SHARM EL-SHEIKH, EGITO (FOLHAPRESS) - O Brasil trouxe para o Egito a segunda maior delegação da COP27, a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre mudanças climáticas, que ocorre em Sharm el-Sheikh até o dia 18.

Na lista, assim como ocorreu no ano passado, na COP26, também há pessoas de fora das esferas governamentais, como esposas e primeiras-damas. É possível notar ainda a baixa presença de pesquisadores e da sociedade civil na delegação.

Há cerca de 570 pessoas credenciadas pelo Brasil nessa conferência climática, o que representa pouco mais de 3% de todas as delegações da COP.

Os nomes dos participantes do Brasil ocupam aproximadamente 35 páginas do documento que reúne os enviados dos países. A lista, disponível no site oficial da UNFCCC (o órgão de mudança climática da ONU), ainda pode sofrer alterações.

A delegação brasileira só não é maior do que a dos Emirados Árabes Unidos, com cerca de 63 páginas para os mais de mil nomes credenciados pelo país. O tamanho da delegação pode ser explicado, possivelmente, pelo fato de que Dubai será a sede da COP28, no ano que vem.

Já o Egito, país anfitrião da atual conferência, conta com cerca de 154 pessoas em sua delegação oficial.

Na lista brasileira, além das primeiras-damas de Amazonas, Pará e Mato Grosso, há também uma assessora da primeira-dama do Amazonas, e duas esposas de dois assessores especiais do gabinete do governo de Mato Grosso.

CEOs, representantes da JBS --a empresa, inclusive, deve ter um representante falando no estande brasileiro-- e de outras empresas, e alguns policiais militares também estão na lista. Vale destacar que o estande brasileiro foi feito com a participação de diversos ramos financeiros nacionais, como a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária) e Sebrae.

Desde o início do governo de Jair Bolsonaro (PL), o Itamaraty deixou de incluir ONGs ambientalistas, pesquisadores, organizações indígenas e movimentos sociais na lista da delegação. No rol desse ano, a reportagem encontrou uma ONG: o Instituto Terra Verde Brasil, representado pela vice-presidente da entidade.

A reportagem também observou a presença de alguns pesquisadores de universidades públicas brasileiras, além de um pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) --centro que chegou a ser alvo de ataques de Bolsonaro, devido aos dados constantemente produzidos sobre queimadas e desmatamento.

Na COP do ano passado, o embaixador Paulino Franco disse à Folha que a delegação oficial não pode levar consigo pessoas que não sejam do governo. Porém, a ONU não faz restrições aos nomes indicados pelos países. Além disso, como fica claro na lista deste ano, há a presença de representantes de fora do governo, ligados a interesses comerciais --assim como havia na do ano passado.

A Folha questionou o Itamaraty sobre os critérios para a seleção da delegação, mas, até o momento, não houve resposta.

O Brasil tem um histórico de delegações grandes nas conferências climáticas. A utilidade de ser credenciado como parte de uma delegação, em vez de receber outros tipos de crachás, está na facilidade a certos acessos.

Mas, logicamente, a participação do Brasil na COP não se dá somente pelo credenciamento oficial do governo brasileiro. Ou seja, há mais brasileiros na conferência do que os números citados acima apontam, especialmente pela atuação de ONGs --na torre de Babel que é a conferência, não é raro ouvir o português brasileiro nos corredores e estandes.

Nos últimos dias, por exemplo, foi possível encontrar no pavilhão da conferência membros de associações que representam os indígenas brasileiros e os movimentos negros nacionais.

Neste ano, o Brasil tem um número recorde de estandes na COP: são três. Há o oficial do governo brasileiro, com cerca de 300 m²; o da sociedade civil (chamado de Brazil Climate Action Hub), com 150 m²; e o dos governadores da Amazônia, com 120 m².

Pela pouca distância entre eles nos corredores, nesse pouco tempo de conferência, já houve até mesmo desentendimentos entre os estandes, segundo a Folha apurou. Um membro do estande brasileiro construído pelo governo Bolsonaro foi até o Brazil Climate Action Hub para reclamar do volume do som.

Apesar de próximos, os estandes não chegam a ser vizinhos de parede, sendo necessário caminhar alguns metros para ir de um para o outro.


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