BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A nova secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, disse que liberou nesta semana a campanha de vacinação contra a Covid para a população yanomami e outros povos indígenas do país.
O foco é que agentes de saúde façam uma busca ativa para vacinar essa população antes de começar a campanha oficial, no dia 27 de fevereiro.
A intenção da pasta é fazer estratégias diferentes por regiões do país para alcançar as especificidades de cada lugar. Além disso, a pasta pretende acionar um amplo esquema de comunicação, com influenciadores, artistas, políticos, líderes religiosos e professores.
Ethel considera que 2023 será um ano de transição para começar a melhorar as coberturas vacinais no país. Entretanto, considera que será um trabalho de quatro anos para conseguir atingir altas taxas de imunização.
A secretária disse que há possibilidade de firmar novos contratos com a Pfizer e o Instituto Butantan e ampliar as doses do contrato vigente com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Há conversas para que a vacina da Moderna entre no portfólio do Ministério da Saúde se for aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com a intenção de acelerar a vacinação.
PERGUNTA - Como está o estoque de vacinas contra a Covid?
ETHEL MACIEL - A pasta conseguiu regularizar? A [Pfizer] pediátrica e a [Pfizer] baby já enviamos para os estados e municípios, o estoque está regularizado. Uma criança de seis meses em diante já tem vacina no posto para tomar. Certamente vamos ter que iniciar novos contratos porque, como vamos fazer uma campanha, esperamos que a demanda aumente muito.
P. - Quando você diz que o estoque está regularizado, é possível começar uma megacampanha de vacinação contra a Covid em qualquer faixa etária?
EM - Estamos fazendo a mobilização em fases, e isso está atrelado às [datas de] entregas da vacina pelas empresas. A gente também está tendo que fazer novos contratos para compras porque a possibilidade de ampliação dos contratos fechados pelo governo anterior era muito pequena. Eram aditivos de contrato.
P. - Desses novos contratos, quais vacinas serão adquiridas?
EM - A Pfizer baby, pediátrica e bivalente. A Coronavac nós compramos todo o estoque de 3 milhões focando no público pediátrico, e estamos fazendo um novo contrato de mais 10 milhões de doses para o público mais jovem. A gente ainda tem contrato com a AstraZeneca que possibilita novas compras. A AstraZeneca tem projeto de atualização para a bivalente, e vamos acompanhar para ver como serão as novas compras.
Vocês pensam em adquirir a vacina da Moderna? Já estamos conversando com a empresa para adquirir essa vacina que já está sendo administrada em outros países e tem uma efetividade excelente, mas não podemos fazer nada antes da aprovação da Anvisa. Nós temos interesse em ofertar mais essa vacina para nossa população. A Pfizer hoje não tem o volume que a gente precisa. O nosso problema é em relação à quantidade, não é um problema financeiro.
P. - A Moderna já tem doses disponíveis?
EM - Tem. Provavelmente para acelerar a vacinação faríamos o contrato, mas é preciso avaliar quantas doses [vamos querer].
P. - Como está o estoque das vacinas pediátricas?
EM - Temos estoques das vacinas em geral. No caso de quatro vacinas -entre elas a BCG [contra tuberculose], que encontramos com os estoques zerados--, vamos fazer novas compras. Por conta da aquisição dessas doses, a campanha de vacinação começa em maio.
P. - Quantas vacinas vencidas há no estoque?
EM - A gente tem o levantamento, mas não divulgou porque está em sigilo. Acho que a gente tem que dar transparência para isso porque é dinheiro público e as pessoas têm todo o direito de saber. É um pouco mais [de 30 milhões], e é mais [estoque contra] Covid. Mas não sei exatamente quanto.
P. - A campanha de vacinação vai ter início dia 27 de fevereiro para a população do grupo de risco. Qual a estratégia para conseguir atender um grande número de pessoas?
EM - Queremos falar da importância da vacinação como um todo, não focar em Covid especificamente porque a campanha vai ser muito maior que isso. Em setembro, o PNI [Programa Nacional de Imunizações] faz 50 anos, então é um ano simbólico.
Pretendemos trabalhar com campanhas de comunicação diferenciadas por região porque sabemos que há diferenças regionais e culturais. O problema para a baixa cobertura também é diferente em relação às classes sociais. Temos uma diminuição da cobertura nas classes sociais mais altas. No público usuário do SUS, a maior dificuldade é operacional -por exemplo, o horário de funcionamento das unidades.
P. - Como será exatamente a estratégia de comunicação?
EM - Carro de som, televisão, rádio, WhatsApp, todas as mídias. Essa parte do WhatsApp não sei detalhar, mas a encomenda da ministra [Nísia Trindade] é que a gente faça uma grande campanha. A gente quer trabalhar com influenciadores, políticos, líderes de opinião que podem ajudar a fazer essa campanha de sensibilização. Vamos ter que atuar em múltiplas frentes.
P. - A campanha começa no fim do mês. Não era para já estar forte?
EM - Não tínhamos empresa de publicidade. Fizemos todo o processo de contratação, que termina hoje [9]. Também tem Carnaval no meio, então estamos preparando a campanha do evento e focando nas infecções sexualmente transmissíveis.
P. - Como melhorar as taxas de vacinação infantil? Tem algo relacionado a só poder frequentar escola pública se estiver vacinado, por exemplo?
EM - O funcionário da escola muitas vezes não sabe olhar o cartão para dizer se a criança está com todas as doses. É preciso melhorar o sistema de informação para que o ConecteSUS dê um certificado de que essa criança está apta para ser matriculada. Alguns estados têm leis que vinculam a matrícula à apresentação de um certificado. A família precisa ir à unidade de saúde para o profissional ler o cartão e emitir o certificado, e isso exige um pouco mais de trabalho. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, existe a obrigatoriedade de a criança estar vacinada.
P. - Mas isso não está vinculado ao acesso à escola. Certo?
EM - Hoje, se a criança não está com o cartão regularizado, o conselho tutelar pode acionar os pais. A escola é o local para fazer isso [fiscalização], o problema é como você fiscaliza. Para fazer a matrícula, é exigido o cartão de vacinação, mas ninguém vai saber se aquilo está certo ou não. O ideal seria que a gente nem precisasse exigir. Precisamos recuperar a confiança das pessoas na vacina.
P. - Vai ter campanha específica para os yanomamis?
EM - Estamos fazendo uma ação específica para aquela área de emergência. Então, a partir do momento que [o município] receber a vacina, não precisará esperar até o dia 27 para começar a aplicação. Como são as mesmas pessoas que [atendem a região emergencialmente e] aplicam a vacina, é mais lógico que inicie com esse público de mais difícil acesso.
P. - É possível dizer que já teve início a campanha de vacinação para os yanomamis?
EM - Pode-se dizer que começou porque autorizamos ontem [8]. Pode ser que a vacina não tenha chegado em alguma unidade, mas já estão autorizados a começar a vacinar.
P. - A senhora espera que as coberturas melhorem ainda neste ano?
EM - A gente está considerando 2023 como um ano de transição. Nossa expectativa é melhorar muito as coberturas, mas o estrago não vai se recuperar no primeiro ano. É um plano de quatro anos para que a gente consiga devolver ao Brasil as coberturas altas que sempre tivemos. É uma tarefa muito complexa porque, infelizmente, as ferramentas de desinformação também inovaram. Uma coisa é ter alguém falando contra a vacina numa sala com dez pessoas, outra é essa amplificação que as redes deram.
P. - Lula disse que vai cobrar de lideranças evangélicas apoio às campanhas de vacinação. Como está o diálogo com lideranças religiosas? Com certeza [vamos procurar líderes religiosos]. Todos os líderes de todas as matrizes são figuras importantes nas comunidades. Eles têm a confiança da população.
Há vacinas que vocês pensam em incorporar nessa gestão, como a da dengue?
EM - O próprio Butantan tem desenvolvido vacinas contra a dengue e outras doenças, principalmente as negligenciadas. A vacina de dengue, por exemplo, pode ser incorporada no Ministério da Saúde.
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