RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Luana Pimenta, uma das noras de Flordelis dos Santos Souza, afirmou em depoimento nesta quarta (9) que soube de uma das filhas adotivas da ex-deputada federal que existia um plano, arquitetado pela pastora, para matar o pastor Anderson do Carmo. Ela disse, ainda, a vítima "não era um pastor de verdade".
Flordelis é julgada no Tribunal do Júri em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, acusada de ser a mandante do assassinato do marido, em 2019. Ela nega todas as acusações. Também estão no banco dos réus os filhos adotivos de Flordelis Marzy Teixeira e André Luiz, a filha biológica Simone dos Santos e a neta Rayane dos Santos.
Luana foi a primeira a ser ouvida no terceiro dia de julgamento do caso. Ela é casada com Wagner Pimenta, o Misael, ouvido na terça (8). Questionada pelos jurados sobre a atuação do pastor na igreja, Luana disse que a vítima "não era um pastor de verdade". "Ele e Flordelis tinham muitos segredos e faziam coisas dentro da casa que não condiz com o Envangelho."
Ao júri, a testemunha relatou que Anderson contou para ela que teria encontrado uma mensagem em seu próprio iPad sobre o plano para matá-lo. Luana contou, ainda, que a cunhada Marzy depois disse a ela que o texto tinha sido escrito por Flordelis.
"Um dia, deitada na cama, Flordelis escreveu no iPad [do pastor] e disse para mandar para o Lucas [filho adotivo da pastora, já condenado por envolvimento no crime]. Mandou a mensagem para o Lucas, mas por algum motivo não apagou. Ficou na nuvem do pastor e ele viu. Parecem 'Os Trapalhões'", relatou.
Ainda segundo Luana, Marzy teria dito que matar Anderson resolveria o problema de todo mundo. "Ela me disse: Matar o Niel [Anderson] vai resolver o problema de todo mundo. Ele é muito rigoroso, ninguém é feliz naquela casa", disse.
Luana afirmou ainda que o pastor chegou a desconfiar do envolvimento de Marzy e que daria "uma coça" nela. "Para ele, tudo ele conseguiria resolver do jeito dele. Ele só me mandou tomar cuidado com a Marzy."
Em seu primeiro depoimento à polícia, Marzy confirmou que mandou mensagens para Lucas pedindo que ele matasse o pastor, mas alegou que Flordelis não tinha conhecimento de seu plano.
Nesta quarta, Luana disse que conversou com Marzy e pediu que ela contasse a verdade sobre o crime. "E ela disse: 'Eu não entrego minha mãe por nada neste mundo'. Nesse dia, eu a levei para a casa da Flordelis e nunca mais mantive contato. Nesse dia a Flor ganhou", disse Luana. "E ela [Marzy] está presa porque quer, porque eu tentei ajudar", acrescentou.
Durante a oitiva de Luana, o advogado de Flordelis, Rodrigo Faucz, pediu à juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce que deixasse registrado que se tratava de mais uma testemunha de "ouvi dizer". A magistrada, no entanto, determinou que o depoimento prosseguisse.
A testemunha contou ainda que, no dia da morte de Anderson, Flordelis pediu que ela mentisse sobre quem dirigia o carro que levou o corpo de Anderson até o hospital. "'Se a polícia perguntar quem estava dirigindo, você fala que foi Adriano, não fala que foi Flavinho'", contou.
Flavinho é Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, preso no dia seguinte ao crime. Ele, que confessou ter efetuado os disparos, foi condenado a mais de 29 anos de prisão pelo homicídio. Addriano dos Santos Rodrigues, também filho biológico, foi condenado a mais de quatro anos em regime semiaberto por associação criminosa armada e uso de documento falso.
Luana afirmou que, depois do assassinato, Flordelis disse que havia escutas na casa e escreveu um bilhete para ela e Misael, onde estaria escrito: "Ainda bem que quebramos o celular do Niel [Anderson do Carmo] e jogamos no mar".
A nora de Flordelis disse que tentou levar esse bilhete para a polícia, mas não conseguiu. "Era muita gente na casa, tive medo." Luana também relatou ter visto, por duas vezes, tentativas de envenenamento contra o pastor.
O crime Anderson do Carmo tinha 42 anos quando foi assassinado na garagem de casa que morava com Flordelis e mais 35 filhos, em 2019. Foram constatadas 30 perfurações de bala em seu corpo.
As investigações indicaram que Flordelis começou a tentar matar o marido em maio de 2018, envenenando-o aos poucos, colocando arsênico e cianeto na comida dele. A vítima passou por hospitais no período, com episódios de vômito e diarreia.
A expectativa era de que o julgamento terminasse nesta quarta, mas não há mais previsão de quando sairá a sentença. Se necessário, o expediente poderá correr também no fim de semana.
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