RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - "A Baía de Guanabara virou um cemitério de embarcações." A afirmação é do ecologista Sérgio Ricardo Potiguara, um dos fundadores da ONG Baía Viva, criada na década de 1980 no Rio de Janeiro.

Segundo ele, o último levantamento oficial, feito em 2002 pela Secretaria de Estado do Ambiente, apontou cerca de 200 embarcações (ou seus restos náuticos) na região, mas a falta de um inventário dificulta a contagem atual.

"Isso acarreta riscos à vida marinha, problemas de saúde coletiva, problemas de navegabilidade, impacto no turismo, perdas econômicas do setor pesqueiro", afirmou Potiguara.

Nesta segunda (14), um navio à deriva se chocou contra a ponte Rio-Niterói. Vistoria realizada por técnicos da concessionária Ecoponte concluiu que a estrutura da ponte não foi comprometida.

De acordo com o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), a responsabilidade sobre o controle das embarcações ancoradas e abandonadas na baía é da Marinha do Brasil.

"O Inea atua em caso de acidentes envolvendo derramamento de óleo ou de produtos nocivos, que resultem em dano ambiental", informou, em nota.

Questionada no início da tarde desta terça (15) sobre a existência de um inventário e de um plano de remoção dos navios abandonados, a Marinha informou que responderá "assim que possível". Este texto será atualizado assim que a resposta for recebida.

O navio São Luiz, que colidiu contra a ponte Rio-Niterói, já era alvo de monitoramento da Baía Viva, afirma Potiguara. "Um navio fantasma, totalmente corroído com ferrugem", disse.

O São Luiz é uma embarcação petroleira que tem 244,75 metros de comprimento e 42,36 metros de largura. Em nota sobre o navio divulgada nesta segunda, a Marinha afirmou que o São Luiz é alvo de processo judicial e está na baía "desde fevereiro de 2016 sem apresentar riscos à navegação".

Segundo Potiguara, o número de embarcações abandonadas na baía foi contabilizado em 2002 pelo governo estadual em um plano de gestão costeira, quando foram identificadas 200 embarcações.

Para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, a secretaria fez um leilão público e algumas embarcações foram retiradas. "É o que chamo de 'filé mignon das embarcações', que estavam na superfície da água do canal de São Lourenço, em Niterói, e ainda tinham valor financeiro", conta o ecologista.

O canal de São Lourenço, em Niterói, é a principal via náutica que dará acesso ao terminal pesqueiro de Niterói, na região metropolitana do Rio. Uma licitação já foi aberta para a sua dragagem.

Potiguara disse que, em reunião com o Inea em janeiro deste ano, o órgão reconheceu a existência de 80 embarcações somente no canal de São Lourenço. A UFF (Universidade Federal Fluminense) chegou a número parecido, 68 embarcações apenas no canal.

"Mas ainda há outros diversos pontos [em que há embarcações abandonadas], em São Gonçalo, próximo à ponte, e no entorno da Ilha do Governador. A maior concentração é no canal de São Lourenço", disse Potiguara.

De acordo com o ecologista, um inventário poderia revelar se há vazamento de óleo, verniz ou outras substâncias químicas dessas embarcações.

Além dos problemas de navegabilidade, Potiguara afirma que a pesca artesanal está prejudicada.

"Os pescadores de Ponta de Areia [Niterói] e São Gonçalo estão muito empobrecidos. Eles não conseguem chegar com pescado pelo risco de bater em pontas de ferro de embarcações afundadas", afirmou.

De acordo com o especialista, é necessário um plano para a retirada dos navios.

"Há regras para o descarte de embarcações. Aço ou alumínio devem ir para a sucata, reciclagem. Algumas podem ser afundadas para recifes artificiais que geram até ecoturismo", acrescentou.

Baía de Guanabara A baía de Guanabara foi confundida pelos portugueses como a foz de um rio, no mês de janeiro de 1502, dando origem ao nome da cidade 'Rio de Janeiro'. A sua entrada mede aproximadamente 1500 metros: de um lado fica o morro do Pão de Açúcar e, do outro, a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói.

Em 1974 foi inaugurada a ponte Rio-Niterói, que liga os dois municípios. Foi no seu guarda-corpo que um navio abandonado na baía colidiu, na noite de segunda (14), ocasionando seu fechamento. A via foi totalmente aberta nesta terça (15), após 17 horas da colisão. Uma vistoria não apresentou danos à estrutura.


Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!