SHARM EL-SHEIKH, EGITO (FOLHAPRESS) - O ministro do Meio Ambiente do Brasil, Joaquim Leite, criticou, em discurso na plenária da COP27, líderes políticos, filantropos e empresários que vieram para a conferência da ONU para mudanças climáticas com jatinhos particulares e cobram redução de emissões de gases do efeito estufa.

Apesar de o mundo correr contra o tempo para frear o catastrófico aumento de temperatura, o ministro usou o espaço para falar que não acredita em uma "redução de emissões extremamente forçada, via taxas e custos a vários setores econômicos, com risco de geração de inflação verde e aumento da pobreza".

Estudos e organismos internacionais apontam que uma redução drástica e imediata de emissões -o que só é possível com investimentos pesados dos setores públicos e privados- é o único caminho para evitar que os atuais extremos climáticos vistos ao redor do mundo se tornem ainda mais destrutivos e caros para a humanidade, especialmente para as populações mais vulneráveis.

O discurso ocorreu na tarde desta terça-feira (15), em Sharm el-Sheikh, cidade basicamente compostas por resorts de luxo no Egito, às margens do mar Vermelho.

A crítica de Leite -ligada às emissões associadas a viagens particulares em jatinhos-, pelo o que o discurso indica, é direcionada aos países desenvolvidos e a seus representantes.

Curiosamente, porém, também nesta terça, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou à conferência climática de carona em um jatinho junto ao empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.

Com a carona, o presidente eleito virou alvo de críticas especialmente de deputados federais de oposição mais ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Lula chegou a ser alertado por aliados sobre o possível custo político da viagem no jatinho.

O discurso de Leite repetiu assuntos explorados durante todo o governo Bolsonaro, como as críticas sem apresentação de explicações à fiscalização ambiental e a ONGs. Ironicamente, as críticas são feitas durante uma conferência no Egito, país que tem um histórico recente de repressão à sociedade civil, inclusive com estimativa de milhares de presos políticos.

"Invertemos a lógica dos governos anteriores que só agiam para multar, reduzir e culpar", afirmou Leite, citando um trabalho "junto com o setor privado para encontrar soluções climáticas e ambientais lucrativas para as empresas, as pessoas e a natureza".

Mais uma vez falando sobre o setor privado, ao fim do discurso voltou a citar governos anteriores e os acusou, sem provas ou maiores explicações, de focar em "enviar recursos somente para ONGs". Bolsonaro, desde o início, afastou-se da sociedade civil e chegou a acusar ONGs de crimes ambientais, como queimadas, também sem quaisquer provas ou explicações. O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, seguindo a mesma linha e também sem provas, chegou a sugerir uma relação entre o desastre ambiental do óleo que atingiu o Nordeste brasileiro e um barco do Greenpeace.

O ministro, porém, logo no início de seu discurso, reconheceu que o desmatamento ilegal na Amazônia é um dos "enormes desafios ambientais" que o Brasil precisa enfrentar. Foi a única menção, em seu discurso, à maior floresta tropical do mundo.

Vale mencionar que o governo Bolsonaro ficou marcado por questionar os próprios dados governamentais sobre desmatamento e queimadas que apontam a crítica situação ambiental na Amazônia.

Parte do discurso do atual ministro do Meio Ambiente ressou críticas conhecidas dos países em desenvolvimento sobre as promessas não cumpridas de financiamento clássico. Havia o compromisso, por parte dos países ricos, de uma verba anual até 2020 de US$ 100 bilhões, valor que nunca foi alcançado.

"Vamos continuar recordando o compromisso dos países ricos emfinanciar com volumes relevantes e de forma eficiente os países em desenvolvimento para implementação de ações de mitigação, adaptação e compensações por perdas e danos"

Leite também levou à plenária as "energias verdes" brasileiras, citando a matriz energética limpa do país, destaque que é visto nos diversos paineis iluminados que enfeitam a frente do estande oficial do governo Bolsonaro na COP27. Durante a atual adminstração, porém, houve contratação de termelétricas, o que acaba "sujando" a matriz nacional.

O ministro também citou programas governamentais para redução de número de lixões, redução de emissão de metano e de baixa emissão na agropecuária, além de mencionar a reciclagem de embalagem de defensivos agrícolas.

O atual ministro do Meio Ambiente também falou brevemente sobre mercado de carbono. "O Brasil vai ser líder nesta compensação ambiental e exportar créditos de carbono para empresas e países poluidores", afirmou.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations


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