SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) - Uma milícia tem travado uma disputa sangrenta com o PCC nas regiões do Parque Arariba, Campo Limpo, Capão Redondo e Jardim São Luís, zona sul da capital paulista. Conhecido como Pés de Pato, o grupo é alvo de uma investigação da Polícia Civil de São Paulo.
A apuração começou com o assassinato de Manoel Paulo da Silva Junior, 41, conhecido como Juninho, morto com dez tiros em uma emboscada na avenida Guarapiranga, no Jardim São Luis, em 30 de junho de 2022. De acordo com a polícia, a vítima fazia parte dos Pés de Pato. Além de Silva Junior, pelo menos outros cinco integrantes da milícia também teriam sido mortos pelo PCC.
Os grupos disputam controle do território e do "gatonet" ?acesso ilegal ao sinal das operadoras de TV por assinatura? na região.
Com forte atuação no Rio de Janeiro, as milícias não costumam ter destaque no noticiário em São Paulo.
Para o sociólogo José Claudio Alves Souza, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a hegemonia do PCC impede o avanço dessas organizações criminosas no território paulista.
No Rio, de acordo com o sociólogo, a existência de outras facções criminosas fortalece as milícias. "É fácil para os milicianos se aliarem a uma facção inimiga. Eles têm se aliado ao Terceiro Comando para enfrentar e confrontar o Comando Vermelho, que é a facção mais forte do tráfico. Existem essas divisões internas que permitem negociações."
Souza diz que existem cinco pontos que levam grupos de extermínio a se tornar milícias ?que evoluem de formas diferentes dependendo da região do Brasil.
Normalmente são servidores públicos ou se aliam a servidores públicos.
Especialistas em matar e ferir pessoas, por terem sido "treinados dentro da estrutura de Segurança Pública, para produzir danos sobre aqueles que identificam como bandidos, ladrões, traficantes --principalmente pessoas mais pobres, moradores de favelas e periferias".
Têm controle territorial armado.
São financiados por empresários e comerciantes.
Se elegem para cargos políticos.
O sociólogo explica que, embora em muitos casos não haja a presença física de policiais nas milícias, eles "protegem imensamente esses grupos".
O SURGIMENTO DOS PÉS DE PATO
O surgimento dos Pés de Pato tem relação com o histórico violento das periferias da zona sul paulistana na década de 1990, segundo Juliano Carvalho Atoji, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), força-tarefa de combate ao PCC dentro do MP-SP.
"Os principais motivos dos homicídios eram a rivalidade de gangues entre bairros vizinhos ?principalmente Capão Redondo e Jardim Ângela?, brigas de bar, violência doméstica, e, em especial, a ação de justiceiros, que já se chamavam Pés de Pato, nas regiões do Campo Limpo, Parque Arariba, Jardim Orion, Vila das Belezas, Jardim São Luis e Parque Santo Antonio."
Os Pés de Pato, porém, não foram os primeiros e nem eram os únicos justiceiros da região. "Um dos grupos mais famosos na zona sul ?e nos municípios de Itapecerica da Serra e Embu das Artes? foram os 'Highlanders'. Eles ficaram conhecidos na década de 90 e início dos anos 2000 por diversos homicídios", relata Atoji.
Com a ascensão do PCC, no início dos anos 2000, as regiões dominadas pelos Pés de Pato passaram a ser tomadas, aos poucos, pela facção criminosa. Mas, recentemente, com a prisão de alguns membros do PCC, alguns Pés de Pato assumiram novamente atividades criminosas, como a cobrança do "gatonet".
"O PCC resolveu retomar esses domínios territoriais e de exploração dessas atividades, o que fez surgir o conflito e mortes nesses locais", afirma o promotor.
Questionada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que as investigações do caso estão em andamento no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), por meio de inquérito policial.
ORIGEM DO NOME
Pé de Pato, na gíria usada pelos criminosos, significa "justiceiro" que mata supostos bandidos. É uma referência a Francisco Vital da Silva, Chico Pé de Pato, um dos maiores "justiceiros" de São Paulo, acusado de assassinar pelo menos 50 pessoas na zona leste na década de 1980.
Chico teria se tornado matador após um grupo de assaltantes invadir sua casa para estuprar sua mulher e sua filha de 16 anos.
Ele seria aliado de policiais, que entregavam nomes de "bandidos" que deveriam morrer. Comerciantes também pagavam o "justiceiro" para realizar tais serviços.
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