SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Lideranças que organizam uma paralisação de motoboys autônomos para o dia 25 deste mês temem que o movimento seja confundido com algum tipo de iniciativa bolsonarista ou contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A movimentação já teria, inclusive, causado espécie entre apoiadores do atual mandatário.

"A nossa manifestação é contra as empresas de aplicativo, e não contra o atual governo. É uma luta dos trabalhadores, seja qual for o lado que ele defenda", afirma o entregador Jr. Freitas, responsável pela articulação no estado de São Paulo. Ele rechaça a hipótese de que se trata da um protesto de oposição.

"A campanha do atual presidente falava muito sobre um diálogo com a classe trabalhadora, e a gente entende que esse é o momento em que os entregadores de aplicativo autônomos precisam abrir essa porta de diálogo, precisam se mostrar presentes", diz ainda.

De acordo com Freitas, que é um dos dirigentes da recém-criada Aliança dos Entregadores de Aplicativos (AEA), o número de estados que já aderiram à paralisação saltou de quatro para 15 nesta semana.

"Tenho certeza absoluta de que a tendência de tudo isso é aumentar. A gente tem como referência o Breque dos Apps de 2020, que teve uma repercussão gigantesca", afirma.

O entregador diz que o movimento já reúne o apoio de entregadores como Paulo Lima, o Galo, e o presidente da Amabr (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil), Edgar Francisco da Silva, o Gringo. Outros articuladores do breque de 2020 também estariam envolvidos.

Como antecipou a coluna Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, nesta semana, a mobilização deve se concentrar em centros comerciais do país, pontos de coleta e em frente a escritórios do Ifood, um dos principais aplicativos de entregas do mercado.

O movimento reivindicará melhores condições de trabalho, maior participação nas discussões promovidas pelo governo sobre a regulação dos aplicativos e a criação de um fundo social para a proteção de trabalhadores do segmento, entre outros pontos.

"A nossa luta é contra as empresas de aplicativo, e o que nós queremos do atual governo é uma porta de diálogo. Mas também não deixa de ser uma cobrança em cima daquilo que o próprio presidente eleito vem falando nas suas campanhas. Agora que ele está exercendo o cargo de chefe de Estado, a gente quer que ele cumpra as promessas", afirma Jr. Freitas.

O motoboy diz acreditar que a concentração da paralisação diante de escritórios do Ifood poderá servir de exemplo para outras empresas. "A gente tem a convicção de que o Ifood detém a maioria das demandas que hoje existe no mercado", explica.

"Se a gente encarar de frente o aplicativo que tem maior ascensão no mercado hoje, a gente mostra para os outros que a gente não vai mais aceitar esse tipo de situação com a classe trabalhadora", continua.

Como mostrou a coluna Painel S.A., da Folha de S.Paulo, as empresas do setor se pronunciaram nesta semana afirmando que é preciso ouvir todos os lados da discussão. Em nota, o iFood disse que apoia o debate sobre a regulação do trabalho em plataformas.

"Desde 2021, defendemos publicamente um diálogo amplo sobre o tema que envolva entregadores, governo e setor. Como empresa brasileira, estamos abertos a colaborar na construção de um modelo que entenda as novas relações de trabalho e traga proteção e direitos aos trabalhadores", disse a empresa.

Na terça-feira (3), o novo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, prometeu uma proposta de regulação de aplicativos ainda no primeiro semestre deste ano. Na ocasião, o chefe da pasta classificou o trabalho da categoria como "semiescravo".

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