SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio à crise dos yanomamis, o Exército publicou na sexta-feira (27) atualização de uma portaria de 20 anos atrás a respeito de relacionamento dos militares com comunidades indígenas.

O governo Lula (PT) declarou emergência em saúde pública no último dia 20, após o presidente receber imagens de indígenas com quadro de desnutrição grave. Ele fez uma visita a Roraima no dia seguinte, o que deu visibilidade à explosão de casos de desnutrição, doenças associadas à fome (como diarreia e infecções respiratórias) e malária no território yanomami.

Os militares têm sido alvo de críticas por leniência ou mesmo participação na atual crise dos yanomamis. Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que relatórios da Funai apontaram militares corrompidos pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

Em relação à versão anterior, de 2003, o texto, chamado "Diretriz para o relacionamento do Exército Brasileiro com as comunidades indígenas", recomenda, entre outros pontos, que familiares de militares que os acompanham em missões junto a comunidades indígenas desenvolvam também a atitude de conhecer e respeitar os hábitos, costumes e tradições dos povos locais.

"É importante que todos os militares, especialmente aqueles que terão contato direto com as comunidades indígenas, conheçam e respeitem seus hábitos, seus costumes e tradições, de forma a tornar harmônica e proveitosa para a Força Terrestre a convivência com os indígenas em todo o território nacional. É, ainda, recomendável que os familiares desses militares que os acompanham desenvolvam a mesma atitude", diz o texto.

Efeitos nocivos de contatos de militares e indígenas são noticiados com frequência. Em 2020, reportagem do UOL mostrou que mulheres de militares maquiaram, deram roupas e causaram aglomeração de yanomamis durante o pico da Covid-19.

Além disso, a portaria dá ênfase à necessidade de inclusão de conteúdo a respeito dos indígenas no currículo militar. O texto é assinado pelo general Valério Stumpf Trindade, chefe do Estado-Maior do Exército.

Como novidade, o texto fala em estimular a produção científica sobre assuntos relacionados aos indígenas e o relacionamento de suas comunidades com o Exército e apoiar a organização de estágios na modalidade EAD (ensino à distância) para militares designados para servir em áreas com comunidades indígenas.

A portaria do Exército também abandona o termo "índio", substituindo-o por "indígena", defendido pelos povos originários, e mantém a recomendação de 2003 de incorporar jovens de comunidades indígenas a suas fileiras.

Em recomendação a seu centro de comunicação social, o Exército pede acompanhamento constante de forma a mapear assuntos relacionados ao trato com "comunidades indígenas que possam impactar a imagem e a reputação da Força."

Weibe Tapeba/Sesai/Divulgação - Crianças Yanomami

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