SANTOS, SP (FOLHAPRESS) - A autônoma Suelen Moraes, 37, foi só uma das 10.630 pessoas que encararam uma fila de mais de uma hora, sob o sol e intenso calor de 30ºC, como parte de um programa inusitado neste domingo (29) em Santos, no litoral paulista.

Na contramão de outros turistas e moradores do município, ela deixou a praia de lado para subir a bordo do Navio-Aeródromo Multipropósito A140 Atlântico, o maior da Marinha brasileira.

Adquirida em 2018, a embarcação atracada em Santos foi aberta à visitação do público, assim como três fragatas classe Niterói --Defensora, Liberal e Independência.

A meta de Suelen era simples: tirar a filha de dez anos do tablet, em casa. "Praia, para nós, é algo bem mais comum. Tenho tentado proporcionar passeios de bicicleta e visitas de qualquer tipo para tirá-la da frente do tablet", disse à Folha. "E como já fomos muitas vezes ao aquário e ao orquidário [locais públicos mais visitados do município], achei o navio uma opção interessante. Mas por ela já teríamos saído da fila antes mesmo de chegar."

O navio-aeródromo chama atenção pelo tamanho. Possui 203,4 metros de comprimento --equivalente a um prédio de 40 andares--, pesa 21,5 mil toneladas e tem mais de 400 tripulantes e 150 alunos a bordo, além de capacidade para comportar até 1.400 militares quando em missão.

De acordo com a Marinha, o navio também pode transportar até 18 aeronaves em seu hangar e convoo, tanques e outros armamentos de guerra.

Antes de ser adquirida, a embarcação foi utilizada pela marinha real britânica. Em seu histórico estão operações de apoio em Kosovo, Serra Leoa, Líbia e Iraque.

"Vim de Itabaiana, no interior de Sergipe, no dia 1º de janeiro, e vou embora em dois dias. Achei uma boa oportunidade antes de ir, mesmo com fila e calor. Nunca vi nada assim", relata Helenílson da Silva, 40, que passou férias com a família em Santos.

Situação semelhante à da administradora Gisele Rodrigues, 40, moradora da capital paulista, que utilizou a visita ao navio como o ato derradeiro da viagem iniciada na última quarta (25), embalada pelo feriado do aniversário de São Paulo.

"Vim com minha mãe, meu irmão, sobrinhos e filha. Decidimos [visitar] o navio como o último passeio antes do retorno. Daqui é direto para a estrada", contou.

A visita dos quatro navios faz parte das comemorações finais do aniversário de 477 anos de Santos.

"Nos programamos em família para vir. Só minha irmã que precisou sair antes, pois foi trabalhar", contou o motorista Allan Tavares, 31, que atravessou Guarujá para chegar à cidade vizinha e estava acompanhado de nove parentes na fila.

Espalhados por diversos pontos da embarcação, oficiais atendiam os visitantes para tirar dúvidas relacionadas às operações da Marinha e ao funcionamento do navio e de armamentos.

"Esse helicóptero é maior do que o Águia [utilizado pela Polícia Militar]?", questionou o administrador Osmar Batista, 44. "Este comporta até 37 pessoas, com três horas de autonomia", respondeu um dos tripulantes.

As fragatas, construídas nas décadas de 1970 e 1980, têm a missão de localizar e destruir aeronaves, navios de superfície e submarinos inimigos. São utilizadas normalmente para patrulhas.

Na parte inferior do navio ficaram expostos armamentos. Despertou atenção um míssil superfície-ar portátil Mistral, fabricado pelos franceses e adquirido pela Marinha no início da década de 1990.

Segundo a Força Naval, o item pesa cerca de 40 quilos. Quando há um alvo possível, um alarme sonoro informa a possibilidade de disparo. O míssil é projetado como um foguete, atraído pelo calor do alvo e com um alcance de até 6 km.

"Aqui tudo desperta muita curiosidade. Quando temos algo à disposição, como a praia, se torna comum. Nunca havia subido a bordo de um navio, muito menos militar. Vejo muitas crianças curiosas", diz a técnica de enfermagem Ana Cristina Rodrigues, 35.

A esquadra formada pelos quatro navios faz parte da Operação Aspirantex 2023, que treina aspirantes da Escola Naval. O Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico possui cinco departamentos: armamento, operações, máquinas, administração e aviação. Ainda neste mês, outra esquadra esteve no porto de Paranaguá, no Paraná.

"As pessoas precisam entender: o que faz a Marinha? Há uma operação contínua de manutenção. Nada fica parado, é uma cidade flutuante que precisa estar pronta. Além, claro, de fiscalizações, simulações", afirma Robledo de Lemos Costa e Sá, comandante da Capitania dos Portos do Estado de São Paulo.

Durante o período de visitação às embarcações, no próprio Cais da Marinha em Santos, foram arrecadados alimentos não perecíveis para serem distribuídos a entidades assistenciais.

Um dia antes, no sábado (28), a Marinha abriu o navio para visitas guiadas, e cerca de 1.300 pessoas estiveram presentes. Segundo a Capitania dos Portos, em todo o fim de semana foram registrados mais de 12 mil visitantes.


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