SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando o barranco atrás do bloco de apartamentos desmoronou na madrugada do último domingo (18) no bairro Camburi, em São Sebastião (SP), a administradora Paula Deperon, 36, reviveu memórias de um outro feriado trágico. Há 13 anos, na virada de 2009 para 2010, ela estava hospeda em Ilha Grande, Angra dos Reis (RJ), onde um deslizamento na enseada do Bananal soterrou a pousada Sakay provocando 53 mortes.

"É desesperador porque a gente já passou por isso em Ilha Grande. A gente ficou lá quando caiu a pousada Sakay," disse ela à Folha nesta segunda-feira (20), pouco depois de sair do helicóptero do Exército Brasileiro que havia resgatado ela, o marido e o filho de dez meses do condomínio onde estavam. Não houve feridos no local.

Também em Camburi, a assistente de personal trainner Ligia Carla Samia, 49 anos, acordou com lama e galhos de árvores rompendo a janela do quarto onde estava. "Acordei meu irmão que estava na parte de baixo do apartamento e conseguimos sair, já com a água pela cintura", conta.

Enquanto a família deixava a base da Marinha, no centro histórico de São Sebastião, um helicóptero modelo Jaguar do Exército pousava. A aeronave trazia uma dezena de corpos retirados da Vila Sahy, área mais afetada pelo temporal. Das 40 mortes confirmadas, 39 ocorreram em São Sebastião. Estima-se que entre 35 e 40 pessoas estejam soterradas.

Assistindo ao desembarque de corpos envoltos em mortalhas pretas, a doméstica Marisa Sena Barbosa, 44, disse sentir uma mistura de tristeza e gratidão. Há quatro anos ela perdeu a casa em um deslizamento em Barequeçaba. Era 19 de maio de 2019. "Jamais vou me esquecer, era o aniversário de seis anos da minha fillha", contou. "Quando acordei, tinha uma cratera na frente de casa, mas nós conseguimos sair a tempo", disse. "É um presente de Deus nós estarmos aqui. Poderia ser a minha família nesses sacos pretos."

Sobrinha de Barbosa, Evelyn Sabino, 20, também perdeu a casa no deslizamento em Baraqueçaba. "Já aconteceu com nossa família. Acontece todo verão aqui no litoral", disse. Sabino explica que, na ocasião, um aviso da Defesa Civil chegou antes do desmoronamento. "Desta vez, não deu tempo."

A Prefeitura de São Sebastião informou que realiza trabalhos constantes de drenagem nas áreas atingidas pela chuva, mas, segundo a administração, não era possível prever um volume de água tão fora do comum como o ocorrido.


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