RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Primeiro de seis filhos a serem ouvidos como testemunhas no julgamento de Flordelis dos Santos Souza, acusada de mandar matar o marido em 2019, Alexsander Felipe Matos Mendes disse nesta terça (8) que estranhou o comportamento da pastora e ex-deputada federal após o crime. Ela nega a acusação.
Neste segundo dia de júri, Mendes não quis falar na presença dos réus e pediu para ser ouvido por videoconferência, apesar de estar presente no fórum em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. "Eu não sei qual seria minha reação", disse ele.
O Ministério Público foi contra o depoimento remoto das testemunhas e defendeu que os acusados deveriam deixar o plenário, podendo assistir ao depoimento também a distância.
Também estão no banco dos réus três filhos da pastora -- Simone dos Santos Rodrigues, André Luiz Oliveira e Marzy Teixeira, além de uma neta, Rayane dos Santos.
Na sessão, o filho afetivo da pastora afirmou que a mãe trocou de roupa três vezes para ir ao enterro da Anderson do Carmo e que o choro dela "não era verdadeiro". Disse ainda tê-la ouvido falar após a notícia do crime: "Agora estou livre".
Conhecido anteriormente como Luan Santos, ele foi questionado sobre o motivo de não querer mais ser chamado por esse nome. "Não quero mais nada que me lembre desse passado. Infelizmente ainda me acompanha. Luan foi ela [Flordelis] quem colocou. Ela estava colocando nome em todo mundo", afirmou.
Ele contou ter chegado à casa de Flordelis aos 15 anos, fazendo parte do primeiro grupo de adolescentes que foram morar com a ex-deputada no início dos anos 1990. Estava nesse grupo a própria vítima, o pastor Anderson do Carmo, além de Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Misael, Carlos Ubiraci, André Luiz de Oliveira e Cristiana Passos.
No depoimento, Mendes reforçou a tese já levantada pela investigação da Polícia Civil de que havia grupos com situações diversas dentro da casa. Segundo ele, se a pessoa concordasse com a pastora, recebia bom tratamento. Caso contrário, o cenário era bem diferente --a divisão da família foi descrita como "facções" pelo investigador Tiago Vaz em depoimento nesta terça.
Anderson do Carmo tinha 42 anos quando foi assassinado na garagem de casa que morava com Flordelis e mais 35 filhos. Foram constatadas 30 perfurações de bala em seu corpo, nove delas na região de coxas e virilha.
As investigações mostraram ainda que Flordelis começou a tentar matar o marido em maio de 2018, envenenando-o aos poucos colocando arsênico e cianeto na comida dele. A vítima passou por hospitais no período, com episódios de vômito e diarreia.
Sobre a hipótese de envenenamento, Mendes citou um diálogo com Simone dos Santos Rodrigues, uma das rés do caso: "A Flordelis ficou com raiva da Simone. Porque ela disse que não tinha condição de fazer. A Simone me contou que a Flordelis disse: 'Já que você não vai fazer, então procura a Marzy [outra ré] para ela fazer isso'", relatou.
Também eram esperados para depor outros filhos de Flordelis: Daniel dos Santos de Souza; Roberta dos Santos, Wagner Andrade Pimenta, Daiane Freires e Erica dos Santos de Souza, além de duas netas da pastora, Raquel Passos e Rebecca Passos.
A sessão desta terça começou com cerca de uma hora e 30 minutos de atraso porque um dos réus, André Luiz, não foi listado pela Seap (Secretaria Estadual de Administração Penitenciária). Ele passou a noite na Cadeia Pública Patrícia Acioli, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Já os outros presos estavam no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste da capital fluminense.
A Seap disse, em nota, que o problema ocorreu por uma falha individual. "A Seap pede desculpas pelo ocorrido e informa que o funcionário já foi afastado da função que exercia", diz o comunicado.
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