o condutor, policiais perguntaram se o jovem ferido no supercílio queria socorro e ele respondeu que não precisava, que a lesão era superficial.

Por mensagem de texto na noite de quinta, um representante da empresa de ônibus Três Irmãos disse que "lavrou boletim de ocorrência para que seja feita apuração do ocorrido e responsáveis".


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