RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - "Quem tá envolvido num relacionamento, talvez nem perceba, talvez ache que é normal. Mas quem tá de fora consegue enxergar quando os limites estão prestes a ser gravemente ultrapassados." A frase de Tadeu Schmidt, apresentador do BBB23 da TV Globo, pegou de jeito os confinados e o público na madrugada desta segunda-feira (23).

Após a atriz Bruna Griphao dizer que era o "homem da relação" no romance que vive com o modelo Gabriel Tavares, recebeu uma resposta atravessada do ficante. "Já já você vai tomar umas cotoveladas na boca", disse ele. Tadeu finalizou dizendo diretamente ao brother que "numa relação afetiva, certas coisas não podem ser ditas nem de brincadeira."

O alerta não soou bem ao casal, que decidiu se separar após o episódio. O choque de serem vistos como exemplo de um caso de abuso deixou os dois envergonhados e preocupados com o que a família de cada um poderia pensar -para Gabriel, pesou ainda o medo da rejeição no jogo caso fosse para o paredão.

Este não foi o primeiro exemplo do tipo no programa, que teve episódios de bullying entre casais e concorrentes, mas despertou o debate: como reconhecer quem é agressor ou vítima em uma relação tóxica?

A psicóloga Manuela Moura, especialista em terapias de casal e docente no Cefac (Centro de Estudos da Família), afirma que abuso é o excesso de algo e, no caso de relacionamentos, vale tanto para agressões físicas quanto verbais. Moura reforça que a sociedade, de certa forma, divide o abuso em dois tipos: aquele que deixa marcas externas e é visto como inaceitável e outros, verbais e emocionais, que são de certa forma permitidos e até legitimados.

A postura dificulta a denúncia e o rompimento, pois quanto mais forte a conexão (ou o desejo de que o laço perdure), mais difícil é para a vítima admitir as evidências do abuso e se desvincular da culpa.

A profissional diz que em sua clínica vê muitos casais em longos períodos de violência emocional sem questionar se estão em uma situação abusiva. Mestre em psicologia do desenvolvimento pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), a profissional lembra que não são apenas casais que sofrem com abusos, mas também familiares, por exemplo.

Há, porém, um ponto em comum na tônica de todos os tipos de relacionamentos abusivos, que é a violência psicológica usada para manipulação. Os recursos mais comuns nesses quadros de dominação são xingamentos, gritos, ameaças, chantagens, depreciação pública ou privada, críticas excessivas, entre outras.

"É tudo o que, através da fala, vai minando a autoconfiança do outro, fazendo com que essa pessoa se sinta inadequada, esquisita, estranha, errada, absurda", diz Moura.

A psicóloga também aponta que é preciso diferenciar brigas mais pontuais de uma relação abusiva. "Pode ser uma briga muito ruim, falou coisas que se arrependeu, se excedeu, xingou, ofendeu. Não deixa de ser violento, só que para ser considerado uma relação abusiva isso precisa estar na tônica da relação, ser a pauta relacional e não um evento esporádico", conta.

Para saber se é um abuso, de acordo com Moura, é preciso observar se a relação está baseada na submissão do outro.

"[É abuso] se todos os dias a pessoa desqualifica, ofende, humilha, tortura, diz coisas como 'se você não fizer o que eu quero eu vou abandonar você', 'não vou mais ser sua mãe', 'vou te mandar para casa do seu pai' ou 'a gente vai se separar'", aponta a psicóloga.

A terapeuta recomenda tratar a origem do problema, uma vez que aqueles que se envolvem em relacionamentos abusivos normalmente aprenderam a se relacionar de forma semelhante com seus familiares. A orientação é procurar um profissional da psicologia.

Para a especialista, a maneira mais eficaz de sair da relação abusiva é cuidando de si, entendendo quais as maneiras de amar e se existem outras além daquelas já conhecidas.

"Pessoas acostumadas a estar em uma relação abusiva sentem que a culpa é delas. Um mecanismo que as mantém muitos anos dentro de uma relação dessas. O abusado tende a achar que o problema é dele, que realmente não faz nada certo. Para sair, não basta identificar que está em uma relação abusiva. Ela precisa também perceber qual é a parte dela que mantém esta relação funcionando desse jeito, reconhecer que existe um padrão que é do outro que é agressivo", conclui Moura.


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