MONTREAL, CANADÁ (FOLHAPRESS) - A mineradora canadense Belo Sun, que pretende instalar a maior mina de ouro a céu aberto do Brasil na região da Volta Grande do Xingu (PA), é alvo de denúncias de indígenas brasileiros que participam da COP15 da biodiversidade da ONU, sediada pelo Canadá.
Em anúncios à imprensa, o ministro do Meio Ambiente do Canadá, Steven Guilbeault, tem afirmado que a COP15 é uma oportunidade para o país mostrar sua liderança na adoção de ações pela conservação da biodiversidade. Mas, para as lideranças da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e a ONG Amazon Watch, a conferência é uma oportunidade para mostrar o oposto.
"Empresas que destroem a Amazônia encontram abrigo e apoio político aqui no Canadá", afirmou o líder indígena Dinamam Tuxá, representante da Apib, na sexta-feira (9), em um evento paralelo à COP15, promovido pela Amazon Watch.
Em sua página oficial, a Belo Sun diz estar comprometida com as comunidades dos locais onde atua e que busca "manter impacto ambiental no mínimo".
A Amazon Watch trouxe a Montreal um relatório sobre os impactos do projeto de mineração da Belo Sun, com a intenção de convencer investidores a não financiar o projeto Volta Grande --cuja licença prévia do licenciamento ambiental foi suspensa pela Justiça em maio por falta de consulta a comunidades impactadas pela obra.
Entre os impactos levantados pela Amazon Watch, estão a emissão de carbono ligada ao desmatamento e a contaminação causada por rejeitos tóxicos da mineração de ouro.
"Como o modelo da Belo Sun é de cava aberta e prevê, em 18 anos, explorar 205 mil onças de ouro [cerca de 5.800 kg], isso deve emitir cerca de 3 milhões de toneladas de carbono. É um retrocesso para a conservação da biodiversidade, para o clima, os direitos humanos e a autonomia dos povos indígenas", afirma Gabriela Sarmet, assessora de campanhas da Amazon Watch para o Brasil.
"Pelo menos 1.700 km2 de floresta amazônica ficam ameaçadas pelo projeto. O desmate pode ser até 12 vezes maior do que a área de exploração mineral", completa Sarmet, destacando que os rejeitos tóxicos devem contaminar pelo menos 41 km do rio Xingu e, nos cenários mais drásticos, chegar ao rio Amazonas e ao oceano Atlântico.
O projeto deve ser instalado a menos de 50 km da barragem principal da usina hidrelétrica de Belo Monte, cujo desvio do rio Xingu afetou as comunidades indígenas da região.
"Nós estávamos lidando com os problemas de Belo Monte e não vimos que Belo Sun já estava aqui fazendo estudo e, quando vimos, já tinham licença prévia, já estavam emitindo a licença de instalação, e não fomos consultados de nada. Conseguimos impedir", afirmou a líder indígena Bel Juruna, cuja aldeia está a mais de 100 km da usina de Belo Monte.
"Estamos em um trecho de vazão reduzida do rio Xingu, com a água controlada por comportas. Fecham e abrem quando querem. Isso trouxe impactos profundos para nossa vida e a nossa cultura", afirma.
"É impossível imaginar uma mineradora desse porte nessa mesma região. Vai ser o extermínio total do meu povo. Falo pelo meu povo, pelos peixes, pelas árvores", completou.
Para Joan Kuyek, pesquisadora e fundadora da Mining Watch Canada, "esse comportamento predatório é endêmico da mineração canadense e o Brasil é um dos seus principais focos". "As leis, regulações e o sistema tributário do país é desenhado pelas mineradoras e em prol delas", afirmou.
"Nossa maior indústria é a do investimento, em Toronto, com 75% das mineradoras sendo juniores que buscam ser adquiridas pelas gigantes."
Embora seja uma empresa júnior, a Belo Sun é controlada pela gigante canadense Forbes & Manhattan, fundada pelo empresário Stan Bharti, que, por sua vez, também atua como operador financeiro da Belo Sun e da Potássio do Brasil.
Ao longo dos últimos quatro anos, Bharti se reuniu diversas vezes com o vice-presidente Hamilton Mourão para tratar sobre os dois projetos.
"Bolsonaro não atuou sozinho contra a Amazônia, ele encontrou abrigo em grandes corporações que financiaram a campanha dele e fizeram incidência no Congresso pelo PL 191/22, por exemplo [projeto de lei que autoriza mineração em terras indígenas]", afirma Tuxá.
A área de atuação da Potássio do Brasil conflita com uma terra indígena em processo de demarcação, a Soares/Urucurituba, na região do município de Autazes (AM). O povo indígena Mura relata sofrer pressões da mineradora para deixar o território. A licença da empresa também é alvo de processo judicial.
"Essencial que o revogaço prometido por Lula se posicione abertamente contra esse projeto de destruição e revogue o decreto 10.657/2021, assinado por Bolsonaro, que acelera o licenciamento ambiental de projetos minerários e cria uma lista incluindo os projetos da Belo Sun e da Potássio da Brasil", afirma Sarmet.
Em sua página na internet, a Belo Sun diz que "a cooperação contínua e a aceitação de nossas comunidades afetadas é uma prioridade máxima para nós, e nos esforçamos para manter nosso impacto ambiental no mínimo". Procurada por email, a mineradora não retornou aos contatos da reportagem até o momento da publicação.
"Queremos eletrificar nossos sistemas de transporte e energia, e isso envolve minerais. Não podemos resolver um problema criando outros, sabemos que muitos produtos minerários enfrentam desafios ambientais", disse à reportagem o ministro do Meio Ambiente do Canadá, Steven Guilbeault, durante a Assembleia-Geral da ONU, em setembro.
"Como governo, queremos garantir que nos movamos na direção de práticas mais sustentáveis, seja para bens canadenses ou de fora, mas não há regulação sendo preparada nesse sentido", afirmou Guilbeault à época.
A reportagem Ana Carolina Amaral viajou a Montreal a convite da ONG Avaaz.
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