SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dona Isabel Ferreira, 68, sorriu quando uma mulher, mais idosa que ela, acenou da pista do Sambódromo do Anhembi, onde integrantes de velhas guardas de várias escolas de samba desfilavam em uma espécie de esquenta para a primeira noite de apresentações do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo, que começou às 23h15 desta sexta-feira (17).
"Ela é da Unidos do Peruche, escola que tem história, mas desta vez não está entre as principais", afirmou para a sobrinha Maria Carolina Ferreira, 23.
A idosa afirmou já ter perdido as contas de quantas vezes assistiu aos desfiles das escolas de samba paulistanas. Mas deixou de sentar nas arquibancadas do sambódromo nos dois últimos anos, por causa da pandemia de Covid-19. "A ansiedade era grande", afirmou.
Dona Isabel torce para a Rosas de Ouro, quarta das sete escolas que se apresentariam entre a noite desta sexta e a madrugada de sábado (18). Mas confessa que gosta mesmo é de ver "todo mundo fazer bonito", da Independente Tricolor, a primeira a entrar na avenida, até a Gaviões da Fiel, que seria a última, às 5h45.
Dois anos depois de restrições impostas pela pandemia, que impediram a realização do desfile em 2020 e "empurrou" o Carnaval para abril em 2022, as apresentações voltaram a ocorrer em fevereiro e a expectativa era grande, tanto do público quanto de integrantes de escolas de samba.
A Independente Tricolor abriu a primeira noite do Carnaval de São Paulo pontualmente às 23h15. O enredo "Samba no pé, lança na mão. Isso é uma invasão!" combina mitologia e vida real e conta a trama de traição e ambições que gerou a guerra entre Esparta e Troia.
A escola, que chegou ao grupo especial após conquistar o vice-campeonato no grupo de acesso no ano passado, levou 1.800 integrantes ao sambódromo.
"A emoção é muito grande, até porque especial não é para qualquer um", disse Mariane Freitas, que desfila pela Independente há seis anos e estava confiante no título.
A ansiedade nas arquibancadas e as críticas à intolerância religiosa e ao racismo nos enredos que seriam exibidos na passarela deram o tom da primeira noite de desfiles, quando as escolas também passeariam pela história da Paraty (RJ) e do Pantanal.
Juntos na torcida pela Unidos de Vila Maria, Daniel Antônio Lorga, 35, e o pai, José Augusto Lorga, 71, acompanham os desfiles desde 1995.
"Só não deu para vir no ano passado, porque já foi em abril, fora da época", diz Daniel.
Voltar a torcer no sambódromo é um presente para pai e filho, mas José Augusto diz que faltaram placas de indicação no caminho.
Ele também afirma que não viu os folhetos com as letras dos sambas-enredo deste ano.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) chegaram juntos ao sambódromo. Pouco antes de o desfile começar, eles foram à concentração.
"Pela primeira vez atravessando a passarela, é extremamente gratificante. Parabéns a todos que se empenharam, sobretudo às escolas de samba, que vão fazer um grande espetáculo neste que já e o melhor Carnaval do Brasil ", disse o governador, que é do Rio de Janeiro e mudou seu domicílio eleitoral para São José dos Campos, no Vale do Paraíba, para disputar as eleições no ano passado.
Algumas pessoas na plateia vaiaram Tarcísio e cantaram "olê, olê, olá, Lula, Lula".
"Depois um Carnaval fora de época, por causa das restrições da pandemia, voltamos com praticamente 100%. Não tenho dúvida vida de que teremos o maior e melhor Carnaval do Brasil aqui é nas ruas", disse Nunes. "O sucesso foi tanto que esgotaram os 35 mil ingressos."
Longe do camarote das autoridades e ao som de um sambinha que retratava a velha guarda do Carnaval pelo sistema de som do sambódromo, o gerente de empresa de segurança Leonardo Jaques, 34, e a estudante de psicologia Anna Laura Hidalgo, 19, não escondiam o semblante de entusiasmo pela primeira vez no sambódromo.
Moradores de Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital, eles não quiseram saber de correr risco e chegaram cedo, mais de quatro horas antes de o desfile começar.
"Estamos com uma expectativa grande", afirmou a jovem. Corintianos, os dois iriam torcer pela Gaviões da Fiel.
A segunda noite de desfiles começa neste sábado, às 22h30, com a apresentação da Estrela do Terceiro Milênio, escola da zona sul paulistana, que subiu do ano passado ao Grupo Especial.
Mas é o miolo do desfile que irá reunir, em sequência, 3 das 4 agremiações que empataram no primeiro lugar no ano passado ?a Mancha Verde foi declarada campeã em critério de desempate.
A atual vencedora do Carnaval entra na avenida à 0h40. Na sequência, desfilam Império de Casa Verde (1h45) e Mocidade Alegre (2h50). As três e a Tom Maior, que desfiaria na primeira noite, alcançaram 269,9 pontos em 2022.
"Se não viermos tão bem quanto a Mancha e não deixarmos a pista quente para a Mocidade, não ganhamos o título", afirma Rogério Figueira, o Tiguês, diretor de Carnaval da Império de Casa Verde, que aposta no samba-enredo da escola embalado por tambores afros.
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