SHARM EL-SHEIKH, EGITO (FOLHAPRESS) - Com a chegada do presidente eleito Lula (PT) a Sharm el-Sheikh, no Egito, na noite desta segunda-feira (14; madrugada de terça-feira, 15, pelo horário local) crescem as expectativas do que ele apresentará na COP27 (conferência da ONU sobre mudanças climáticas) como parte do futuro do novo governo.

A comitiva de Lula pousou em Sharm el-Sheikh a bordo de um avião do empresário José Seripieri Junior, fundador da Qualicorp e dono da Qsaúde.

Além do compromisso já firmado por Lula durante a campanha eleitoral de zerar o desmatamento na Amazônia --anúncio que possivelmente será repetido no palco internacional--, as organizações socioambientais do Brasil e de fora esperam e também sugerem novos compromissos que o presidente eleito poderia trazer à COP.

Como o governo ainda está se desenhando, parte dos ambientalistas que aguardam a chegada de Lula na COP não aposta que o presidente eleito traga definições sobre o novo governo, mas acenos menores à agenda.

Entre os anúncios que poderiam ser feitos com maior facilidade, sem comprometer a construção do governo, está a possibilidade de Lula comunicar, em discurso previsto na agenda oficial da conferência, que pretende levar a COP para o Brasil em 2025.

A presidência da COP do Clima tem rotatividade regional e volta a ser de um país latinoamericano em 2025. A conferência teria acontecido no Brasil em 2019, mas foi cancelada por Bolsonaro ainda em 2018, logo após sua eleição.

Parte das organizações brasileiras também espera ouvir de Lula um compromisso de corrigir a meta climática brasileira no Acordo de Paris, que sofreu uma "pedalada climática" durante o governo Bolsonaro, com uma atualização que, na prática, reduz o compromisso com o clima.

O novo presidente chega à COP em uma posição política confortável, com sua eleição já indicando, para o Brasil e o mundo, uma retomada do compromisso ambiental do país após o desmonte de políticas ambientais promovido por Bolsonaro.

Também por conta desse cenário, avaliações dão conta de que a passagem de Lula pela COP não depende de novos anúncios para ser significativa.

Ainda assim, a grande questão que fervilha nos corredores entre os três pavilhões brasileiros na COP é a do nome que comandará o Ministério do Meio Ambiente do terceiro governo Lula.

Os nomes que atualmente são tidos como os mais cotados para ocupante do cargo estão, inclusive, na conferência do clima, o que traz ainda mais eco para a possibilidade de um anúncio.

Nesta segunda-feira (14), inclusive, tais nomes participaram de um evento no estande da sociedade civil brasileira na conferência, o Brazil Climate Action Hub --espaço que surgiu na ausência do governo Jair Bolsonaro (PL) na COP25.

Estiveram presentes as ex-ministras do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-SP) e Izabella Teixeira e o senador Randolfe Rodrigues (Rede), além dos deputados federais Alessandro Molon (PSB-RJ), Joenia Wapichana (Rede-RR) e Rodrigo Agostinho (PSB-SP).

Em uma amostra da atenção que deve ser dedicada a Lula na conferência climática, o evento deixou o Brazil Climate Action Hub totalmente lotado, com pessoas sentadas no chão e também espalhadas pelo corredor ao lado. Seguranças da COP tiveram que abrir espaço entre os participantes, em determinado momento, para que outras pessoas pudessem transitar pelo caminho.

Na primeira semana de conferência, já foi possível ver alguns desses nomes em conversas com representantes oficiais de outros países e com entidades da sociedade civil.

Marina Silva, por exemplo, que, após uma reaproximação com Lula, abraçou ativamente a campanha do presidente eleito, nos últimos dias teve reuniões com a vice-presidente da Colômbia e com um representante da Noruega --maior doadora do congelado e bilionário Fundo Amazônia, que deve ser remobilizado assim que o novo governo assumir.

O fundo foi parado devido à revogação generalizada de colegiados e conselhos feita por Bolsonaro no início de seu governo. Isso paralisou a gestão do fundo.

Marina, cotada para voltar ao ministério, é tida como uma das responsáveis por conseguir estruturar programas que levaram a reduções drásticas de desmatamento na Amazônia --o atual calcanhar de Aquiles do governo brasileiro na questão climática.

Ao discursar durante o evento nesta segunda, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que esteve com Lula desde o início da campanha e também é cotado para a pasta, prometeu um revogaço de regras surgidas no governo Bolsonaro.

O senador também afirmou que o novo governo Lula será o governo dos povos indígenas.

"A partir de 1º de janeiro, os conselhos de participação social, todos eles, serão restaurados", afirmou. "Vamos começar o governo da reconstrução com um revogaço. Vamos iniciar o governo da reconstrução com um nomeaço."

Ninguém que participa da transição na área ambiental, porém, dá sinais do que o presidente deve falar na conferência. Em entrevista coletiva na semana passada, Marina Silva chegou a dizer que a principal mensagem de Lula era estar na COP --Bolsonaro, em contraste, não foi a nenhuma conferência no mandato.

"O presidente Lula mesmo disse: não vamos inventar nada. A prioridade do governo seria o desmatamento zero. Mudança climática no mais alto nível de prioridade", disse Marina sobre o que esperar do novo governo.

Outra possibilidade especulada é a de que Lula anuncie na conferência a criação de uma Autoridade Nacional de Segurança Climática, um órgão técnico que auxiliaria o país a atingir as metas climáticas.

Já o anúncio de quem comandaria o futuro ministério dos povos originários, prometido na campanha por Lula, parece ter ficado distante, ainda que diversos nomes fortes entre lideranças indígenas estejam em Sharm el-Sheikh.

Nesta segunda, no evento do Brazil Climate Action Hub, Lula foi, inclusive, cobrado para uma maior participação indígena na construção do ministério.

"Nós, os maiores interessados, ainda não fomos convidados para compor a equipe de transição. É muito importante que haja esse processo de fato, de consulta, para que a gente possa construir o que de fato vai ser esse ministério", afirmou a deputada federal eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP).

Joenia Wapichana também pediu um maior diálogo no processo. "Nós não queremos só nome, não queremos só status. Nós queremos participação de fato, estrutura, fortalecimento e garantir uma articulação", disse.

Além dos potenciais anúncios, Lula participa, pela agenda oficial divulgada, de um evento na manhã de quarta-feira (16) no estande dos governadores da Amazônia --que convidaram o presidente eleito para vir à COP. No mesmo dia, à tarde, fará pronunciamento na área da ONU.

Já na quinta (17), pela manhã, terá evento no estande da sociedade civil brasileira e, à tarde, no Fórum Internacional dos Povos Indígenas/Fórum dos Povos sobre Mudança Climática.

A presença de Lula na COP27 termina na sexta-feira (18), quando irá para Portugal.


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