CAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) - Um indígena de 89 anos da etnia kaiowá foi agredido e morto a facadas pelos filhos e o genro, em crime ocorrido na Aldeia Bororó, em Dourados, em Mato Grosso do Sul.

O corpo de Alonço Cabreira foi jogado numa pedreira abandonada próxima da aldeia, mesmo local onde, em agosto de 2021, uma filha dele foi estuprada e assassinada, aos 11 anos.

Os filhos do idoso Michele Cabreira, 25, e Miguelito Cabreira, 22, e o genro dele, Roger Amarilia Isnarde, 19, foram presos poucas horas depois de o corpo ter sido encontrado. A reportagem não obteve contato com a defesa dos suspeitos.

Os três foram presos em flagrante e vão passar por audiência de custódia para avaliar se a prisão será convertida em preventiva (sem prazo para ser encerrada).

Segundo a Polícia Civil, Cabreira estava desaparecido desde segunda-feira (28). O corpo foi encontrado por volta das 12h desta quarta (30) por crianças que passavam pela pedreira.

Policiais do SIG (Setor de Investigações Gerais) receberam informação da mulher da vítima de que ele foi visto pela última vez com um dos filhos, Miguelito, na segunda. Quando chegaram até a casa, ele tentou fugir, mas foi capturado. A irmã e o genro foram presos em seguida.

O crime aconteceu por volta das 23h. Segundo o delegado Erasmo Bruno de Mello Cubas, o idoso morreu porque os filhos queriam o dinheiro da aposentadoria dele para comprar cachaça. Todos, inclusive a vítima, já estavam embriagados, pois haviam passado parte da noite bebendo juntos.

Inicialmente, Miguelito negou participação no crime e atribuiu à irmã a responsabilidade pela morte do pai. Depois, em depoimento formal, confessou, segundo a polícia. Disse que ele e Michele pediram mais dinheiro e o idoso se negou a dar. Passaram a agredi-lo com socos e pedradas.

Durante a sessão de espancamento, os dois pediram para que Isnarde usasse a faca que sempre carregava para golpear a vítima. Conforme o relato de Miguelito, o idoso foi atingido no pescoço e na nuca e morreu no local. Depois, os três levaram o corpo até a pedreira.

Insarde também confessou o crime e diz ter recebido R$ 200. Os irmãos dividiram entre eles cerca de R$ 600. Segundo depoimento na 1ªDP (Delegacia de Polícia), o dinheiro foi gasto com cachaça.

Cubas diz que, inicialmente, a filha do idoso confessou, mas no depoimento formal mudou a versão, dizendo que apenas testemunhou o crime. O delegado, porém, afirmou que a mulher se contradiz em vários momentos e até chega a dizer que participou do crime.

Além do depoimento dos dois homens, a polícia também conta com o relato de outra irmã, de 20 anos, que estava na casa, mas não ajudou a matar o pai. Ela chegou a ser presa, mas foi liberada.

Miguelito, Michele e Insarde serão indiciados por latrocínio (roubo seguido de morte) e ocultação de cadáver.

RECORRÊNCIA

O delegado diz que de 80% a 90% dos crimes bárbaros ocorridos na comunidade indígena da região têm relação com o consumo de bebida alcoólica.

Um deles, em 8 de agosto de 2021, envolveu a filha mais nova de Alonço Cabreira: Raissa de Oliveira Cabreira foi estuprada por três adolescentes e dois adultos, entre eles o tio, que já abusava sexualmente da menina desde quando ela tinha 5 anos.

Após o estupro, ela foi jogada de uma altura de 20 metros, no mesmo local onde o corpo do pai foi encontrado. Cubas diz que foi coincidência, já que a casa de Miguelito fica perto da pedreira.


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